Núcleo de Mulheres de Roraima pede justiça para o assassinato de Angelina Proporita Yanomami
Diante do brutal assassinato da Yanomami, mais de 50 organizações da sociedade civil de Roraima, entre elas o Cimi Regional Norte I, assinam a Carta Aberta e denunciam extrema violência contra os povos indígenas
O Núcleo de Mulheres de Roraima (Numur) junto com outras 50 organizações da sociedade civil de Roraima, entre elas o Cimi Regional Norte I, se solidarizam aos familiares de Angelita Proporita Yanomami e ao povo Yanomami, denunciam a crescente violência contra as mulheres no estado e exigem que as autoridades investiguem o assassinato e faça justiça.
Desaparecida há mais de um mês, o corpo de Angelita foi encontrado com evidências de brutal e revoltante assassinato. A Yanomami era “estudante universitária, ela logo se formaria em odontologia e retornaria ao seu território para seguir trabalhando pela saúde do seu povo. Sua luta e militância se junta ao esforço de indígenas Yanomami em atuar como tradutores e intérpretes no serviço de saúde em Roraima”, conta o Núcleo de Mulheres, dizendo que Angelita é mais uma vítima dessa realidade que ceifa vidas e tenta destruir a esperança e a resistência.
“Invasores seguem em terras Yanomami impondo violência e insegurança à vida das mulheres e ao seu povo”
Em sua Carta Aberta, o Numur e as organizações, denunciam que as terras Yanomami continuam sendo invadidas e ligam as violências que ocorrem nas localidades onde vivem os indígenas às violências configuradas no cenário político nacional, mostrando que a tese do marco temporal se aprovada será a legalização da violência contra os povos indígenas.
“Invasores seguem em terras Yanomami impondo violência e insegurança à vida das mulheres e ao seu povo. Na cidade as mulheres ficam expostas a violências e têm suas vidas ceifadas. Enquanto isso um congresso conservador quer impor mais violência a indígenas com o Marco Temporal e em Roraima o governo do Estado e outros políticos são amplamente conhecidos por serem contrários aos direitos indígenas”, diz a Carta.
“As mulheres ficam expostas a violências e têm suas vidas ceifadas, enquanto isso querem nos impor mais violência a indígenas com o marco temporal”
Tese que intenciona apagar a história de violências sofridas pelos povos indígenas e deixa os criminosos impunes será julgada pelo Supremo Tribunal Federal (STF), no próximo dia 7 de junho. Indígenas de todo o país resistem na defesa de suas vidas.
A morte de Angelita não será em vão. De sua partida precoce, fica sua força na luta pela vida indígena.
Confira a carta na integra:
Pela vida de toda as mulheres JUSTIÇA PARA ANGELITA PRORORITA YANOMAMI
Nós, do Núcleo de Mulheres de Roraima (Numur), nos solidarizamos com os familiares e todo o povo Yanomami, pela morte precoce de sua filha ANGELITA PRORORITA YANONOMAMI, mulher indígena de apenas 35 anos, mãe de três filhos, sendo uma menina e dois jovens, trabalhadora em prol da vida e dos direitos das mulheres e de seu povo. Que ela seja guiada por Omana em sua passagem para habitar nas costas do céu e se juntar aos bores.
Estudante universitária, ela logo se formaria em odontologia e retornaria ao seu território para seguir trabalhando pela saúde do seu povo. Sua luta e militância se junta ao esforço de indígenas Yanomami em atuar como tradutores e intérpretes no serviço de saúde em Roraima.
Diante da crise humanitária e de saúde, criada pelo descaso e abandono nos últimos anos do poder público e o incentivo de atividades criminosas de garimpo no seu território, Angelita conquistou espaço na cidade como tradutora e intérprete da sua língua materna. Em Boa Vista, ela trabalhou na Casa de Saúde Indígena Yanomami (Casai-Y) e na maternidade Nossa Senhora de Nazaré (que há quase dois anos funciona em tendas de lona, em total desrespeito ao direito das mulheres em parir com dignidade), conhecimento que também fica um pouco órfão, pois não são tantos os Yanomami falantes da língua portuguesa.
Segundo o Fórum Brasileiro de Segurança pública a violência contra as mulheres no Brasil aumentou em 2022. Nosso Estado segue sendo um dos piores para as mulheres viverem em segurança, só o ano passado a taxa de estupros foi quatro vezes maior que a taxa nacional. No fim do ano passado uma mulher Yanomami foi assassinada na esquina da Feira do Produtor Rural, em Boa Vista. Há poucos meses que uma mulher Yanomami foi estuprada nessa cidade por dois homens. Crimes noticiados na imprensa e em nota de organizações indígenas. O que se apurou até agora?
Invasores segue em terras Yanomami impondo violência e insegurança à vida das mulheres e ao seu povo. Na cidade as mulheres ficam expostas a violências e têm suas vidas ceifadas. Enquanto isso um congresso conservador quer impor mais violência a indígenas com o Marco Temporal e em Roraima o governo do Estado e outros políticos são amplamente conhecidos por serem contrários aos direitos indígenas.
Exigimos medidas urgentes do governo do Estado na apuração da morte de Angelita e de todas as mulheres que sofreram violência. Basta de violência, basta de derramar sangue indígena. Dizer não ao Marco temporal, é fazer a defesa da vida e dos territórios indígenas.
Justiça para Angelita Yanomami!
A dor de uma é a dor de todas as mulheres!
Pela vida das Mulheres! Queremos todas vivas!
Boa Vista, 02 de junho de 2023.