30/06/2023

Do Curso Básico à Missão: a continuidade do processo de formação para o Bem Viver

O Cimi Regional Leste reafirma o compromisso com o ser missionário e a defesa dos direitos originários dos povos indígenas

Egon Heck, um dos missionários mais antigos do Cimi, e os aspirantes do Regional Leste. Foto: Marta Mamédio / Cimi Regional Leste

Egon Heck, um dos missionários mais antigos do Cimi, e os aspirantes do Regional Leste. Foto: Marta Mamédio / Cimi Regional Leste

Por Janaína Nunes, Maria Rosária, Marta Mamédio e Rory Weslley, do Cimi Regional Leste*

Motivados pela mística, memória e resistência dos 50 anos do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), os aspirantes a missionários e missionárias do Cimi Regional Leste se reuniram em Bom Jesus da Lapa, às margens do rio São Francisco no Oeste da Bahia, entre os dias 18 e 19 de maio de 2023 para um momento formativo em preparação ao Curso de Formação Básica II.

A formação, que foi acompanhada pelo coordenador Haroldo Heleno, Nilton Seixas e o assessor metodológico Franklim Drumond, contou com a presença dos aspirantes Janaína Nunes, Maria Rosária, Marta Mamédio e Rory Weslley. Esse encontro teve como objetivo refletir as perspectivas pessoais e coletivas dos futuros missionários frente aos desafios da construção dos próximos 50 anos do Cimi, orientados pela memória e história dos anos vividos em missão até aqui.

“O encontro teve como objetivo refletir as perspectivas pessoais e coletivas dos futuros missionários frente aos desafios da construção dos próximos 50 anos do Cimi”

Egon Heck, um dos missionários mais antigos do Cimi, e as aspirantes do Regional Leste. Foto: Rory Weslley / Cimi Regional Leste

Egon Heck, um dos missionários mais antigos do Cimi, e as aspirantes do Regional Leste. Foto: Rory Weslley / Cimi Regional Leste

Para Haroldo Heleno, coordenador regional do Cimi Leste, esse momento “foi muito importante para os aspirantes a missionários, como também para o conjunto do regional, pois foi um espaço onde compartilhamos os desejos, os sonhos, as expectativas e os desafios que são apresentados para os novos aspirantes”.

Desta forma, os aspirantes a missionários pontuaram os principais desafios encontrados na atual conjuntura da causa indígena e indigenista. Momento importante para propor e pensar coletivamente novos horizontes institucionais e políticos da entidade, assim como reafirmar o compromisso com os povos indígenas, o fortalecimento da luta e da defesa dos direitos originários.

Franklim Drumond destaca que “entre suas prioridades, o Cimi compreende que a Formação é ‘uma atividade constitutiva de seu trabalho (Plano Pastoral, nº35)’, desse modo, atividades como o encontro do Regional Leste fazem parte da prática desse organismo vinculado à CNBB”.

“Momento importante para propor e pensar coletivamente novos horizontes institucionais e políticos da entidade, assim como reafirmar o compromisso com os povos indígenas”

O assessor do Cimi ainda complementa que na formação também foram realizadas reflexões sobre ser missionários e o papel do Cimi como um Conselho para a igreja e para os povos originários numa realidade complexa do nosso tempo e os riscos que a missão impõe aos missionários e à instituição. “Esses riscos fazem parte da caminhada, que une o projeto de vida pessoal ao projeto de Bem Viver dos povos indígenas e do Cimi, e a compreensão de pertencer a este longo e inovador caminho vivenciado há mais de 50 anos. É um dom para igreja e fidelidade aos princípios evangélicos de uma igreja em saída e do Cimi, comprometidos com a construção do projeto de Bem viver dos Povos Indígenas”, reforça Franklim.

Ao final do encontro, os futuros missionários inspirados pela mística e resistência das estratégias de sobrevivências dos povos indígenas nesses 523 anos e dos 50 anos do Cimi no compromisso de ser Igreja em Saída, na sua ação evangelizadora e de presença missionária juntos aos pobres, marginalizados e excluídos decidem construir um documento de compromissos aos moldes da “Nota à Opinião Pública” construída pelos missionários reunidos a partir de uma assembleia de Pastoral Indigenista, em Vitória, no Espírito Santo, no ano de 1978.

“Inspirados pela mística e resistência das estratégias de sobrevivências dos povos indígenas nesses 523 anos e dos 50 anos do Cimi, listou-se os compromissos”

Egon Heck, um dos missionários mais antigos do Cimi e as aspirantes do Regional Leste. Foto: Rory Weslley / Cimi Regional Leste

Egon Heck, um dos missionários mais antigos do Cimi e as aspirantes do Regional Leste. Foto: Rory Weslley / Cimi Regional Leste

No documento, que foi publicado há 45 anos, os missionários listam ter constatado, com pesar, o desaparecimento de vários grupos indígenas da região e a situação de violências em que se encontravam. Assim, os aspirantes do Regional Leste em 2023, elaboraram uma carta aberta listando alguns compromissos, entre eles, com a ação missionária e profética de uma Igreja em Saída, uma igreja que se coloca ao lado dos pobres, marginalizados e oprimidos. “Entendemos como nosso dever, e tarefa de todo cristão, denunciar as violações de direitos, promover a justiça e solidariedade, sendo a voz profética na luta, ao lado das comunidades, pelo Bem Viver dos povos indígenas e do cuidado com a Casa Comum”, destaca a Carta.

