12/12/2023

Coordenação da Articulação das Pastorais do Campo se reúne em Goiás 

A Articulação analisou a caminhada e reafirma o compromisso em defesa dos territórios

Representantes das pastorais que integram a Articulação das Pastorais do Campo, em encontro na Cidade de Goiás (GO). Foto: Cláudia Pereira/Assessoria de Comunicação da Articulação das Pastorais do Campo

Por Cláudia Pereira, da Assessoria de Comunicação da Articulação das Pastorais do Campo

A coordenação da Articulação das Pastorais do Campo (APC) se reuniu, entre os dias 5 e 7 de dezembro, na Cidade de Goiás (GO). O encontro foi realizado na Casa da Fraternidade, o conhecido Mosteiro da Anunciação espaço acolhedor, que é cuidado pela Fraternidade Irmão Charles de Foucauld. Com o objetivo de alinhar as estruturas de ações que fortalecem as lutas dos povos do campo, das florestas e das águas, a Articulação partilhou as percepções da conjuntura atual diante dos desafios que envolvem as pautas dos povos e também revisitou os caminhos percorridos, em especial as prioridades de enfrentamento às ameaças que violam os direitos dos povos.

As pastorais que integram a articulação Cáritas Brasileira, Conselho Indigenista Missionário (Cimi), Conselho Pastoral dos Pescadores (CPP), Comissão Pastoral da Terra (CPT), Pastoral da Juventude Rural (PJR) e Serviço Pastoral do Migrante (SPM) destacaram elementos centrais em comum que refletem na política socioambiental, formação e mobilizações. Entre os elementos, as pastorais do campo destacaram os processos formativos, a ampliação da temática sobre segurança alimentar, ações de incidência política e o avanço da violência no campo, principalmente após o governo reinstalar a Comissão Nacional de Enfrentamento à Violência no Campo. 

A Pastoral da Juventude Rural (PJR) escolheu a “formação” como tema central para dar continuidade aos processos da luta da juventude camponesa para se apropriar dos espaços, inclusive governamentais. Com a rearticulação dos grupos de trabalho, a juventude rural planeja ações políticas mais intensificadas para o ano de 2024.

“Avaliamos que é necessário colocar as nossas pautas em evidência, principalmente nos espaços do campo político nacional, por isso a formação de base precisa ser intensificada nos próximos períodos”, ressaltou Helson Alves, da coordenação Nacional da PJR.

“Avaliamos que é necessário colocar as nossas pautas em evidência, principalmente nos espaços do campo político nacional”

Durante reunião da Coordenação da Articulação das Pastorais do Campo, foi falado sobre a importância de se inserir em espaços políticos do país. Foto: Cláudia Pereira/Assessoria de Comunicação da Articulação das Pastorais do Campo

Helson avalia que, diante dos avanços e retrocessos do governo, as pastorais do campo precisam atuar de forma coletiva no enfrentamento e nos processos metodológicos de trabalho, em especial nas bases, a fim de ter novas perspectivas. “Temos que olhar para os nossos processos anteriores para ver onde erramos e acertamos para nos reinventar nestes novos processos e desafios”. 

 

Conjuntura sociopolítica: avanços e retrocessos

A coordenação analisou o discurso do capital que se apropriou da temática socioambiental, e avança assediando os territórios de povos e comunidades tradicionais. “As lutas não estão dissociadas e são um processo contínuo. É impossível analisar a conjuntura atual sem olhar o que está acontecendo no planeta, do ponto de vista positivo ou negativo. Esse olhar planetário nos deixa muito preocupados”, refletiu Carlos Lima, da coordenação nacional da CPT. As pastorais do campo têm exercido, a todo momento, ações que cobram do Estado mudanças estruturais e também exigido a reforma agrária. Mas ainda é necessário sustentar a força na busca de acesso à terra.

