Hepatite B faz nova vítima em Guajará-Mirim
Em menos de dois anos, quatros óbitos já foram registrados na região. Para a comunidade, há morosidade no atendimento prestado pela Funasa.
A Hepatite B faz a quarta vítima, em menos de dois anos, na região de Guajará-Mirim,
De acordo com a acompanhante da vítima, houve falta de assistência no alívio das dores, tanto no pronto socorro do Hospital João Paulo II como na Casa de Saúde Indígena de Porto Velho (CASAI). A paciente estava muito amarela, com a barriga distendida (inchada), dores abdominais intensas e chegou a ter vômitos com sangue. Segundo informação da enfermagem do Pronto Socorro do Hospital João Paulo II, a paciente veio encaminhada da CASAI de Guajará-Mirim com “problema de vesícula”.
A Funasa confirma o diagnóstico da Casa de Saúde, embora tenha conhecimento de que a vitima era portadora do vírus há alguns anos. Nos casos de óbitos que ocorrem por complicações da hepatite B, seja cirrose e/ou câncer primitivo do fígado, a Fundação nega o diagnóstico, referindo-se somente ao disposto no atestado de óbito, onde geralmente consta como causa da morte “choque hipovolêmico” ou “parada cardiovascular”.
Um agravante aos pacientes com quadro de Hepatite na região é o péssimo atendimento hospitalar. O pronto socorro está sempre superlotado e os pacientes, independente da gravidade da doença, permanecem, por dias, deitados
Histórico
De 2008 para cá, somente no Pólo-Base de Guajará-Mirim, onde vivem cerca de cinco mil indígenas, quatro pessoas morreram em decorrência de complicações causadas pela doença. No entanto, desde 1994, ano em que houve um surto de Hepatite B e delta na região, a doença já fez 13 vítimas.
Inquérito
Entre 1994 e 2005, com a notificação de 40 casos positivos da doença e o óbito de nove pessoas, a FUNASA realizou um inquérito com o objetivo de identificar os portadores de Hepatite B e C, bem como fazer um acompanhamento semestral dessas pessoas e iniciar tratamentos para evitar, assim, complicações que pudessem evoluir para um quadro fatal.
No entanto, o inquérito foi encerrado em 2009 com uma série de atrasos e omissões por parte da Fundação: atraso na realização do diagnóstico e entrega dos resultados de exames aos indígenas; falhas no encaminhamento dos casos positivos para consulta especializada e exames e também no retorno desses pacientes.
Aldeias como a do Rio Sotério, que participaram do inquérito em setembro de 2005, só receberam os resultados em agosto de 2007. Os casos positivos, por sua vez, só fizeram consultas e exames entre junho e setembro de 2008, não tendo ainda recebido os resultados. Continuam, portanto, sem saber se a doença está evoluindo ou não. Nos casos em que o vírus está se multiplicando, os pacientes não estão recebendo o tratamento adequado, com freqüentes atrasos no atendimento.
O atendimento especializado tem sido realizado pela equipe Dr. Juan, do Centro de Pesquisa em Malária (CEPEM), que atua no Hospital CEMETRON
Respostas
Quando questionada sobre o motivo do atraso na entrega dos resultados, a FUNASA diz que o Laboratório Central-LACEN
O fato é que esse atraso não traz prejuízos somente aos pacientes como também à notificação dos casos positivos. De acordo com o Núcleo de Vigilância Sanitária do município (NUVEPA), só podem ser notificados os resultados num prazo de 180 dias a partir da data da coleta.
As hepatites B e C, endêmicas na Amazônia, não são exclusivas dos indígenas e fazem vítimas principalmente em área rural ou ribeirinha. No final do ano passado, um senhor do município de Guajará-Mirim, lamentava a perca de seu filho de 11 anos, portador da hepatite B, que naqueles dias havia falecido num quadro de cirrose.
A FUNASA prefere manter sob sigilo o número de casos de hepatite B. Entretanto, o CIMI busca denunciar a omissão em relação ao atendimento que deveria ser prestado a esses pacientes e não somente o número de casos. Esse descaso fere recomendações do próprio Ministério da Saúde, que indica a realização de consulta especializada exames específicos de seis em seis meses.