Luzes e Forças Migrantes
A mobilidade é uma das características que marcam os povos indígenas no continente, incluindo as ilhas do Caribe. As migrações se constituem como elementos de sua organização social, econômica e política. São entendidos através de seus mitos e celebrados em seus rituais. As migrações fazem parte da dinâmica vivencial e estratégias de sobrevivência, fortalecimento e coesão dos povos originários.
Porém, o que hoje vemos com as migrações forçadas, induzidas ou estimuladas, são agressão ou intervenção na vida, cultura e sobrevivência das comunidades. As invasões dos seus territórios e a destruição da natureza e deterioração do meio ambiente, não apenas impedem a mobilidade dos povos, como os empurram para espaços cada vez menores, espécies de confinamentos ou os expulsam para as cidades, onde se tornam invisíveis e muitas vezes rechaçados por sua diferença étnica. As conseqüências desse processo são etnocidas, pois vão minando as culturas, jogando-as em perigosos processos de destruição étnica e cultural. Mesmo assim, podemos sentir em meio a tais contradições, sinais de resistência que são como sementes de esperança a iluminar nas sombras da realidade.
Neste quadro complexo da realidade atual dos povos indígenas, os participantes do encontro buscaram luzes e forças que vêm de seus mitos, ritos, espiritualidade e sabedoria dos diferentes povos. As exposições e encenações têm enriquecido a todos e mostram que existe uma dinâmica de resistência e reconstrução dessas culturas e propostas de futuro. Isto fortalece a esperança de um novo mundo possível com os povos indígenas.
A vida como peregrinação
A vida é um peregrinar pelos espaços da mãe terra, nas energias do universo. A ida ao santuário de Nossa Senhora da Candelária nos aproximou ainda mais da população da região que tem neste espaço um lugar de especial significado em sua religiosidade e vida. Foi ali que Oscar Romero, ainda como padre, realizou importante trabalho de proteção e apoio à população pobre da região. É para este espaço que vem milhares de pessoas de El Salvador e países da mesoamerica, expressar sua devoção e buscar forças para suas vidas.
No alto da montanha, podendo ser avistado pelo mar pacífico, Jucuarán, é hoje uma pequena cidade de um pouco mais de mil habitantes, mas que recebe milhares de romeiros que ali vem alimentar sua fé, cumprir promessas ou pedir graças. O santuário iniciado há décadas continua inacabado, pois como explicam, ele tem sido construído basicamente pelas pequenas ajudas dos que migraram para os Estados Unidos.
A peregrinação e as centenas de velas acesas bem como o ver e tocar as águas e energias do mar trouxeram mais entusiasmo e animação aos participantes do Encontro.
Para o pároco de Berlin, Candido, que completou seus 56 anos durante este encontro “algo novo está acontecendo aqui. Vai com certeza deixar uma forte mensagem, que vai se traduzir na formação de um grupo que já está se constituindo”. Falou que a alegria com que a população tem recebido os participantes será sem dúvida um estímulo para começar um trabalho na dimensão da temática que aqui está sendo aprofundada.
Egon Dionisio Heck
Berlin,El Salvador, 2 de dezembro de 2009
Articulação Ecumênica Latinoamericana de Pastoral Indígena – AELAPI