Cimi Regional Maranhão realiza 10ª Oficina de Intercâmbio Linguístico e Cultural
Encontro foi realizado entre os dias 24 e 28 de novembro deste ano, na TI Krenyê; o evento teve como objetivo fortalecer a soberania alimentar nos territórios
Entre os dias 24 e 28 de novembro, o Conselho Indigenista Missionário (Cimi) Regional Maranhão realizou a 10ª Oficina de Intercâmbio Linguístico e Cultural com os povos Krenyê, Krikati e Akroá Gamella, na Terra Indígena (TI) Krenyê, localizada no município de Tuntum, no sul do Maranhão.
A oficina teve como objetivo principal fortalecer a soberania alimentar, a partir da vivência nos territórios. Para tanto, houve momentos de conversas sobre a temática e sobre se sentir parte do território, para permanecer nele e ter menor dependência da cidade em relação ao abastecimento de alimentos.
Desse modo, os povos presentes na oficina puderam conhecer uma experiência de produção de alimento sem veneno, de permanência no território e de preservação dele, com o agricultor e articulador da Teia de Povos e Comunidades Tradicionais do Maranhão, Domingos Sales, do assentamento Santo Antônio dos Maranhenses, em Coroatá-MA.
“Os povos presentes na oficina puderam conhecer uma experiência de produção de alimento sem veneno”
Na oportunidade, Domingos Sales apresentou a experiência de produção coletiva em sua comunidade e através do Grupo de Investimento Coletivo, que é uma forma de organização econômica adotada pela comunidade. Além disso, o agricultor levou farinha e arroz produzidos em seu assentamento como doação para a oficina.
A 10ª oficina teve um caráter de vivência das práticas culturais dos três povos no território, para o exercício prático do uso da língua materna nos seus rituais, a qual vem sido aprendida desde as oficinas anteriores. Nesses cinco dias de atividades, a prática da língua ocorreu entre os povos, com apoio do Cimi Regional Maranhão. Na ocasião, também participaram lideranças dos povos Gavião, Krepym e Apanjêkrá-Canela, que vivenciaram e contribuíram em todos os momentos da oficina.
Nesses dias de atividade, os povos fizeram caminhada pelo território, coletaram frutos, visitaram outras localidades, fizeram comida tradicional, realizaram corrida de flecha e cantoria no pátio.
Os momentos de cantoria foram realizados apenas por algumas lideranças dos povos do intercâmbio devido ao sentimento, isto é, ao luto pelo falecimento de familiares dos povos Akroá Gamella, Krikati e Krenyê. Na cultura desses povos, bem como dos demais povos que estavam presentes na oficina, durante o luto, seus membros não podem participar de rituais e festas e fazerem pintura com jenipapo, como destacou a professora Jõtep Krikati, que trouxe, também, explicações acerca de outras questões relacionadas ao parentesco.
Na oficina, Cohquin Cwyj Akroá Gamella ressaltou a riqueza e a beleza que é ter um território e se sentir parte dele como o território é parte de si. “O território Krenyê é muito bonito, muito rico, muito fértil e dá para produzir muita coisa aqui, por isso os invasores o querem. Por isso, o povo precisa se descolonizar e desapegar da cidade. O povo precisa estar dentro do território e reconhecer como seu, para quem está de fora reconhecer como território indígena”, evidenciou.
“O território Krenyê é muito bonito, muito rico, muito fértil e dá para produzir muita coisa aqui, por isso os invasores o querem”
Foram cinco dias intensos de muita troca de experiências, de conhecimento e de vivência de suas espiritualidades, com dinâmicas de pisar no chão do território para sentir a terra e se conectar a ela e levar os povos a conhecer mais sobre o local onde estão e se reconhecer.
No entanto, apesar de toda a beleza de se conhecer, enxergando o que o território disponibiliza, nas caminhadas foram encontradas várias marcas de violência contra o povo. Dentre elas, as recentes queimadas criminosas, as quais chegaram próximas à aldeia Mangueira, e as placas de delimitação e de identificação do território que foram arrancadas dos locais onde estavam instaladas.
Além disso, mesmo com as diversas denúncias aos órgãos competentes, o povo Krenyê continua sem poço artesiano para abastecer a água para a comunidade e contribuir na produção de seus alimentos. Desde 2018, os Krenyê recebem o abastecimento de carro-pipa, mas que tem limitação para uma relação maior com a produção de comida.
Para Meire Diniz, missionária do Cimi Regional Maranhão, “a vivência foi muito rica e profunda. Os povos, ao longo dos dias, puderam se relacionar uns com os outros e, também, com a Mãe-Terra. Essa troca trouxe novos sentidos, novas alegrias e curas que estão descontruindo as marcas coloniais que os afastavam da vivência de maior reciprocidade”, enfatizou.
“Essa troca trouxe novos sentidos, novas alegrias e curas que estão descontruindo as marcas coloniais”