Esperanças para lutar
Nesta segunda-feira, 24 de maio, tem início a I Assembleia dos Povos Indígenas de Goiás e Tocantins, às 19h. No período da manhã, várias delegações já chegaram para montar acampamento no campus da Universidade Federal do Tocantins,
O espaço é uma oportunidade para reencontrar amigos e parentes, mas também para fazer reivindicações e compartilhar a luta com outros povos que, muitas vezes, vivem situações parecidas.
Juvenal Vieira Krahá, da T. I. Krahá, próximo ao município de Itacajaí, no Tocantins, fala das dificuldades que seu povo vem passando, mas que tem esperança de melhorar. "O que mais nos atinge é a dificuldade em relação ao atendimento à saúde e os grandes projetos que vão nos cercando, nos cercando até nos atingir", declara a liderança. Segundo ele, grandes plantações de soja vão chegando cada vez mais perto da terra indígena e os produtos utilizados nas plantações acabam poluindo as águas que seu povo usa. "Um exemplo é a Aldeia Nova, que o pessoal que tomava banho no rio perto das plantações de soja, de uma hora para outra começaram a ter alergias. A gente sabe que é por causa desses produtos que os fazendeiros jogam nas plantações", afirma.
A situação descrita por Juvenal é um fator que pode agravar situações ruins já vividas em relação à doenças na comunidade e a falta de atendimento pela Funasa. "A Funasa é muito lenta. Nós não temos carro disponível para buscar as pessoas doentes e quando temos, é sempre carro que logo está estragando. Outro problema grave é a falta de médico. Nós já pedimos várias e várias vezes um médico para atender às nossas comunidades, mas não temos. Até na cidade de Itacajaí é complicado, pois o médico lá só aparece dia sim, dia não", conta. De acordo com Juvenal, a falta de acompanhamento médico está causando também a morte de crianças recém-nascidas ou mesmo a morte delas ainda no útero da mãe. "Não há exames de pré-natal e as mulheres sofrem muito com isso. Sempre que procuramos ajuda, os órgãos inventam desculpas e nada melhora", desabafa.
Juvenal acredita que a construção de estradas melhores, que levam às aldeias, também melhoraria a situação. "As estradas que temos hoje, nem todo carro consegue passar. Assim fica complicado até se a gente conseguir médico, pois como ele vai fazer para chegar lá?", questiona.
Mas o líder Krahá ainda tem esperanças e acredita que as coisas podem mudar para melhor. "Já fizemos muita reunião aqui e na maioria das vezes, de nada adiantou, mas não podemos baixar a cabeça e parar de lutar. Temos que seguir em frente, porque se a gente não lutar, quem vai fazer, né?". Ele espera que a Assembleia seja um local de trocas de experiências, desabafos e um ponto de partida para conseguir as vitórias que seu povo precisa.
Maíra Heinen
De Palmas