02/08/2024

Aviso de despejo chega a retomada da TI Lagoa Panambi um dia após jagunços serem presos pela Força Nacional

Reintegração envolve a retomada Guaaroka, ao lado da retomada Yvy Ajere. Força Nacional prende casal armado nas retomadas Kurupa’yty e Pikyxyin

Os Guarani e Kaiowá da retomada Guaaroka seguem na área e afirmam que por lá pretendem permanecer. Foto: Ascom/Cimi

Por Assessoria de Comunicação – Cimi

A comunidade Guarani e Kaiowá da retomada Guaaroka recebeu a visita de um oficial de Justiça, pela manhã desta sexta-feira (2), na Terra Indígena (TI) Lagoa Panambi. Com base na liminar de reintegração de posse, publicada na semana passada, os indígenas receberam um prazo para a saída da área sem o uso de força policial. Conforme o advogado da comunidade e assessor jurídico do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), Anderson dos Santos, a Procuradoria Especializada da Fundação Nacional do Índio (Funai) recorreu da decisão.

Guaaroka é uma das sete ‘retomadas de Douradina’, município onde está a Terra Indígena, e fica ao lado da retomada Yvy Ajere, local de concentração de jagunços armados no momento estabelecidos em um acampamento a poucos metros dos barracos Guarani e Kaiowá. Um destacamento da Força Nacional segue no local e nesta quinta-feira (1)  prendeu um casal fortemente armado que com uma camionete invadiu outras duas retomadas da Terra Indígena: Kurupa’yty e Pikyxyin. Um Guarani e Kaiowá acabou ferido sem gravidade (assista vídeo abaixo) .

 

“Queremos saber que tipo de diálogo querem fazer com o nosso povo nessa pressão de despejo. Tem ameaça aqui de jagunço, tem ameaça que vem da Justiça. Como querem conversar assim, ameaçando a gente? Inclusive tinha uma proposta de colocar a comunidade das outras retomadas nesta área. Se a gente tivesse aceitado, todo mundo seria despejado agora. Tudo uma mentira! Não vamos desistir da nossa terra do jeito que é certo”, diz um Guarani e Kaiowá da TI Lagoa Panambi presente na retomada Guaaroka.

Ele se refere a uma proposta surgida durante as duas reuniões de mediação no Ministério Público Federal (MPF), que ocorreram nesta e na semana passada. Conforme os relatos de parlamentares e da defesa da comunidade, a proprietária dos 150 hectares em que está a retomada Guaaroka decidiu não patrocinar investidas de jagunços contra a comunidade, preferindo o caminho da Justiça, além de topar negociar a sua área em permuta por terras em outra localidade.

Ocorre que a postura desagradou a Federação da Agricultura e Pecuária do Mato Grosso do Sul (Famasul). Entendendo como uma desistência por parte da proprietária, o grupo ruralista então propôs que os Guarani e Kaiowá se retirassem das outras retomadas de terras em troca destes 150 hectares. Além dos indígenas não terem aceitado a ideia, lembraram da reintegração de posse, ação judicial que os advogados da proprietária afirmaram que não iriam abrir mão.

A retomada Guaaroka inaugurou este último período de retorno dos Guarani e Kaiowá para territórios, ainda em posse de terceiros, da Terra Indígena Lagoa Panambi, cujo Relatório Circunstanciado de Identificação de Delimitação (RCDI) foi publicado em 2011 garantindo 12 mil hectares para a demarcação. No dia 13 de julho, os indígenas retomaram Guaaroka e sofreram um primeiro ataque. Um indígena foi baleado e outros feridos por tiros de bala de borracha disparados por policiais militares. Em resposta à violência sofrida, os Guarani e Kaiowá decidiram retomar Yvy Ajere.

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