“É impossível analisar a conjuntura atual sem olhar o que está acontecendo no planeta”

As discussões em torno das emergências das mudanças climáticas também estão entre os elementos que as pastorais têm colocado em pauta – o tema é trabalhado por meio de ações preventivas direcionadas a questões que envolvem o risco ambiental elevado. A Cáritas Brasileira, por exemplo, tem fortalecido as ações para o enfrentamento na linha de incidência com o protocolo de consulta, no âmbito formativo para os povos e comunidades tradicionais.

Para o Conselho Indigenista Missionário (Cimi), a Articulação das Pastorais do Campo é um instrumento forte e capaz de realizar boas mobilizações. “Temos feito um trabalho de defesa dos direitos dos povos, mas é necessário retomar e amplificar o enfrentamento das pautas antagônicas”, refletiu Cléber Buzatto, missionário do Cimi Regional Sul, que participou virtualmente da reflexão.

“Temos feito um trabalho de defesa dos direitos dos povos, mas é necessário retomar e amplificar o enfrentamento das pautas antagônicas”

O encontro da coordenação da Articulação das Pastorais do Campo contou também com a participação virtual de outros integrantes das pastorais. Foto: Cláudia Pereira/Assessoria de Comunicação da Articulação das Pastorais do Campo

Luis Ventura, secretário executivo do Cimi, reforça que a articulação precisa ter sinergia, sobretudo no cenário atual, onde as violações no campo humano e da natureza tem avançado.

A colocação da análise da coordenação se refere ao exemplo de que o governo federal, apesar de apoiar as pautas populares, têm entrado em contradição reativando comissões e conselhos. Um exemplo claro é o fato  de recriar o Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea), mas o governo pode sancionar total ou parcialmente o projeto de lei denominado como o “pacote do veneno”.

A medida, aprovada recentemente pelo Congresso Nacional, afeta a agroecologia. O governo se contradiz ao deixar aberto artigos de projetos de lei sancionados que permitem exploração em terras indígenas. 

 

Novos horizontes

“Acredito que estamos buscando caminhos que possam amenizar e enfrentar os desafios da luta por vida em abundância, por direito e justiça. As estratégias estabelecidas para caminhada acabam sendo como uma bússola que nos orientará, junto aos povos e comunidades tradicionais”, avaliou Ozania da Silva, que integra a coordenação Nacional da SPM.

“As estratégias estabelecidas para caminhada acabam sendo como uma bússola que nos orientará, junto aos povos e comunidades tradicionais”

Ela lembrou, ainda, da passagem bíblica de Mateus 5:6: “Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque eles serão fartos”, que faz referência à luta coletiva por justiça. Ozania acrescentou também que a incidência política, campanhas e articulações de enfrentamento às violações às Pastorais do Campo acertam no processo de atuarem em rede.

A coordenação das Pastorais do Campo conclui que no âmbito das ações, a luta dos povos, avança com novos aspectos e desafios que perpassam na articulação, mas é preciso sinergia em especial nas linhas de atuação.

Em outro momento importante do encontro, a coordenação contou com a colaboração do assessor metodológico João Jesus, que analisou os eixos que demandam atividades de  articulação, comunicação e formação. São pontos importantes que alinham a estrutura dos grupos de trabalho e servem de base para os caminhos que serão trilhados no próximo período de atuação da APC. 

Thiago Valentim, secretário executivo da Articulação das Pastorais do Campo, analisa o encontro de forma positiva. “O encontro das coordenações das Pastorais do Campo foi fundamental para a continuidade da caminhada da Articulação. Com bastante lucidez, com consciência das dificuldades, mas também identificando potencialidades. As coordenações avaliaram a caminhada até o momento e lançaram luzes para o ano de 2024, sempre reafirmando o seu compromisso com a defesa dos territórios, o enfrentamento do modelo genocida, ecocida do capitalismo e fortalecendo a formação de seus agentes pastorais e das comunidades acompanhadas”.

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