“Ela não teve chance de chegar no hospital”: jovem Avá-Guarani é assassinada em território alvo de ataques no Paraná
Jessicléia Martins, de apenas 17 anos, foi morta dentro de sua casa na Terra Indígena Tekoha Guasu Guavirá; território tem sido alvo de sucessivos ataques

Jessicléia Martins, do povo Avá-Guarani, de apenas 17 anos, foi assassinada a facadas dentro da TI Guasu Guavirá, alvo de ataques constantes. Foto: comunidade tekoha Yvy Okaju
No início da noite de ontem (20), Jessicléia Martins, uma jovem do povo Avá-Guarani, de apenas 17 anos, foi assassinada a facadas dentro de seu território, no tekoha Yvy Okaju, localizado dentro da Terra Indígena (TI) Tekoha Guasu Guavirá, no município de Guaíra, no oeste do Paraná́.
Segundo relatos, o suspeito do feminicídio, um homem não indígena de 67 anos, teria invadido sua casa e a agredido a facadas. O homem tentou fugir, mas foi preso.
“Ele estava parado na frente da casa dela há uns 20 minutos observando e desceu do carro quando ela estava sozinha com uma faca na mão”
Testemunhas afirmam que Jessicléia vinha, há alguns meses, sendo assediada pelo suspeito, que se dizia amigo da família. A jovem, no entanto, negava-se a manter qualquer tipo de relacionamento afetivo com ele, o que teria motivado o crime.
“Ele estava parado na frente da casa dela há uns 20 minutos observando e desceu do carro quando ela estava sozinha com uma faca na mão”, conta uma das testemunhas que não será identificada nesta matéria por motivos de segurança.
“Ela não teve chance de chegar no hospital. Ela só teve a chance de dar dois gritos de socorro, um pedido para ele parar de esfaqueá-la”
A comunidade solicitou atendimento à vítima, que após cerca de 30 minutos foi assistida pelo Samu. Jessicléia, no entanto, não resistiu e morreu.
“Ela não teve chance de chegar no hospital. Ela só teve a chance de dar dois gritos de socorro, um pedido para ele parar de esfaqueá-la. Ela tentou se defender. A mão dela estava totalmente destruída, porque provavelmente ela pegou a faca, mas ele puxou da mão dela e destruiu parte da mão. Ela foi covardemente assassinada dentro de sua própria casa”, relatou a testemunha.
“O racismo, associado à misoginia e ao machismo, compõem o cotidiano dessas comunidades”
Localizado dentro da TI Tekoha Guasu Guavirá, o tekoha Yvy Okaju, onde vivia Jessicléia, tem sido alvo de constantes ataques de fazendeiros locais. O último ocorreu no dia 31 de dezembro do ano passado.
A situação de conflito na região, gerada pela falta de providência do Estado no processo de demarcação do território, tem exposto a comunidade indígena às mais diversas formas de violência. “O racismo, associado à misoginia e ao machismo, compõem o cotidiano dessas comunidades onde a lógica é eliminar o outro através do abuso, do assédio, da exploração sexual e da morte mais cruel”, afirmaram os missionários do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) Regional Sul que acompanham os conflitos na região.