14/04/2025

Jovens indígenas em contexto urbano de Manaus se encontram para debater comunicação e mídias sociais

A oficina contou com 32 jovens de 11 comunidades indígenas dos povos Sateré Mawé, Mura, Kokama, Kambeba, Miranha, Apurinã e Munduruku que vivem em Manaus

A Oficina "Juventude Indígena e as Mídias Sociais no Contexto Urbano" contou com 32 jovens de onze comunidades indígenas. Foto: Arlisson Farias

A Oficina “Juventude Indígena e as Mídias Sociais no Contexto Urbano” contou com 32 jovens de onze comunidades indígenas. Foto: Arlisson Farias

Por Lígia Apel, Assessoria de Comunicação Cimi Regional Norte 1

“A gente pôde conversar em grupo, trocar ideias e pensar juntos sobre temas importantes. Isso me fez refletir sobre como a comunicação pode ser uma ferramenta poderosa se for pensada a partir das nossas vivências”, avaliou Israel Sateré Mawé, de 16 anos, sobre a Oficina “Juventude Indígena e as Mídias Sociais no Contexto Urbano”, realizada no dia 08 de abril, no auditório Mãe Paula, da Cúria, em Manaus.

A iniciativa é da Cáritas Arquidiocesana de Manaus em parceria com o Conselho Indigenista Missionário (Cimi), Regional Norte 1. O objetivo de trabalhar comunicação e mídias sociais com a juventude indígena urbana é fortalecer os processos comunicativos inerentes à juventude que, em tempos de tecnologia, domina as técnicas das mídias, mas precisa fortalecer seu olhar crítico sobre a realidade da sociedade que se vive e as culturas que existem e subsistem, para que não sucumbem diante de um sistema que subjuga as minorias sociais.

“A gente pôde conversar em grupo, trocar ideias e pensar juntos sobre temas importantes”

A atividade reuniu 32 jovens de onze comunidades indígenas dos povos Sateré Mawé, Mura, Kokama, Kambeba, Miranha, Apurinã e Munduruku, nascidos na cidade de Manaus, que compartilharam seus sonhos, problemas, desejos, conquistas e a força da sua identidade indígena.

“A comunicação dos povos indígenas a partir da realidade das comunidades, permitindo que eles produzam suas próprias narrativas e informações contribui para a preservação da cultura e defesa de seus direitos”, considera a coordenadora executiva da Cáritas Arquidiocesana de Manaus, Daniele Rodrigues da Silva.

“A comunicação dos povos a partir da realidade das comunidades permite a produção de suas próprias narrativas”

A Oficina "Juventude Indígena e as Mídias Sociais no Contexto Urbano" contou com 32 jovens de onze comunidades indígenas. Foto: Kissiane Lopes

A Oficina “Juventude Indígena e as Mídias Sociais no Contexto Urbano” contou com 32 jovens de onze comunidades indígenas. Foto: Kissiane Lopes

“É fundamental pensar junto com eles, apresentar soluções que contribuam para seu crescimento”, ponderou, referindo-se ao tema das mídias sociais como opção da juventude para a juventude, e que, utilizando-as com sabedoria, conquistam autonomia para a comunidade.

“Esse tema de mídias sociais foi escolhido porque é uma demanda das comunidades para os jovens. É um tema que permite aos jovens compartilhem as suas histórias e incidam na defesa dos seus direitos. Eles podem utilizar as mídias sociais para chamar a atenção para as questões que afetam as suas comunidades e, a partir disso, cobrar ações dos governantes, das instituições, contando as suas próprias histórias, as suas perspectivas, em vez de ficar dependendo de outras pessoas para que façam esse trabalho”.

“Esse tema de mídias sociais foi escolhido porque é uma demanda das comunidades para os jovens”

A coordenadora também observou que a Caritas percebe a importância das mídias sociais na vida dos jovens e que oficinas com troca de saberes sobre o tema são um caminho para estar junto com eles.

“As mídias sociais, hoje em dia, fazem parte da vida desses jovens. E, na oficina, a ideia é fazer com que eles usem isso ao seu favor, para benefício de suas famílias, da própria comunidade. Essa oficina foi um passo importante e a gente pretende dar continuidade, porque a Caritas está comprometida em continuar apoiando e empoderando esses jovens para que eles possam continuar fazendo bons trabalhos, principalmente nas suas comunidades. E que essa e outras formações que virão façam a diferença e possam impactar positivamente na comunidade de cada um”, celebrou a coordenadora.

“As mídias sociais, hoje em dia, fazem parte da vida desses jovens”

A Oficina "Juventude Indígena e as Mídias Sociais no Contexto Urbano" contou com 32 jovens de onze comunidades indígenas. Foto: Ligia Apel | Cimi Regional Norte 1

A Oficina “Juventude Indígena e as Mídias Sociais no Contexto Urbano” contou com 32 jovens de onze comunidades indígenas. Foto: Ligia Apel | Cimi Regional Norte 1

Beatriz Kokama, de 19 anos, da Associação Unindo Etnia (AUE), diz que a oficina trouxe aprendizados importantes, mas que também trouxe encontros e reencontros.

