Defesa do território e do Cerrado é tema de discussão em encontro de mulheres indígenas
O Encontro das Mulheres Indígenas do Cerrado, realizado no mês de março, reuniu cerca de 80 lideranças mulheres e discutiu os desafios colocados à defesa dos direitos indígenas
Entre os dias 15 e 17 de março, ocorreu o “Encontro das Mulheres Indígenas do Cerrado” na aldeia Kiriri, no município de Barreiras, Bahia. O encontro, que teve como lema “do Norte de Minas ao Oeste da Bahia: Mulheres Indígenas na Defesa do Cerrado, dos Direitos e dos seus Territórios”, contou com a participação de cerca de 80 pessoas dos povos Xakriabá, Petiquara, Tupinambá, Tapuia, Potiguara, Kiriri de Muquém, Tuxá e Kiriri de Barreiras, das equipes Oeste da Bahia e Norte de Minas do Cimi Leste, além da participação e contribuição dos parceiros da 10Envolvimento, Cáritas N3, Articulação dos Povos do Cerrado e da Caatinga, Universidade Federal do Oeste da Bahia (UFOB), Instituto Federal da Bahia (IFBA), escolas municipais, Secretária de Saúde Indígena (Sesai), entre outros.
A atividade teve como objetivo pensar a vida das mulheres indígenas no Cerrado, bem como os desafios colocados e as perspectivas através da defesa dos seus direitos, auto sustentabilidade e a permanência em seus territórios. A partir dos debates e das pautas de luta, foi construída uma carta das mulheres indígenas do Cerrado.
O Encontro realizado com as mulheres indígenas e parceiros foi um espaço de discussão, intercâmbio, mas também de afetos e reencontros, realizado, com muita alegria e trabalho, pelo povo Kiriri de Barreiras e o Cimi Leste, com o apoio da Cáritas Alemã.
Confira, na íntegra, a Carta derivada do Encontro:
CARTA DO I ENCONTRO DE MULHERES INDÍGENAS DO CERRADO
DO NORTE DE MINAS AO OESTE DA BAHIA
Aos dias 15 a 17 de março de 2024, mulheres indígenas dos povos Xakriabá do norte de Minas, Kiriri de Muquém, Potiguara, Petiquara, Tapuia, Tuxá, Tupinambá, Kiriri de Barreiras, do Oeste da Bahia, parceiros e aliados da causa indígena, nos encontramos e reencontramos para partilhar nossos desafios, lutas, angústias, desabafos, estratégias, conquistas e alegrias na aldeia Kiriri, em Barreiras na Bahia.
Nossos desafios são muitos, tendo o nosso cerrado e caatinga consumida pelo agronegócio, hidronégocio e mineronégocio, envenenando nossos territórios e nossas águas, deixando nossos corpos e espíritos doentes, afetando nossas vidas e impactando nossa relação com a MÃE TERRA.
As nossas lutas por direitos, que construímos com muito sangue derramado, são constantes contra um sistema de morte que a todo tempo tenta nos abolir. Entre as partilhas, percebemos que são as mesmas lutas que travamos pela garantia das manutenções dos nossos territórios que garantem também termos a nossa autosustentabilidade.
As angústias que estão trançadas entre nós, nos fortalecem na busca de uma vida com dignidade, de respeito, da paz, de uma terra sem Males e por um Bem Viver. “independente da luta que precisa fazer, a luta precisa ser feita”, como disse a cacique Rosivânia Kiriri de Barreira-BA.
Entre conversas, risos e choros, desabafamos sentimentos que nos corroem dia-a-dia, mas nos abraços, palavras e com muita sabedoria nos fortaleceram uma a uma.
Nas trocas de experiências, saberes e ciência entre nós mulheres indígenas, traçamos estratégias para nos fortalecer coletivamente nossa articulação de mulheres indígenas do cerrado e da caatinga, do Norte de Minas ao Oeste da Bahia; conectando ainda mais, nosso corpo com o nosso território, nos cuidando para cuidar da outra.
Nas conquistas e alegrias estão nossa resistência, que buscamos em nossos ancestrais, na ciência, na mata, nas águas, em nosso território, na esperança e na fé por dias melhores para nossos filhos, netos, bisnetos, tataranetos e por outros que estão por vim.
Denunciamos toda violência contra as mulheres, independente de seu caráter físico ou mental, que tem aumentado gradativamente.
Denunciamos todos empreendimentos e Leis que nos violenta, diante de uma bancada ruralista que desrespeita nossos direitos garantido na constituição, nos artigos 231 e 232, a exemplo da LEI 14.701 que ameaça nossa vida e nossos territórios, e exigimos a revogação da mesma.
Reafirmamos nosso compromisso, na luta contra toda violência ao nosso cerrado, a nossa caatinga, ao nosso território e ao nosso corpo, e resistiremos sempre.
Reafirmamos nosso compromisso com a nossa unidade entres as mulheres indígenas do Norte de Minas ao Oeste da Bahia aqui presente e demais mulheres indígenas, fortalecendo nossa articulação pela garantia de direitos e na busca do Bem Viver.
“Digam as mulheres indígenas que Avancem!
AVAÇAREMOS!!!”
17 de Março de2024, Aldeia Kiriri, Barreiras – BA.