Informe nº 902: CNBB manifesta apoio a Dom Erwin Kräutler e às entidades que lutam contra construção de Belo Monte
Durante coletiva de imprensa na tarde de hoje (25), a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) manifestou apoio aos bispos do Regional Norte II (Estados do Pará e Amapá), em especial ao bispo da Prelazia do Xingu e presidente do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), Dom Erwin Kräutler, e suas lutas contra a construção da hidrelétrica de Belo Monte, no rio Xingu (PA). A coletiva reforça apoio emitido em nota divulgada hoje pela manhã.
A CNBB acompanha os passos dados até o momento para a realização da obra e se mostra preocupada ao saber da licença prévia para a construção da usina, concedida pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) no início do mês.
Falaram em nome da Conferência, o arcebispo geral de Mariana e presidente da CNBB, Dom Geraldo Lyrio Rocha, e o secretário geral Dom Dimas Lara Barbosa. Para ambos, o projeto da usina de Belo Monte é preocupante, pois não leva em consideração as queixas das populações que serão atingidas diretamente pela barragem. “Belo Monte é emblemática visto que o processo não levou em conta os povos indígenas, os ribeirinhos e os que residem em bairros de Altamira, que serão certamente os primeiros prejudicados”.
A CNBB aponta ainda como grave o fato de que pareceres de técnicos e do próprio Ministério Público Federal não foram levados em consideração. A previsão é de que com a construção da usina 1522km2 sejam destruídos, sendo 516km² de área inundada e 1006km² de área que secará com o desvio definitivo da Volta Grande do Xingu. Milhares de famílias da cidade de Altamira e das áreas ribeirinhas e indígenas serão desalojadas.
O apoio da Conferência tem por objetivo chamar atenção da opinião pública e sensibilizar a população para que debatam a questão. Além disso, a CNBB espera que as autoridades tomem providências para que não tenha início a execução do projeto antes que as pessoas diretamente atingidas sejam ouvidas e tenham suas considerações e direitos respeitados.
“Almejamos em nosso país um desenvolvimento que tenha por base o respeito à vida, a participação efetiva das pessoas na discussão e decisão dos projetos e a garantia de que serão realmente beneficiadas, sem graves impactos prejudiciais à vida do povo e ao meio ambiente. Não é possível apoiar processos que ameaçam a vida de comunidades tradicionais e de outros habitantes da região e agridem, desrespeitam e destroem o meio ambiente”, declarou a CNBB.
Celebração
Ainda na manhã de hoje, aconteceu na sede da CNBB a missa dos parlamentares. Durante a celebração, o bispo de Santarém (PA), dom Esmeraldo Barreto de Farias, convidou os parlamentares a rezarem pela população do Xingu, região em que será construída a hidrelétrica de Belo Monte. De acordo com ele, a população está sofrendo com a publicação da licença prévia, o que garante o leilão para início da obra. “Peço a vocês que, em oração, lembrem-se do povo do Xingu, que está sofrendo e vai sofrer ainda mais com as obras da usina hidrelétrica de Belo Monte. Nós, que moramos mais próximos, sabemos o que vai acontecer naquela região quando a usina começar suas atividades", lamentou o bispo.
Dom Esmeraldo também ressaltou que outro fato lamentável são as previsões de construção de mais cinco hidrelétricas no Rio Tapajós. "Belo Monte é apenas o início. Para o Pará, ainda há previsão da construção de mais cinco usinas hidrelétricas que vão mudar a vida de muitas pessoas da região", sublinhou.
Outros temas
Durante a coletiva, a CNBB ainda manifestou apoio aos trabalhos de reconstrução do Haiti. “É preciso reconstruir muita coisa, não somente as casas ou a vida da população. Precisamos unir forças para reconstruir, inclusive, a própria igreja e o trabalho missionário no país”, afirmou Dom Dimas. Em março está programada uma reunião com todos os secretários gerais da América para a formulação de um sistema de ajuda, em todos os âmbitos, ao povo haitiano.
Os bispos também manifestaram apoio à Confederação Brasileira dos Aposentados (Cobap). Para atender à solicitação de ajuda por parte da entidade, a CNBB criou um Grupo de Trabalho, que produziu nota técnica sobre a Correção de Perdas dos Aposentados e também revisão da Lei do Fator Previdenciário.
Crise política
No momento de abertura às perguntas, os bispos foram surpreendidos por perguntas referentes à crise política no Distrito Federal. De acordo com eles, a CNBB se posiciona de maneira ética e não política ou jurídica em relação à situação. “Toda essa crise traz um desgaste enorme para o próprio processo político brasileiro, as instituições perdem credibilidade e isso é péssimo para o exercício da cidadania”, declarou Dom Dimas.
Dom Geraldo foi enfático ao dizer que Brasília não merecia comemorar seus 50 anos em meio a esse caos. “Essa situação é inadmissível e nos envergonha muito, tanto nacionalmente quanto diante da comunidade internacional”, afirmou.