18/07/2023

Memórias e vivências: povo Isú-Kariri realiza II Assembleia, no Ceará

Entre os dias 15 e 16 de julho deste ano, o povo Isú-Kariri realizou a sua II Assembleia, no terreiro sagrado da Aldeia das Queimadas, em Brejo Santo (CE)

Entre os dias 15 e 16 de julho, povo Isú-Kariri realiza II Assembleia, no Ceará. Foto: Willian Kurruíra

Por Assessoria de Comunicação do Cimi

Entre os dias 15 e 16 de julho deste ano, o povo Isú-Kariri realizou a sua II Assembleia, no terreiro sagrado da Aldeia das Queimadas, em Brejo Santo (CE). Ao longo dos dois dias de encontro, os indígenas partilharam memórias, conhecimentos e também levaram para a pauta os principais desafios enfrentados ao longo da história – e atualmente.

Estiveram presentes representantes da Associação Indígena Isú-Kariri (AIIK), da Universidade Federal do Cariri (UFCA), da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), da Universidade Federal do Pernambuco (UFPE), do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), do povo Quixelo-Kariri e da Secretaria Municipal de Educação de Brejo Santo (CE).

O professor da UFPE e representante do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), Saulo Feitosa, destaca que esse encontro tem uma “importância histórica e espiritual muito grande”. “O povo Isú-Kariri se reúne em torno de valores comuns, a generosidade, a partilha da comida, da fala e da memória. Neste toante, esperamos continuar sendo resistência, mantendo os nossos espaços de produção de conhecimentos, as nossas aldeias, as nossas verdadeiras escolas, mesmo que historicamente inviabilizados”, diz um trecho da nota construída após a Assembleia do povo Isú-Kariri.

“O povo Isú-Kariri se reúne em torno de valores comuns, a generosidade, a partilha da comida, da fala e da memória”

Durante a II Assembleia do povo Isú-Kariri, os indígenas – e outros participantes – puderam partilhar memórias e vivências, além dos principais desafios enfrentados atualmente. Foto: Willian Kurruíra

Confira abaixo a íntegra da carta elaborada ao final do encontro.

II Assembleia do povo Isú-Kariri 15 e 16 de julho, Brejo Santo e Jati-CE

Unidos/as/es e fortalecidos/es pelas forças da natureza, nós, povo Isú-Kariri realizamos a II Assembleia Anual, no período de 15 e 16 de julho de 2023, no terreiro sagrado da Aldeia das Queimadas, Brejo Santo-CE. Iniciamos com a Pajelança de abertura com os pés no chão, a Maracá na mão e na presença das nossas Mestras anciãs Ti Nazaret e Ti Maria.

Estiveram presentes na Assembleia os/as membros/as da Associação Indígena Isú-Kariri (AIIK), a Universidade Federal do Cariri, a Universidade Federal da Paraíba, a Universidade Federal do Pernambuco, o Conselho Indigenista Missionário, o povo Quixelo-Kariri e a Secretária Municipal de Educação de Brejo Santo (CE).

As Mestras entoaram os cantos sagrados, os nossos torés. Em seguida, Ti Maria falou sobre as memórias dos/as nossos/as ancestrais, que os Bisavós partiram de Pedra de Buique e Águas Belas e transitaram por todo agreste Alagoano, Pernambucano e Sertões da Pernambuco, Paraíba, Ceará até a Chapa do Araripe. Ti Nazaret relatou que em um dado momento, os avós se fixaram na Aldeia do Sossego, região que hoje se localizam os municípios de Brejo Santo e Jati-CE, onde viveram por décadas.

Segundo a Mestra, a aldeia foi expulsa do local para realização de um açude, hoje conhecido com Atalho. A Mestra lembra com tristeza que este foi o motivo para separação dos/as parentes/as, hoje espalhados por vários lugares. Ti Maria também falou com saudade dos seus primos, Mestre Serra Branca e Ana que durante muitos anos mantiveram os torés e os processos de cura vivos no território.

Simone Isú-Kariri, filha do Cacique Raimundo Isú-Kariri, fez um breve resumo sobre a trajetória da organização social do povo e as demandas pelo reconhecimento étnico e territorial pelo Estado, por educação e saúde específicas e diferenciadas, já enviadas à Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai – Processo Processo no Sistema Eletrônico (SEI/FUNAI) com o número 08087.000131/2023-91). O Cacique Raimundo Isú-Kariri traz a importância da luta pelos direitos do nosso povo para manter viva a nossa cultura e nosso saber.

O Prof. Saulo Feitosa (UFPE e Cimi), traz a fala de que no momento da chegada do colonizador, o encontro dos valores presentes no Evangelho com os povos indígenas foi de extrema identificação, porque os nossos mitos e as nossas histórias também dizem isso (o evangelho), a nossa espiritualidade/religião assume como central a fraternidade, e a irmandade. Então, esse foi um encontro de muitas semelhanças.

Por isso, o povo Isú-Kariri mantém o cristianismo fortemente presente na sua espiritualidade, seja naqueles/as parentes/as que fazem os seus ritos na igreja católica ou naqueles/as que estão nas igrejas evangélicas. Nesse sentido, o nosso povo reafirma os valores cristãos também presentes em nosso território. Qualquer tipo de cerceamento ou violência contra a nossa existência, enquanto indígenas evangélicos e/ou católicos não fazem parte do Evangelho e nem da espiritualidade originária do nosso povo.

O Prof. Saulo Feitosa destaca que esta Assembleia tem uma importância histórica e espiritual muito grande. Neste momento, segundo Saulo, o povo Isú-Kariri se reúne em torno de valores comuns, a generosidade, a partilha da comida, da fala e da memória. Neste toante, esperamos continuar sendo resistência, mantendo os nossos espaços de produção de conhecimentos, as nossas aldeias, as nossas verdadeiras escolas, mesmo que historicamente invisibilizados.

No entanto, precisamos nessa etapa de luta, juntar os/as parentes/as espalhados/as pelos diversos cantos, para entoar os nossos torés, tecer o jenipapo e urucum no corpo, usar as sementes que sempre nos guiaram, balançar as Maracas e exigir que o Estado reconheça as violências que sempre recebemos, que mudaram o nosso modo de vida, colonizando, dizimando e matando os Seres da Natureza Sagrada, nos sufocando sem puder plantar, caçar e viver na/da mata.

Seguimos unidos/as/es para a Assembleia Estadual dos Povos Indígenas do Ceará que se inicia amanhã (dia 17/07), levando as nossas demandas e mensagens coletivas do povo para o Estado e todos/as os/as parentes irmanados/as. Aldeia das Queimadas, 16 de julho de 2023. – Diga ao Povo que avance! – Avançaremos!

Aldeia das Queimadas, 16 de julho de 2023. – Diga ao Povo que avance! – Avançaremos!

 

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