Paulo Marubo deixa um legado de alegria, força e resistência em defesa dos povos indígenas
Um dos principais líderes do Vale do Javari, Amazonas, morreu no último dia 3 de fevereiro em decorrência de doenças crônicas, revelando fragilidade no Sistema de Saúde
“Queremos divulgar a nossa situação nas redes sociais e na mídia. Por favor, divulguem esse meu depoimento”. Esse foi um dos apelos que Paulo Marubo, coordenador da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja) por três mandatos, de 2014 a 2022, fez à sociedade brasileira em toda a sua trajetória em defesa dos povos indígenas do Vale do Javari. Nesse final de semana, as redes sociais e a mídia anunciam seu falecimento.
Paulo Marubo morreu no sábado, dia 3 de fevereiro, em decorrência de complicações do quadro clínico dos rins e fígado, e consequente falência múltipla dos órgãos. Paulo lutava contra hepatite crônica há vários anos, doença que afeta grande parcela da população da região do Alto Rio Solimões, Vale do Javari, especialmente as populações indígenas.
Segundo Eliezio Marubo, assessor jurídico da Univaja, Paulo estava em Cruzeiro do Sul, no Acre, quando se sentiu mal e foi levado a Tabatinga de avião, depois de muitos esforços da organização para conseguir a viagem.
“Com muito esforço, a gente conseguiu levar ele para Tabatinga, onde deveria ter um médico especialista para cuidar dele”, explicou. No entanto, em Tabatinga, não recebeu o devido atendimento: “o médico [disse que] não pode ajudar em razão da precária situação em equipamentos e tudo o mais ali na região”. Então, foi levado para Manaus, encaminhado para o Hospital 28 de Agosto, onde ficou vários dias sem atendimento adequado. Somente com sua transferência para a Fundação de Medicina Tropical Doutor Heitor Vieira Dourado, com um importante apoio do Dr. Aristóteles Alencar acionado pelo Grupo de Trabalho Amazônico, Rede GTA Regional Alto Solimões, Paulo foi atendido adequadamente, mas, infelizmente seu quadro já estava com complicações e não resistiu.
O advogado comentou que Marubo “chegou [ao Hospital 28 de agosto] e ficou no leito. Não era para ficar no leito de um hospital”, onde permaneceu por vários dias “sem atendimento algum” e, segundo informações que o Conselho Indígena Missionário (Cimi) recebeu, apenas na quarta-feira, dia 31 de janeiro, foi transferido para a Unidade de Terapia Intensiva (UTI), vindo a falecer no dia 3 de fevereiro.
Filho de José Barbosa e Suzana Rodrigues Doles, Paulo tinha 44 anos e deixou esposa e sete filhos. Nasceu em abril de 1979 na aldeia Maronal, Rio Curuçá, um dos principais rios que formam o Rio Javari, na divisa entre Brasil e Peru. Começou sua luta em prol dos povos indígenas como professor indígena das redes de ensino municipal e estadual.
Paulo, durante sua trajetória, entendeu a importância e efetivou diversas parcerias e apoios para a permanente construção do movimento dos povos indígenas no Vale do Javari. Além de presidente da Univaja, presidiu a Associação de Desenvolvimento Comunitário do Povo Marubo do Alto do Rio Curuçá (ASDEC), na qual incentivou projetos de sustentabilidade nas comunidades de seu povo, entre outras importantes ações.
O líder comandou, com profundas dores no coração e na alma, as buscas pelo indigenista e grande amigo Bruno Pereira e pelo jornalista Dom Philips, assassinados pelo principal inimigo de Paulo e dos povos indígenas: o ganancioso sistema de opressão que expropria o território e as vidas indígenas.
No período em que foi coordenador da Univaja criou a Equipe de Vigilância da Univaja (EVU), com o objetivo de fortalecer a proteção e ampliar a segurança dos povos da Terra Indígena Vale do Javari.
Paulo fez sua passagem e nos deixa, com nossos corações em dores profundas, mas com a certeza de que sua alegria, força e resistência estão impregnados nas nossas vidas e missão.
Manaus (AM), 5 de fevereiro de 2024
Conselho Indigenista Missionário – Cimi Regional Norte 1