“Eu achei a oficina maravilhosa, aprendi coisas que eu não sabia e reforcei outras que já sabia. Foi bom conhecer pessoas novas, parentes [indígenas]. Essa foi uma das minhas expectativas pelo encontro e que aconteceu de verdade. Também, encontrei algumas pessoas que eu já conhecia e que nunca mais tinha encontrado. E lá a gente se encontrou, foi muito bom. Eu creio que cada um saiu aprendendo um pouco mais do que já sabia sobre comunicação”, atestou, mostrando que a comunicação é uma atividade humana que “realizamos o tempo todo”.

“Eu achei a oficina maravilhosa, aprendi coisas que eu não sabia e reforcei outras que já sabia”

Israel Sateré Mawé, de 16 anos, da Juventude Sateré Mawé do bairro da Paz e comunidade indígena Waikiru (AM), comentou que o tema, comunicação e mídias sociais, despertou o interesse da juventude para fortalecer a cultura, a comunidade e sua identidade.

“Achei legal ver como todo mundo estava envolvido, querendo entender mais sobre como a gente pode usar as redes sociais a favor da nossa luta, da nossa cultura e das nossas comunidades”, pontuou o jovem indígena. Os vídeos indígenas e os trabalhos em grupo mostraram como a comunicação pode unir e fortalecer identidades, relata Israel.

“Achei legal ver como todo mundo estava envolvido, querendo entender mais sobre o tema”

A Oficina "Juventude Indígena e as Mídias Sociais no Contexto Urbano" contou com 32 jovens de onze comunidades indígenas. Foto: Ligia Apel | Cimi Regional Norte 1

A Oficina “Juventude Indígena e as Mídias Sociais no Contexto Urbano” contou com 32 jovens de onze comunidades indígenas. Foto: Ligia Apel | Cimi Regional Norte 1

“Gostei bastante de várias partes do encontro, principalmente dos vídeos e do momento em que a gente pôde conversar em grupo, trocar ideias e pensar juntos sobre temas indígenas importantes. Isso me fez refletir sobre como a comunicação pode ser uma ferramenta poderosa se for pensada a partir das nossas vivências, do nosso jeito de ser enquanto povos indígenas”, concluiu.

Para Gilmara Fernandes, coordenadora do Cimi Regional Norte 1, a oficina foi um momento de encontro para o fortalecimento mútuo dos jovens indígenas. “Mais do que tudo,  foi um momento de encontro, na intenção de que esses jovens pudessem se conhecer, falar de suas experiências, falar de suas potencialidades e falar dos seus anseios com as mídias sociais, um para o outro, para que possam falar quem são, aonde estão, como vivem e como é viver em um grande centro urbano sendo indígena, continuar com sua identidade e cultura”, explicou. Ela também salientou o empoderados dos jovens na atuação em defesa de seus direitos enquanto cidadãos que vivem em um grande centro urbano e que “falem da sua diversidade e cultura como uma riqueza muito grande”, ressaltou Gilmara

“É uma oportunidade de falem da sua diversidade e cultura como uma riqueza muito grande”

A coordenadora explica ainda que o Cimi Regional Norte 1 atua há muitos anos em comunicação comunitária indígena em territórios de floresta. “O Cimi vem realizando de longa data essa experiência de comunicadores indígenas nos territórios indígenas [da floresta], nos estados de Roraima e Amazonas”, explica. Na oportunidade, Gilmara ainda trouxe a colaboração do jornalista e educador popular José Rocha, uma das vítimas da pandemia de Covid-19 e que deixou um legado importante no fortalecimento da juventude da identidade indígena.

“Hoje, essa oficina em parceira com a Cáritas, traz o legado do companheiro Rocha com experiências novas, com muita partilha, com muita riqueza. A troca de saberes só vem fortalecer a experiência junto com a Cáritas da Arquidiocese de Manaus”, reforça Gilmara. Os indígenas em contexto urbano são uma prioridade do regional e “vamos estar presente, fortalecendo as iniciativas das organizações e comunidades indígenas que vivem em Manaus e no seu entorno”, concluiu.

“Essa oficina traz o legado do companheiro Rocha com experiências novas, com muita partilha, com muita riqueza”

A Oficina "Juventude Indígena e as Mídias Sociais no Contexto Urbano" contou com 32 jovens de onze comunidades. Foto: Kissiane Lopes

A Oficina “Juventude Indígena e as Mídias Sociais no Contexto Urbano” contou com 32 jovens de onze comunidades. Foto: Kissiane Lopes

Todos os participantes se animaram com a proposta de construir uma Rede de Comunicadores Indígenas em Contexto Urbano. Um próximo encontro foi agendado para planejar ações e atividades conjuntas.

Ao final das atividades, os jovens deixaram uma mensagem de apoio aos parentes que estavam no Acampamento Terra Livre em Brasília, de 7 a 11 de abril, e ecoaram sua voz: “Não ao Marco Temporal”.

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