Sepé Tiaraju hoje
Sepé Tiaraju se refaz por dentro do tempo, como se cavalgasse nele, apontando a direção da Terra Sem Mal. Homenagem de Roberto Liebgott por ocasião dos 269 anos do assassinato de Sepé
![Detalhe do memorial da Epopeia Riograndense, em Porto Alegre (RS), de autoria de Danúbio Gonçalves. Foto: Eugenio Hansen](https://cimi.org.br/wp-content/uploads/2019/02/SepeTiaraju-1.jpg)
Detalhe do memorial da Epopeia Riograndense, em Porto Alegre (RS), de autoria de Danúbio Gonçalves. Foto: Eugenio Hansen
Memórias infindas renascem e sempre retornam como a Luz do Sol no romper do amanhecer, instante em que as estrelas se despedem, propiciando o raiar de um outro dia.
De novo, Sepé Tiaraju ressurge e se refaz por dentro do tempo, como se cavalgasse nele, apontando a direção da Terra Sem Mal, dos caminhos da Justiça e do Bem Viver.
Sepé Tiaraju, hoje, se reapresenta aos povos, não os abandona, insere-se aos ritos, aos cantos, à fumaça do petyngua, aos batismos das sementes – Nhemongarai – que darão nomes aos guerreiros e às guerreiras – xondaros – que nascem e crescerão.
De novo, Sepé Tiaraju abranda as dores, faz sonhar a purificação do ambiente, dá sentido às palavras antigas – dos anciãos e das anciãs –, mas não deixa de cativar e estimular os e as jovens sobre as espiritualidades, as tradições, as culturas e os modos de ser e viver.
Sepé Tiaraju rompe as amarras, sacode os temores, enaltece as lutas, mesmo na precariedade, na exclusão das margens de rodovias, parques e fazendas, porque esperançar é o verbo a ser conjugado dia após dia.
E, mais uma vez, Sepé Tiaraju eleva seu brado: Alto Lá, ministros, parlamentares e governantes, representantes do Estado, porque esta Terra tem originários donos, os filhos e filhas dos ancestrais, desde antes dos colonizadores, ruralistas e mineradores.
Sepé Tiaraju inspira as lutas, consola os cansados, fortalece as mulheres e homens que, como ele, dedicam-se à defesa da Mãe Terra e toda a natureza, tão cruelmente atacada, vilipendiados os seus biomas, consumidos e devastados por uma ambição descomunal.
Sepé Tiaraju repudia os egoístas, insensatos e desumanizados brancos – jurua –, a quem lhes diz, em alto e bom som: não ao marco temporal, respeitem a Constituição Federal e procedam às demarcações, do sul ao norte, de todas as terras indígenas.
Porto Alegre (RS), 07 de fevereiro de 2025, dia de Sepé Tiaraju e quando se completam 269 anos de seu assassinato pelos invasores espanhóis e portugueses.