06/09/2022

Encontro no território Xerente discute experiências de luta e práticas ancestrais de proteção territorial

Atividade foi realizada na TI Xerente, no Tocantins, nos primeiros dias de setembro; povo divulgou nota denunciando invasões e tentativas de arrendamento do território

Encontro com o tema “Experiências de Luta e Práticas Ancestrais do Povo Xerente na Proteção Territorial” ocorreu na Aldeia Nova, TI Xerente, no início de setembro de 2022. Foto: Cimi Regional Goiás/Tocantins

Encontro com o tema “Experiências de Luta e Práticas Ancestrais do Povo Xerente na Proteção Territorial” ocorreu na Aldeia Nova, TI Xerente, no início de setembro de 2022. Foto: Cimi Regional Goiás/Tocantins

Por Cimi Regional Goiás/Tocantins

Após dois anos de pandemia, o Conselho Indigenista Missionário – Cimi Regional Goiás/Tocantins volta a realizar os encontros de formação de forma presencial nos territórios indígena, com a missão de apoiar os povos a serviço dos seus projetos de vida e futuro em busca do “Bem Viver”, em defesa dos direitos e garantias das políticas públicas previstos na Constituição Federal brasileira de 1988.

E é nesse sentido que durante os dias 1 a 4 de setembro de 2022 o Cimi realizou um encontro de formação no território Xerente, com o tema “Experiências de luta e práticas ancestrais do povo Xerente na proteção territorial”. A atividade foi realizada na Aldeia Nova, localizada na Terra Indígena (TI) Xerente.

Participaram do encontro 50 indígenas (anciões, jovens e mulheres) vindos de dez aldeias: Aldeia Nova, São José, Traíra, Zé Brito, Cristalino, Karêhu, Salto, Piabanha, Pé da Serra e Brejo do Sitio. Essa formação teve como objetivo apresentar e identificar os problemas que vêm impactando de forma negativa o povo Xerente e discutir possíveis soluções.

Além disso, o encontro deu oportunidade para os anciões contarem a trajetória sofrida do povo para a conquista da demarcação territorial Xerente no passado. Através da oralidade dos mais velhos, foi feita a memória dos duros conflitos enfrentados pelos Xerente antes da demarcação e nos anos seguintes pós demarcação.

Através da história oral repassada de geração em geração, esses anciões relataram as experiências de luta e práticas ancestrais do povo Xerente. Juntamente com as lideranças presentes no encontro, eles ressaltaram a importante missão dos seus ancestrais na defesa do território, o cuidado com a mãe terra e a luta para a conquista e demarcação territorial onde vivem.

No decorrer das falas, foi sugerido principalmente aos jovens a importância de continuarem na defesa do território contra os grandes projetos do capital que preocupam os povos indígena. Também foram lembrados os nomes das lideranças Xerente que já se foram dessa vida, mas que foram de grande importância durante o processo de demarcação da terra.

Encontro com o tema “Experiências de Luta e Práticas Ancestrais do Povo Xerente na Proteção Territorial” ocorreu na Aldeia Nova, TI Xerente, no início de setembro de 2022. Foto: Cimi Regional Goiás/Tocantins

Encontro com o tema “Experiências de Luta e Práticas Ancestrais do Povo Xerente na Proteção Territorial” ocorreu na Aldeia Nova, TI Xerente, no início de setembro de 2022. Foto: Cimi Regional Goiás/Tocantins

Junto às lideranças indígenas, debatemos a conjuntura atual e os desafios dos povos indígenas, considerando o período eleitoral, em que os povos sofrem assédios diários por parte dos candidatos. Também se discutiu sobre os partidos que mais votam contra os povos indígenas no Congresso Nacional, lembrando que vivemos atualmente em um governo anti-indígena, onde constantemente ocorrem ataques aos direitos desses povos.

Os tempos difíceis que enfrentamos hoje também foram debatidos: por um lado. a pandemia do Coronavírus, que continua; por outro, um Congresso Nacional anti-indígena, que não mede esforços para prejudicar os povos originários.

Encontro com o tema “Experiências de Luta e Práticas Ancestrais do Povo Xerente na Proteção Territorial” ocorreu na Aldeia Nova, TI Xerente, no início de setembro de 2022. Foto: Cimi Regional Goiás/Tocantins

Encontro com o tema “Experiências de Luta e Práticas Ancestrais do Povo Xerente na Proteção Territorial” ocorreu na Aldeia Nova, TI Xerente, no início de setembro de 2022. Foto: Cimi Regional Goiás/Tocantins

A análise de conjuntura política e econômica apresentou elementos para o debate acerca dos projetos de vida dos povos indígenas, que valorizam a vida, ao contrário de projetos do grande capital, que só trazem resultados negativos para os povos e a natureza e são, por isso, considerados projetos de morte. Também se discutiu, neste momento, os projetos de leis que tramitam no meio político e que causam riscos para a causa indígena, como o Projeto de Lei (PL) 490/2007 e a tese inconstitucional do “marco temporal”.

Projetos voltados para a desterritorialização dos povos indígenas, tais como arrendamento de terra e mineração foram discutidos de forma incisiva, com a participação de todos. Os indígenas do povo Xerente reafirmaram sua posição contrária a esses projetos, por meio de uma nota de repúdio.

Ao final do encontro, as lideranças parabenizaram o Cimi pelos seus 50 anos de história em apoio à luta e na defesa dos direitos indígenas. Falaram ainda da importância das formações realizadas pelo Cimi para o fortalecimento das lideranças indígenas frente às lutas dos povos e seu movimento. Eles consideram que o momento de formação era de profunda necessidade para o povo, devido à grave conjuntura atual e ao período eleitoral.

Confira a nota do povo Xerente:

 

 

Nota de Repúdio

 

Nós, Lideranças Indígenas presentes no Encontro de formação “Experiências de Luta e Práticas Ancestrais do Povo Xerente na Proteção Territorial”, no território Xerente, organizado pelo Cimi GO/TO e realizado na Aldeia Nova – Tocantins, manifestamos repúdio em decorrência das violações dos direitos Akwê/Xerente. Nos últimos anos, na TI Xerente e na TI Funil, teve um aumento significativo de extração ilegal de madeira. Cabe destacar também as diversas tentativas de arrendamento de terras para monocultura no território demarcado e algumas delas já em via de conclusão.

Declaramos que não apoiamos este tipo de crime praticado, visto que a Constituição Brasileira assegura aos povos originários o usufruto exclusivo de suas terras tradicionais e dos recursos naturais nelas existentes.

Estamos atentos, e solicitamos que o Estado brasileiro, através dos órgãos de proteção das terras indígenas, providencie em caráter de urgência medidas protetivas para punir os atos criminosos e violação dos direitos do povo Akwê/Xerente.

 Aldeia Nova (TO), 04 de setembro de 2022

Lideranças Akwê/Xerente

 

 

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