A luz de Padre Paulo Suess: 60 anos de sacerdócio e de resistência em defesa dos povos indígenas
Cimi celebra a trajetória de Padre Paulo Suess, um teólogo que fez do seu sacerdócio uma luta pela justiça social e pelos direitos dos povos originários
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Na paróquia Santa Rita de Cássia, em São Paulo, no dia 28 de julho, não se celebrava apenas a passagem de 60 anos de ordenação sacerdotal de Padre Paulo Suess. Celebrava a vida de um homem cuja fé se fundiu, desde cedo, com a resistência e a defesa dos povos indígenas. Três dias antes, na Alemanha, onde sua jornada sacerdotal começou, também se ergueram preces e lembranças em honra à sua trajetória.
Paulo Suess, assessor teológico do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) e um dos responsáveis pela criação e surgimento do Jornal Porantim, é um militante. Um homem cujo compromisso com a causa indígena se reflete em cada gesto e em cada história de sua vida. Em suas palavras, proferidas no Congresso de 50 anos do Cimi, em novembro de 2022, ele reafirmou seu compromisso inabalável: “A nossa mística é militante, a causa indígena nos põe no centro do furacão do conflito. A nossa mística nos faz sonhar pela socialização dos latifúndios.” Essas palavras não são apenas reflexões teológicas; são um chamado à ação, uma convocação para lutar por uma sociedade mais justa.
A celebração contou com a presença de amigos, companheiros de jornada e representantes do Cimi, que reconhecem em Suess não apenas um teólogo, mas um defensor incansável das minorias. Na ocasião, várias mensagens e homenagens foram prestadas, destacando a importância do trabalho de Suess, entre elas, as falas da vice-presidente do Conselho Indigenista Missionário, Alcilene Bezerra, e da Irmã Lúcia, catequista franciscana, com atuação junto ao Cimi Regional Sul – Equipe São Paulo.
“Falar de padre Paulo é falar de seu compromisso com a causa dos pobres, de maneira especial os povos indígenas. É também falar de suas importantes produções teóricas e das reflexões teológicas que embasam e fundamentam a ação pastoral da igreja no Brasil e na América Latina. Seu exemplo nos ajudou e continua nos ajudando a identificar, reconhecer e acolher as pluralidades culturais e as diversidades religiosas, o que representa uma condição necessária para a promoção de um verdadeiro diálogo intercultural e libertador”, destacou Alcilene Bezerra.
Suess foi um dos primeiros a mostrar que a missão da Igreja na América Latina deveria ser moldada pela rica diversidade cultural e religiosa dos povos que aqui vivem. Sua reflexão teológica é um convite constante à abertura do diálogo intercultural e à busca de uma convivência que não oprime, mas que liberta e enriquece.
“A nossa fé produz sinais de justiça e permite criar imagens de esperança, que podem produzir rupturas no sistema para que o mundo seja mais habitável para todos”, disse Suess. E essas rupturas, essas mudanças que ele vislumbra, são os mesmos sonhos que animam aqueles que compartilham sua luta e sua fé.
Quem é Paulo Suess
Nascido em 1938, em Colônia, na Alemanha, Paulo Suess, que foi registrado como Günther Heinz Süss, trouxe consigo o desejo de trabalhar com os menos favorecidos. Em 1960, após sua ordenação sacerdotal, Suess deixou a Bavária rumo a Belém, no Brasil, onde passou por um breve período de adaptação ao idioma português. Em seguida, Suess partiu para a região do Baixo Amazonas, onde dedicou mais de uma década ao trabalho pastoral com as comunidades indígenas, construindo uma relação de profunda empatia e respeito com os povos originários.
Entre 1966 e 1974, Suess trabalhou em pastorais na Amazônia brasileira, estabelecendo uma relação com as comunidades indígenas que marcaria para sempre sua visão teológica. Já entre 1977 e 1979, ensinou teologia em Manaus e, após sua estada na região amazônica, continuou a sua trajetória acadêmica, obtendo seu doutorado em Teologia Fundamental pela Universidade de Muenster, em 1977, com uma tese sobre “O catolicismo popular no Brasil”.
Em 1979, Paulo Suess assumiu o cargo de secretário-geral do Cimi, reforçando sua missão de lutar ao lado dos povos indígenas e consolidando sua atuação como um dos principais defensores da Teologia da Libertação no Brasil.
Em 1987, o teólogo fundou o curso de Pós-Graduação em Missiologia na Pontifícia Faculdade Nossa Senhora da Assunção, em São Paulo, um marco importante para a formação de novos teólogos comprometidos com a justiça social. Ele coordenou o curso até 2001, deixando um legado acadêmico que continua a influenciar gerações. Reconhecendo sua contribuição inestimável, Suess recebeu o título de Doutor honoris causa pelas Universidades de Bamberg, em 1993, e Frankfurt, em 2004.
Hoje, aos 86 anos, Paulo Suess permanece uma fonte de inspiração, atuando como assessor teológico do Cimi e compartilhando seu vasto conhecimento como professor convidado em diversas instituições acadêmicas, promovendo uma compreensão mais profunda da inculturação da fé, sempre em sintonia com os desafios contemporâneos e com um olhar atento às lutas dos povos indígenas.
Neste marco de 60 anos de sacerdócio, o Cimi, os povos indígenas e todos aqueles que resistem ao lado dos oprimidos e lutam por dignidade e liberdade veem em Paulo Suess um exemplo vivo de fé, coragem e esperança. Que a Divina Fonte da Luz continue a guiar seus passos e de todos e todas que se dedicam à causa dos povos originários e à construção de um futuro mais justo e humano.