Conselho de Caciques Pataxó contabiliza violência policial, lista 14 detidos e um total de 25 desaparecidos
Aos menos seis aldeias foram invadidas pelas policias civil e militar. Caso mais grave ocorreu na aldeia Vale da Palmeira, onde seis foram presos e um indígena acabou baleado

Cerca de 20 viaturas, helicóptero, soldados fortemente armados e homens sem fardas realizaram batidas em ao menos seis aldeias da TI Barra Velha. Foto: Reprodução/Vídeo Comunidade Pataxó
O Conselho de Caciques Pataxó conseguiu levantar uma lista com ao menos 14 indígenas levados presos nesta quinta-feira (20) pelas polícias civil e militar durante operação para cumprir doze mandados de prisão e sete de busca e apreensão na Terra Indígena (TI) Barra Velha, no extremo-sul da Bahia. De acordo com o Conselho de Caciques, a lista não foi entregue pela polícia assim como quaisquer informações relativas às detenções.
O que os Pataxó descobriram é que os presos foram levados para o município de Teixeira de Freitas. No final da tarde, cinco indígenas foram soltos. “Só que no total temos uma lista com 25 indígenas desaparecidos: nove deles estão na lista dos presos e o restante não sabemos de nada. Se foram presos ou o quê”, explica uma liderança do Conselho de Caciques não identificado por motivos de segurança.
No total, conforme o Conselho de Caciques, a polícia prendeu indígenas nas aldeias Vale da Palmeira, Vale da Seriema, Corumbalzinho, Encantada, Nova e Pé do Monte Pascoal. Também nessas aldeias foram contabilizados os indígenas desaparecidos.
A situação mais grave foi registrada na aldeia Vale da Palmeira. Seis indígenas foram levados presos, um indígena foi baleado e outros estão desaparecidos. Mulheres e crianças precisaram fugir para a mata diante da violência empregada pelos policiais.
“O governo federal precisa assinar a Portaria Declaratória (…) para tirar fazendeiro, grileiro e miliciano de dentro do nosso território”, diz liderança
Junto aos órgãos federais, o Conselho de Caciques pede auxílio para saber onde exatamente estão os presos. “Assim podemos verificar quem dos desaparecidos estão presos e também evitar que a polícia torture e espanque quem foi levado”, destaca a liderança do Conselho de Caciques.
“Tememos o horário da noite. Tinham muitos homens sem farda, mascarados. Sabemos que são os fazendeiros e os pistoleiros. O que nos foi passado é que a operação está programada para durar 72 horas. Então eles podem justificar uma ronda para atacar à noite”, diz.
” O que nos foi passado é que a operação está programada para durar 72 horas. Então eles podem justificar uma ronda para atacar à noite”
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Conselho reforça pedido feito ao governo federal
Para o Conselho de Caciques Pataxó, é urgente que o governo federal, “o ministro da Justiça, da Casa Civil, que o governo publique a Portaria Declaratória. Nada mais impede. O governo precisa publicar essa portaria ou vão acabar com a gente aqui. São 52 mil hectares, todo o processo foi feito, só está esperando a publicação para tirar grileiro, fazendeiro e miliciano de dentro do nosso território”, pede.
Na semana passada, as lideranças Pataxó e Tupinambá foram recebidas pelo ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, a quem reivindicaram a assinatura das portarias de suas terras. O ministro informou que o governo federal não emitirá novas portarias enquanto o Supremo Tribunal Federal (STF) não analisar a constitucionalidade da lei 14.701/2023, a “lei do marco temporal”. Segundo Lewandowski, a vigência da lei tornaria novos atos de demarcação inseguros.