27/10/2022

No Maranhão, Cimi promove formação sobre política e comunicação para lideranças indígenas

A capacitação aconteceu entre os dias 15 e 19 de outubro, em Santa Inês (MA); entre os objetivos, estava a concretização de estratégias de resistência e de autonomia nos territórios

No Maranhão, Cimi promove formação sobre política e comunicação para lideranças indígenas. Foto: Jesica Carvalho/Cimi Regional Maranhão

Por Jesica Carvalho, da Assessoria de Comunicação do Cimi Regional Maranhão

Entre os dias 15 e 19 de outubro, o Conselho Indigenista Missionário (Cimi) – Regional Maranhão promoveu a I Etapa de Formação Política e Comunicação para lideranças indígenas do Maranhão. Na ocasião, participaram lideranças dos povos Awa Guajá, Anapuru Muypurá, Akroá Gamella, Apranejkrá-Canela, Memortumré-Canela, Gavião, Ka’apor, Kari’u Kariri, Krikati e Krepym Katejê.

A formação teve como objetivos subsidiar as lideranças para que se apropriem de seus direitos constitucionais e da legislação internacional; concretizar estratégias de resistência e de autonomia nos territórios frente a projetos de desenvolvimento econômico; e fortalecer a comunicação entre os povos indígenas e deles com a sociedade, na disputa de narrativas, com capacitação técnica e consolidação da aliança entre os povos.

A capacitação foi iniciada com a memória dos dois encontros de juventudes realizados pelo Cimi – Regional Maranhão, em novembro de 2021 e março de 2022. No primeiro, a Economia Verde, o marco temporal e o papel da juventude indígena nos territórios estiveram entre os temas tratados. Por sua vez, o segundo encontro trabalhou a temática “Tem aldeia na política”, processos de retomada, direitos indígenas, racismo estrutural, território e o Bem Viver.

Tepjit Gavião destacou que esse era um momento de a juventude aprender para poder representar os ancestrais que lutaram pelos seus territórios. “Essa é a oportunidade de a juventude lutar pelos povos indígenas, porque já chega de sangue indígena. Nossos parentes vêm sofrendo muitas violências e discriminações”, explicou.

“Essa é a oportunidade de a juventude lutar pelos povos indígenas, porque já chega de sangue indígena”

A capacitação foi iniciada com a memória dos dois encontros de juventudes realizados pelo Cimi – Regional Maranhão, em novembro de 2021 e março de 2022. Foto: Jesica Carvalho/Cimi Regional Maranhão

O segundo dia de formação contou com o debate sobre a política nos territórios indígenas, a partir do tema “Tem política na aldeia?”. Nos trabalhos em grupo, as lideranças puderam refletir sobre como acontece as campanhas, a escolha de candidatos em seus territórios e como votaram no primeiro turno das eleições de 2022.

O Cimi – Regional Maranhão apresentou, na oportunidade, detalhes sobre como acontece a política no Brasil, desde a função dos três poderes até a composição dos partidos eleitorais no Congresso Nacional e a atuação destes em relação aos projetos de lei relativos à causa indígena. Tatuxa’a Awá Guajá relatou a importância do encontro para os povos indígenas. “É importante demais para nós ficarmos fortalecidos, igual ao galho de manga forte que não quebra”, destacou.

“É importante demais para nós ficarmos fortalecidos, igual ao galho de manga forte que não quebra”

Nos trabalhos em grupo, as lideranças puderam refletir sobre como acontece as campanhas, a escolha de candidatos em seus territórios e como votaram no primeiro turno das eleições de 2022. Foto: Jesica Carvalho/Cimi Regional Maranhão

“A juventude indígena deve estar lutando junto, discutindo, aprofundando os temas, conhecendo os seus direitos para que possa estar fortalecida, seja para conquistar o território, seja para defender o território, seja para melhorar as políticas públicas, porque os mais velhos já deram a contribuição deles, agora é a vez de vocês”, pontuou Gilderlan Rodrigues, da coordenação colegiada do Cimi – Regional Maranhão.

Seguindo as atividades, no terceiro dia os participantes partilharam as experiências de luta nas terras indígenas. Os povos Akroá Gamella e Ka’apor apresentaram a organização dos conselhos de lideranças e trataram sobre a resistência às invasões em seus territórios. “Retomar o território é lutar a toda hora e todo dia”, evidenciou Cruupoohré Akróa Gamella.

“Retomar o território é lutar a toda hora e todo dia”

Nos trabalhos de grupo, as lideranças refletiram sobre a conquista dos territórios e a história de luta dos povos. “Nós não somos ainda aldeados, mas temos um lugar em que nos reunimos, só que estamos em busca de um território e da educação. Queremos uma escola para ensinar a nossa língua, porque a língua deixou de ser usada por causa da violência que o nosso povo sofreu”, ressaltou Amanda Kariú Kariri

 

Comunicação

Nos últimos dois dias de encontro, as lideranças participaram da formação sobre a comunicação. Com o tema “Comunicação popular e povos indígenas: disputa de narrativas e resistência ao capitalismo”, foram discutidos aspectos referentes ao processo de comunicação nos territórios, a comunicação do Cimi, comunicação popular, desafios para a comunicação indígena, segurança da informação, entre outros temas.

Na ocasião, os participantes receberam capacitação técnica para a gravação e edição de vídeos, criação de e-mail e armazenamento de arquivos no Google Drive e fotografia, ministrada pelo fotógrafo indígena Cruupoohré Akróa Gamella. “Levei aos parentes a partilha do que eu aprendi, de como fotografar e comunicar e, assim, ir construindo essa narrativa de nós para nós para fortalecer a defesa do nosso território”, explicou.

A formação faz parte de um ciclo de capacitações promovidas pelo Cimi – Regional Maranhão o qual visa a qualificação de lideranças sobre os direitos indígenas e questões territoriais. “Essa formação tem o objetivo de subsidiar as lideranças para publicar os seus conteúdos, seus textos para que possam influenciar nessa disputa de narrativas em relação aos direitos indígenas”, afirmou Rosana Diniz, da coordenação colegiada do Cimi – Regional Maranhão.

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