25/10/2024

Fórum das Águas no Amazonas divulga Carta com alerta para os riscos de colapso dos biomas brasileiros

Mais de 30 organizações da sociedade civil alertam para os impactos devastadores que as políticas antiambientais podem ocasionar aos biomas amazônicos e do Pantanal

Rio Purus, em Lábrea (AM), afetado pela seca extrema e encoberto de fumaça devido as queimadas descontroladas, registro de agosto, 2024. Foto: Ligia Apel | Cimi Regional Norte 1

Rio Purus, em Lábrea (AM), afetado pela seca extrema e encoberto de fumaça devido as queimadas descontroladas, registro de agosto, 2024. Foto: Ligia Apel | Cimi Regional Norte 1

Por Lígia Apel, Assessoria de Comunicação Cimi Regional Norte I

“A Amazônia e o Pantanal, biomas essenciais à vida do Planeta, estão à beira do colapso. As regiões sofrem impactos devastadores sobre a biodiversidade, os serviços ecossistêmicos e as populações humanas, especialmente entre os grupos sociais mais vulneráveis”, afirmam as mais de 30 organizações da sociedade civil que integram o Fórum das Águas no Amazonas em Carta à sociedade e tomadores de decisão, lançada nesse mês de outubro de 2024.

Segundo a Carta, “dados recentes do MapBiomas revelam uma retração alarmante na superfície de água desses biomas. A Amazônia, que concentra mais da metade da água superficial do Brasil, perdeu 3,3 milhões de hectares de superfície de água em 2023, em comparação ao ano anterior. O Pantanal, por sua vez, enfrenta uma das piores secas da história, com uma redução de 61% da sua superfície de água em relação à média histórica, resultando em apenas 2,6% de seu território coberto por água”.

“A Amazônia e o Pantanal, biomas essenciais à vida do Planeta, estão à beira do colapso”

Diante desse quadro, o Fórum chama a atenção para as políticas ambientais adotadas pelo Estado brasileiro que, ao contrário de proteger, avançam severamente sobre o meio ambiente: “a perda dramática de água está diretamente ligada a políticas e agendas antiambientais que produzem desmatamento e queimada em larga escala e intensificam o avanço das mudanças climáticas”, afirmam as organizações. Também apresentam os diversos e sérios impactos dos chamados ‘projetos desenvolvimentistas planejados’ que estão sendo realizados com investimentos públicos e privados bem elevados, causando sérias consequências aos biomas e às populações não só da Amazônia, mas de todo o Brasil e América Latina.

A abertura e pavimentação da BR-319 que liga Porto Velho (RO), região conhecida como “arco do desmatamento”, até Manaus (AM), na Amazônia central, e o desmonte das políticas de proteção das Áreas de Preservação Permanentes (APPs) são os que trazem maior preocupação pela alta vulnerabilidade que colocam o ambiente e as populações dos territórios, do país e de todo o Continente.

“A pavimentação da rodovia não resolverá o problema do isolamento das comunidades, pois os municípios mais afetados pela seca não são acessados pela rodovia”

Lago Iguatemu Aldeia Moyray do povo Mura, em Autazes (AM), registro de 2024 Foto: Ligia Apel | Cimi Regional Norte 1

Lago Iguatemu Aldeia Moyray do povo Mura, em Autazes (AM), registro de 2024 Foto: Ligia Apel | Cimi Regional Norte 1

Segundo a Carta, estudos mostram que a pavimentação da rodovia federal não resolverá o problema do isolamento das comunidades, porque os municípios mais afetados pela seca não são acessados pela rodovia, “enquanto os municípios ligados pela BR-319 apresentam os maiores índices de degradação florestal, desmatamento e queimadas agravando ainda mais a crise climática”, sustenta a Carta, que também aponta para os impactos sobre os “rios voadores”.

“O desmonte das políticas de proteção às APPs [Áreas de Preservação Permanente] vão comprometer o funcionamento dos serviços ecossistêmicos conhecidos como ‘rios voadores’ – correntes de ar que transportam a umidade da Amazônia para outras regiões do Brasil e da América do Sul. Sem essa umidade, regiões do sul e sudeste do Brasil enfrentarão secas ainda mais severas, com o colapso dos sistemas agrícolas que dependem dessas chuvas”, afirmam as organizações.

“As políticas atuais representam um ataque direto à segurança hídrica, alimentar e climática do Brasil”

Comprovando esses fatos está a “mobilidade de fumaça produzida nos incêndios da região norte para o sudeste e sul” e o comprometimento do “abastecimento de água nas áreas mais populosas do Brasil, como o sistema Cantareira”, demonstra a Carta. Afirma ainda que a promoção de “atividades como mineração, exploração de petróleo e gás, pecuária, agronegócio e produção hidrelétrica”, pelo Estado “causam impactos severos às comunidades tradicionais e ao clima, agravando secas prolongadas, elevação de temperaturas, poluição e escassez de água”.

A Carta alerta ainda que os “Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) com os quais o Brasil está comprometido, como erradicação da pobreza, fome zero e agricultura sustentável, saúde e bem-estar, educação de qualidade, pública e gratuita, acesso à água potável e saneamento, trabalho digno e crescimento econômico e energia acessível e limpa”, não estarão assegurados até 2030, conforme preconiza a Organização das Nações Unidas (ONU).

Assim, entendendo que “as políticas atuais representam um ataque direto à segurança hídrica, alimentar e climática do Brasil”, o Fórum das Águas no Amazonas defende veementemente que “a BR-319 seja fechada, que o Projeto de Lei 2168/2021 seja revogado, que os serviços de água e esgoto de Manaus [AM] sejam reestatizados e que sejam combatidas todas as políticas antiambientais que ameaçam os ecossistemas e a soberania nacional, que colocam milhões de vidas em risco”, conclui o documento.

Confirma a Carta na íntegra, aqui.

Share this:
Tags: