15/05/2023

Organizações Indígenas recebem assessora especial da ONU para Prevenção do Genocídio e denunciam crise humanitária na TI Yanomami

Em Roraima, Alice Wairimu e sua comitiva, visitaram a Casai Yanomami, a Terra Indígena Manoá/Pium e se reuniu com organizações indígenas

Foto: Escritório de Prevenção de Genocídio da ONU

Foto: Escritório de Prevenção de Genocídio da ONU

Por Assessoria de Comunicação do Cimi, com informações da Hutukara, Urihi e CIR

Entre os dias 5 e 8 de abril, a Hutukara Associação Yanomami, Urihi Associação Yanomami e o Conselho Indígena de Roraima (CIR) receberam a sub-secretária-geral das Nações Unidas (ONU) e assessora especial para Prevenção do Genocídio, Alice Wairimu Nderitu. A comitiva também foi composta pela assessora internacional do Ministério dos Povos Indígenas (MPI), e por representantes do Ministério de Relações Exteriores (MRE) e do Ministério de Direitos Humanos e Cidadania (MDHC).

A comitiva das Nações Unidas veio ao Brasil com o intuito de conhecer a situação dos povos indígenas e negro do país, bem como de outros grupos e comunidades brasileiras.

“A comitiva das Nações Unidas veio ao Brasil com o intuito de conhecer a situação dos povos indígenas”

Alice, assessora especial da ONU para Prevenção do Genocídio, reunida com a Hutukara e Urihi. Foto: Hutukara Associação Yanomami

Alice, assessora especial da ONU para Prevenção do Genocídio, reunida com a Hutukara e Urihi. Foto: Hutukara Associação Yanomami

Em Roraima, a comitiva ouviu as organizações e dialogou sobre os modos de vida, a importância do território, os desafios que enfrentam e sobre a forma como se organizam no estado. Entre os desafios, o avanço do garimpo ilegal, a crise humanitária na Terra Indígena Yanomami, os constantes ataques contra os povos e o pedido para a urgente e necessário da retirada dos garimpeiros e demais invasores das terras indígenas no estado de Roraima.

Reunida com a Hutukara por quase duas horas, a assessora da ONU ouviu relatos das lideranças indígenas de descaso e abandono por parte do poder público, principalmente, durante os quatro anos do governo de Jair Bolsonaro. A falta de fiscalização e de medicamentos na maior terra indígena do Brasil associado ao incentivo e a invasão do garimpo acarretou consequência graves aos povos indígenas, listou a organização indígena. O resultado foi surtos de doenças, assédios sexuais, ataques violentos e mortes na Terra Indígena Yanomami.

“Em Roraima, Alice ouviu as organizações e dialogou sobre os modos de vida, a importância do território, os desafios que enfrentam e sobre a forma como se organizam”

Alice, assessora especial da ONU para Prevenção do Genocídio, e dialógo com as lideranças da Urihi Associação Yanomami. Foto: Urihi Associação Yanomami

Alice, assessora especial da ONU para Prevenção do Genocídio, e dialógo com as lideranças da Urihi Associação Yanomami. Foto: Urihi Associação Yanomami

Em janeiro deste ano, o Ministério de Saúde decretou o Estado de Emergência em Saúde Pública de Importância Nacional (ESPIN) e medidas de combate ao garimpo ilegal, depois da morte de 570 crianças por doenças tratáveis, alertou a organização indígena. A portaria foi publicada no dia 20 de janeiro, em uma edição extra do Diário Oficial da União.

“Destruíram a natureza desde os anos de 1980 e, agora, mais recentemente, de 2020 para cá o garimpo matou e continua matando o nosso povo, a nossa terra-floresta. Denunciamos nos últimos quatro anos, mas o governo escondeu o nosso problema”, disse o xamã e líder do povo Yanomami, Davi Kopenawa, presidente da Hutukara.

Pouco antes de se reunir com a Hutukara e a Urihi, Alice Wairimu, esteve na Casa de Saúde Indígena (Casai) Yanomami, onde ouviu os relatos dos Yanomami e da equipe de saúde.

“O garimpo matou e continua matando o nosso povo, a nossa terra-floresta, denunciamos nos últimos quatro anos, mas o governo escondeu o nosso problema”

A visita da assessora especial para Prevenção do Genocídio da ONU, Alice Wairimu Nderitu, tem por objetivo conhecer a situação dos povos indígenas em Roraima. Foto: ASCOM/CIR e Charlene Wapichana/ rede Wakywa

A visita da assessora especial para Prevenção do Genocídio da ONU, Alice Wairimu Nderitu, tem por objetivo conhecer a situação dos povos indígenas em Roraima. Foto: ASCOM/CIR e Charlene Wapichana/ rede Wakywa

As lideranças relataram a violação dos direitos que a população vivencia, assim como o descaso e o abandono em relação a saúde indígena. Fruto dos “quatros anos do governo Bolsonaro que incentivou o discurso de ódio contra a população, o resultado foi catastrófico, com um agravo no índice de mortalidade infantil por causas tratáveis, bem como, doenças infecciosas e violência sexual contra as mulheres Yanomami”, lista a Urihi.

“O plano do governo sempre foi de exterminar a população Yanomami, denunciamos, clamamos e não fomos ouvidos, e o resultado foi a morte do nosso povo. O garimpo envenenou nossas águas e nossos alimentos”, disse o presidente desta associação, Júnior Hekurari Yanomami.

Além de reunir-se com as organizações indígenas, a assessora especial visitou a comunidade Pium, Terra Indígena Manoá/Pium, localizada na região da Serra da Lua, no município de Bonfim.

Foi “a única comunidade indígena em Roraima a ser visitada, um acontecimento importante aos povos indígenas desse território que foram ouvidos pelas Nações Unidas e demonstrou a sua realidade, diversidade cultural e sustentabilidade baseada na agricultura familiar”, destacou o CIR em seu site.

“O plano do governo sempre foi de exterminar a população Yanomami, denunciamos, clamamos e não fomos ouvidos”

Foto: Escritório de Prevenção de Genocídio da ONU

Foto: Escritório de Prevenção de Genocídio da ONU

A organização indígena declarou ainda que “para comunidade foi importante ter esse espaço enquanto povos indígenas, de ser escutado mundialmente e de mostrar a realidade, a cultura, a agricultura familiar dos povos indígenas”.

Ao final das visitas por Roraima, a Alice Nderitu esclareceu o papel da sua visita ao Brasil, assim como explicou que final de sua visita será produzido um relatório com o resultado das reuniões e deve ser entregue ao governo federal. O documento também será divulgado para as organizações, explicou a assessora especial da ONU.

A assessora especial esteve também no Mato Grosso do Sul, Brasília e Rio de Janeiro.

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