22/04/2024

Indígenas levam à assessora da ONU para Prevenção do Genocídio denúncias sobre violações territoriais e riscos aos isolados

Delegação indigenista se reuniu com a Assessora Especial para Prevenção do Genocídio, Alice Wairimu Nderitu, em busca da promoção da causa junto ao Conselho de Direitos Humanos da ONU

Laura Vicuña entrega para assessora Especial para Prevenção do Genocídio, Alice Wairimu Nderitu, carta do povo Karipuna. Foto: Chantelle Teixeira/Cimi

Por Renato Santana, Assessoria de Comunicação Cimi Regional Nordeste

Representantes indígenas Karipuna, Maraguá e Macuxi, em Nova York para o Fórum Permanente sobre Assuntos Indígenas das Nações Unidas (UNPFII, na sigla em inglês), se reuniram com a sub-secretária-geral da ONU e Assessora Especial para Prevenção do Genocídio, Alice Wairimu Nderitu, na última quinta-feira (18), para tratar das graves violações às terras indígenas em que vivem colocando em risco a existência de seus povos.

A Rede Eclesial Pan-Amazônica (REPAM) participou da reunião e levou casos envolvendo violações contra territórios de povos indígenas do Equador. Em contexto amazônico, os casos guardam semelhança ao vivenciado deste lado da fronteira, no Brasil. Garimpo, retirada de madeira e grilagem de terras estão entre as principais ameaças a esses povos. Há uma semana a delegação participa do Fórum e cumpre agendas mais específicas.

O encontro da delegação indigenista com Alice é parte de uma agenda paralela ao Fórum e tem como objetivo reportar às assessorias da ONU situações emergenciais que precisam ser incorporadas aos procedimentos internos do principal instrumento da diplomacia internacional. Um memorando pode ser pactuado à guisa da identificação, defesa e promoção da causa junto ao Conselho de Direitos Humanos da ONU.

Valexon Macuxi e Ruberval Maraguá lembraram à assessora das Nações Unidas que como se tratam de terras com a presença de povos em situação de isolamento voluntário, o risco de tais grupos serem dizimados é iminente. O grupo tratou ainda da Lei 14.701/23, a chamada Lei do Marco Temporal, demonstrando como a medida tem estimulado invasões aos territórios tradicionais e violado o direito originário à terra.

Saques e ameaças

Conforme a Repam detalhou em informe, Valexon Macuxi denunciou a expulsão de seu povo do território, o que também ocorreu com outros povos indígenas. Saques de recursos naturais e ameaças dos invasores das terras são uma parte do vivenciado pelos povos indígenas. O Macuxi disse ainda que espera que o Supremo Tribunal Federal (STF) se pronuncie sobre ação judicial que impede a demarcação da terra solicitada desde 2009.

Um outro caso levado foi o da comunidade Wapichana da Terra Indígena Serra da Moça, já homologada e que fica em Boa Vista, Roraima, enganada a assinar um documento de “doação” a um indivíduo. Outro caso relatado foi o da comunidade Anzol, onde vivem indígenas Macuxi e Wapichana, excluída da demarcação e cujo território foi vendido pelo Governo de Roraima. A comunidade é considerada invasora de suas próprias terras.

Adriano Karipuna não conseguiu participar da reunião por problemas relativos à liberação do visto de entrada nos Estados Unidos. Laura Vicuña, do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) Regional Rondônia, levou para a assessora uma carta do povo Karipuna e o relato dos problemas enfrentados na Terra Indígena. Trata-se de uma situação antiga levada nos últimos anos às instâncias da ONU pelo próprio Adriano Karipuna.

“Apresentamos um pedido de socorro do povo Karipuna contra o crime de iminente genocídio contra ele e contra os povos indígenas isolados com quem partilham o território. Tratamos também da normatização do marco temporal com a Lei 14.701 que é um verdadeiro decreto contra a vida dos povos indígenas”, declarou Laura Vicuña

Na avaliação de Laura, o encontro amplia o espectro da denúncia e comunicado à comunidade internacional do que ocorre com os povos indígenas no Brasil

Delegação brasileira

O Conselho Indigenista Missionário (Cimi) está presente nesta edição do Fórum Permanente ao lado das lideranças indígenas e da Rede Eclesial Pan-Amazônica (REPAM), além do Programa Universidade Amazônica (PUAM).

A delegação representa toda a região Pan-Amazônica e além de Ruberval Maraguá, conta também com outra liderança indígena, Valexon Lins Oliveira Ambrósio, do povo Macuxi. Adriano Karipuna, de Rondônia, participou de toda a preparação da delegação, com experiência pregressa representando os povos indígenas nas Nações Unidas, mas um problema envolvendo o visto de entrada nos Estados Unidos o impediu de viajar.

Entre os aliados e aliadas dos povos indígenas, estão Laura Vicuña e Chantelle da Silva Teixeira, ambas do Cimi, Simone Bauce Comboni, Leonardo Narváez Loarte, da Repam Equador, Mauricio López, da Puam, padre Pedro Hughes, da congregação Religiosos Columbanos e coordenador do núcleo Direitos Humanos e Advocacia da Repam.

Presentes no Fórum Permanente estão também Lily Calderón Ramos, técnica do referido núcleo, e Sonia Olea Ferreras, responsável pela Advocacia Internacional da Repam e da Cáritas Espanhola.

 

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