Articulação das Pastorais do Campo encerra encontro com mensagem de compromisso com a Campanha da Fraternidade
Os agentes das Pastorais do Campo encerraram o encontro com a carta de esperança e compromisso com o tema da Campanha da Fraternidade
Pensar em soberania alimentar sem território livre é um desafio para o bem viver dos povos. Em sintonia com o tema da Campanha da Fraternidade, agentes das Pastorais do Campo em momento de formação, debateram a partir da realidade dos territórios o tema “Fraternidade e Fome” com o lema “Dai-lhes vós mesmo de comer” (Mt 14,16). Reunidos no Centro Cultural de Brasília (CCB), em Brasília (DF), entre os dias 27/02 e 01/03, representantes das Pastorais (Cáritas, Conselho Indigenista Missionário, Comissão Pastoral da Terra, Conselho Pastoral dos Pescadores, Pastoral da Juventude Rural e Serviço Pastoral dos Migrantes) trocaram conhecimentos através da metodologia do “ver”, “julgar” e “agir”.
A proposta da 60ª Campanha da Fraternidade da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) tem o objetivo de sensibilizar a sociedade a refletir sobre a fome no país e fomentar ações que possam gerar impactos para minimizar a fome no Brasil.
Lideranças dos Povos e Comunidades Tradicionais partilharam suas experiências no cultivo do alimento saudável, relatos de defesa de seus territórios para garantir a soberania e segurança alimentar. “Defender a nossa semente crioula é preservar a nossa cultura e a história dos nossos pais. Estamos lutando dia após dia contra os transgênicos que ameaçam a nossa comunidade. Nós defendemos o verdadeiro alimento, a saúde e o meio ambiente deste mundo ambicioso e capitalista”, disse a camponesa Luzia Bezerra, da Paraíba.
“Nós defendemos o verdadeiro alimento, a saúde e o meio ambiente deste mundo ambicioso e capitalista”
As partilhas das lideranças evidenciam a violação ao direito à alimentação, as consequências de o país ter voltado ao mapa da fome e sobretudo o cuidado com a casa comum. Entre os relatos partilhados, os povos denunciaram o sofrimento de famílias que foram expulsas de suas terras, a contaminação das águas, da terra e destruição dos biomas. Ao analisar as realidades em torno da temática da fome, os participantes fizeram questionamentos sobre a normalização da fome no Brasil.
Diante ao novo cenário do governo brasileiro e a retomada das estruturas governamentais com a volta do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea), os agentes destacaram que não basta somente tratar da questão da fome. É necessário garantir e buscar novos direitos que garantam terra, teto e trabalho.
Os agentes das Pastorais do Campo encerraram o encontro com a carta de esperança e compromisso com o tema da Campanha da Fraternidade. A mensagem ressalta que é possível construir de forma coletiva dispositivos para sanar a fome e melhorar as condições de vida do povo brasileiro, a exemplo da demarcação dos territórios dos povos originários, da titulação das terras quilombolas, do reconhecimento dos territórios pesqueiros, da reforma agrária, do enfretamento ao trabalho análogo a escravidão e, da violência no campo e a preservação da casa comum.
A mensagem de esperança reforça o compromisso em sintonia com a Campanha da Fraternidade, os povos do campo, das águas e das florestas com ações concretas nas comunidades e acompanhar os órgãos do Estado comprometidos com a erradicação da fome.
Leia a carta na íntegra:
Mensagem de Esperança
… a esperança não engana. Porque o amor de Deus foi derramado em nossos
corações pelo Espírito Santo que nos foi dado (Rm 5,5)
Nós, das Pastorais do Campo (Cáritas, Cimi, CPT, CPP, PJR, SPM), reunidos entre os dias 27 de fevereiro e 1º de março de 2023, em Brasília, refletimos, a partir da Campanha da Fraternidade 2023 (Fraternidade e fome), sobre a escandalosa realidade em que se encontram 125,2 milhões de pessoas que convivem com algum grau de Insegurança Alimentar, entre os quais cerca de 33,1 milhões de irmãos e irmãs que passam fome.
A partir das falas das representações de Povos e Comunidades Tradicionais, detectamos os riscos e as ameaças que advêm das ações de mineradoras, do modelo energético (fotovoltaica, eólica , hidrelétrica, nuclear), da pesca predatória, do desmatamento, dos grileiros, dos garimpos, dos impérios do hidro e agronegócio, das corporações e do Estado, prejudicando os modos de vida, a memória ancestral, a relação com a natureza e alterando as práticas cotidianas como o lazer, hábitos alimentares, vida familiar, trabalho e costumes.
A realidade da fome em nosso país tem cor, gênero, território e causa uma profunda inquietude em nossos corações.
Apesar do mar revolto, o atravessaremos! Ancorando-nos na prática libertadora de Jesus de Nazaré e nas experiências das comunidades, seguiremos colaborando com ações que contribuam efetivamente para o fortalecimento das redes comunitárias com atuações de combate à fome e a todas as desigualdades socioeconômicas.
Enxergando um novo horizonte que se descortina em nosso país, com a mudança de governo e a possibilidade da construção coletiva de dispositivos que melhorem as condições de vida do povo brasileiro, a exemplo da demarcação dos territórios dos povos originários, da titulação das terras quilombolas, do reconhecimento dos territórios pesqueiros, da reforma agrária, do enfretamento ao trabalho análogo a escravidão e, da violência no campo e a preservação da casa comum.
Nas lutas históricas e nas experiências dos povos do campo, das águas e das florestas, encontramos potenciais para superar a fome: a produção de alimentos sadios, as feiras agroecológicas, os mutirões de plantio e colheitas, o cuidado com as sementes crioulas, a preservação das águas, o carinho com a terra e a solidariedade com os mais vulneráveis.
Diante dos clamores vindos dos territórios e do anúncio de Jesus: “Dai-lhes vós mesmos de comer” (Mt 14,16), reafirmamos nossa missão de serviço pastoral às comunidades e povos tradicionais na garantia da soberania e segurança alimentar e nutricional.
Pela esperança, nós, das Pastorais do Campo, em sintonia com a Campanha da Fraternidade nos comprometemos:
- Com ações para envolver as nossas comunidades com a produção de alimentos saudáveis para famílias em situação de vulnerabilidade neste ano de 2023 junto aos órgãos comprometidos com a campanha contra a fome.
- A sermos vigilantes às novas ações do governo federal, em especial ao Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea).
- A apoiar a juventude na permanência em seus territórios de vida e resistência ao desenraizamento cultural.
- Com projetos para a criação de banco de alimentos nos municípios.
- Com mobilizações para conscientizar a importância e cuidado com a água.
Articulação das Pastorais do Campo
Brasília, 01 de março de 2023