Renasce Kurusu Ambá
As crianças correm e brincam livres e alegres. As pequenas clareiras em meio à mata se tornaram parques de diversão e refúgio de plantações de milho, mandioca, abobora, feijão. O córrego corre limpo por entre as árvores. Em vários lugares a água brota como uma benção da terra. As “minas” saciam a sede de umas duas centenas de Kaiowá Guarani de Kurusu Ambá. A vida borbulha e se arrasta nas dezenas de “trilheiros” que vão ao rio, à roça, à mina. Partem dos ranchos de sapé, ainda cheirando a novo e secando ao sol ou na sombra das árvores que os abrigam. É bonito ver a aldeia escondida na mata. É esperançoso e gratificante ver a teimosia e sabedoria guerreira fazer renascer a vida e o “teko” (jeito de viver ) Guarani
Já do outro lado, um mundo de terra pelada se estende ao horizonte a perder de vista. É a lavoura e seus donos “sojeiros” proclamando-se vencedores, pois conseguiram destruir a mata, sugam e destroem o solo, engordando contas bancarias e animais pelo mundo afora. É o modelo de produção, proclamado como progresso, baseado na monocultura extensiva, mecanizada. É o pé pesado no acelerador de potentes máquinas apoiadas pelo PAC (Programa de Aceleração do Crescimento).
Muita reza e luta
Para o dia 26 de abril estava previsto o despejo da comunidade de Kurusu Ambá. Nas três vezes anteriores foram expulsos pelos pistoleiros. Deste vez, seriam removidos legalmente pela polícia federal, que já estivera no local fazendo o levantamento técnico necessário para execução do mandado. Mas havia um agravo no Tribunal Regional Federal, 3ª. Região,
Ao meio dia a informação de que a reintegração teria sido mantida pela justiça. Apesar de tudo, continuava também mantida o Jeroky Guasu, na fronteira do Brasil com o Paraguai, no sul do Mato Grosso do Sul. Depois de algumas horas o alívio. O juiz-desembargador Silvio havia considerado justo o pleito do Ministério Público Federal, concedendo 90 dias para que a FUNAI desse os encaminhamentos legais necessários para a definição da terra indígena. Suspiro. Tempo precioso para exigir do governo federal que cumpra a Constituição e regularize a terra indígena.
Omissões e cobranças
Foram dias de muita celebração, da vida, da vitória, da memória. Afinal de contas mais de uma centena de lideranças religiosas e políticas, adultos e crianças chegaram a Kurusu Ambá. A Jeroky Guasu foi também um momento de se animarem na luta pelos direitos do povo Guarani e de denuncia forte das violências a que estão submetidos e omissões dos órgãos que deveriam estar resolvendo os problemas, especialmente da demarcação das terras.
Dois dias antes do Jeroky Guasu, o recém criado Conselho da Aty Guasu, cujo objetivo principal é articular a luta pela terra e direitos Kaiowá Guarani, estivera reunido
Egon Heck – Coordenador Cimi Regional MS