O documento destina-se aos integrantes do Curso Básico em Indigenismo, que estão na segunda etapa, e a todo o Conselho Indigenista Missionário demarcando o desejo em fazer parte dessa entidade, colocando suas vidas em missão pela defesa e garantia dos direitos dos povos indígenas e seus territórios, na construção de um Novo Reino e do projeto de vida do Bem Viver, rumo a uma Terra Sem Males!

 

Confira a carta na íntegra:

Conselho Indigenista Missionário (Cimi), Regional Leste
Curso de Formação Básico II – edição de 2023

Prezados, prezadas

Nós, aspirantes a missionários e missionárias do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), provocados pelo processo de formação, comprometidos em seguir a Luz de Cristo, que ressuscitou em cada indígena, negro e quilombola, que tombou na luta pela garantia do direito à vida e ao território de seu povo. Provocados e comprometidos também com a ação missionária e profética de uma Igreja em Saída, uma igreja que se coloca ao lado dos pobres, marginalizados e oprimidos. Entendemos como nosso dever, e tarefa de todo cristão, denunciar as violações de direitos, promover a justiça e solidariedade, sendo a voz profética na luta, ao lado das comunidades, pelo Bem Viver dos povos indígenas e do cuidado com a Casa Comum, assim como anuncia o Papa Francisco, e como tem sido feito pelo Cimi ao longo dos 50 anos.

Ao longo do tempo, testemunhamos a resistência incansável dos povos originários na defesa de seus territórios, culturas e modos de vida. Eles têm sido protagonistas de importantes vitórias, como a demarcação de terras, o reconhecimento de seus direitos constitucionais e a valorização de sua diversidade cultural.

No entanto, os povos indígenas continuam enfrentando desafios cada vez maiores, como a imposição da tese do marco temporal, que busca restringir os direitos territoriais dos povos, ignorando sua história ancestral e a relação intrínseca com as terras que habitam há séculos. Essa tese representa uma grave ameaça à sobrevivência dessas comunidades e à preservação de seus modos de vida tradicionais, o aumento da violência, o assassinato das lideranças e criminalização da luta pela demarcação de seus territórios. O garimpo ilegal que se alastra pelas Terras Indígenas da Amazônia, as mineradoras que se alastram sobre os territórios, o crime da Vale, o agronegócio que cada dia mais avança contra terras indígenas no Cerrado e no Pantanal, entre outros ataques que há 50 anos são denunciados pelo Cimi.

Nós, aspirantes a missionários e missionárias do Cimi, conscientes de que a missão evangelizadora de uma Igreja em Saída requer incondicionalmente um mundo de justiça e garantia dos direitos dos povos indígenas aos seus territórios sagrados, apoiamos e fortalecemos a luta dos povos indígenas, dando voz e fazendo ecoar a todo planeta as suas demandas. Denunciando as violações de direitos e promovendo a conscientização em relação às questões que afetam essas comunidades.

Reiteramos nosso compromisso de trabalhar em parceria com organizações indígenas e indigenistas, lideranças e defensores dos direitos humanos, buscando construir pontes de diálogo e solidariedade.

Reafirmamos, junto aos povos indígenas, que antes desse chão que nós pisamos, ser chamado de Brasil, já era terra de Pindorama. Em contraponto à tese do marco temporal, nos unimos aos povos indígenas para que se faça ecoar local, nacional e internacionalmente a defesa da tese do Indigenato, que reconhece o direito originário dos povos indígenas do Brasil à terra.

Diante da atual conjuntura violenta em que os povos originários e indigenistas se encontram, trazemos a memórias inspiradoras das vidas à serviço dos pobres e oprimidos como da Irmã Cleusa Rody, Vicente Cañas, Dom Phillips e Bruno Pereira, entre tantos outros mártires que doaram suas vidas pela causa indígena, para prestar solidariedade a todos os missionários e missionário do Cimi e lideranças indígenas que estão sob ameaças e tentativas de criminalizações por defenderem a construção do Reino de Deus.

Frente a isso, desejamos colaborar para o fortalecimento de uma igreja profética, comprometida com a vida a partir do testemunho do Cristo ressuscitado e encarnado nos oprimidos, que reafirma e reconhece através da ação de seus organismos, que os povos indígenas estejam sobre a posse de seus territórios com direito de nele viver e gerenciar a construção do Bem Viver.

Bom Jesus da Lapa – Bahia, 19 de maio de 2023

Diga aos Povos que avancem: Avançaremos!

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*Integram a turma de Formação Básica do Cimi, cursando a segunda e última etapa da formação. Os quatro fazem parte do Cimi Regional Leste, compreende os estados de Minas Gerais; Espírito Santo e extremo sul da Bahia;

** Está produção faz parte da atividade prática, realizada pelos integrantes do Curso de Formação Básica do Cimi, etapa 2, desenvolvida a partir do módulo Política de Comunicação do Cimi ministrado pela Assessoria de Comunicação da entidade.

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