11/08/2022

Povos do Médio Rio Solimões e Afluentes (AM), realizam Ato Público contra o marco temporal e a política anti-indígena do governo Bolsonaro

Mais de 120 indígenas dos povos dos municípios de Tefé, Alvarães e Uarini participaram do Ato Público que marcou o Dia Internacional dos Povos Indígenas

Ato Público que marcou o Dia Internacional dos Povos Indígenas, em Tefé/AM. Fotos: Fabio Pereira

Por Lígia Kloster Apel, da Assessoria de Comunicação do Cimi Norte I

A Praça Remanso do Boto, localizada no centro da cidade de Tefé, na região do médio rio Solimões, no Amazonas, foi o local escolhido pelos mais de 120 indígenas dos povos Kokama, Kambeba, Kaixana, Miranha, Madija Kulina, Tikuna e Apurinã, dos municípios de Tefé, Alvarães e Uarini, para a realização, nesse dia 09 de agosto, do Ato Contra o Marco Temporal e a Política Anti-indígena do Governo Bolsonaro, e para marcar com seu grito de resistência no Dia Internacional dos Povos Indígenas.

Organizado pela União dos Povos Indígenas do Médio Solimões e Afluentes (UNIPI-MRSA), o Ato contou com o apoio dos movimentos indígenas e lideranças de base dos municípios participantes.

Tomé Cruz, liderança indígena do Povo Kambeba, de Tefé, e membro da diretoria da UNIPI-MRSA, citando a Constituição Federal de 1988, disse que o Ato é legítimo e é sinal da resistência dos indígenas para que seus direitos parem de ser violados: “é legítimo o movimento indígena se manifestar pela manutenção e garantia de seus direitos. O Artigo 231 da Constituição Federal foi nossa conquista e não aceitaremos nenhum retrocesso”, anima a todos.

“É legítimo o movimento indígena se manifestar pela manutenção e garantia de seus direitos. O Artigo 231 da Constituição Federal foi nossa conquista e não aceitaremos nenhum retrocesso”

Ato Público que marcou o Dia Internacional dos Povos Indígenas, em Tefé/AM. Fotos: Fabio Pereira

A principal palavra de ordem proferida, fervorosamente, pelos indígenas foi “Não ao Marco Temporal”, pois entendem que essa tese é uma das maiores ameaças ao direito tradicional dos povos indígenas em ter suas terras demarcadas e preservadas e, com elas, garantirem sua existência.

Além de se posicionarem contra o marco temporal, as lideranças indígenas manifestaram seu repúdio contra o governo Bolsonaro, que vem agindo como um dos maiores violadores de direitos dos povos indígenas, tem estimulado as violências contra lideranças e comunidades inteiras e apoia garimpeiros, madeireiros e outros invasores dos territórios indígenas.

A maioria das terras Indígenas dos municípios que compreende a região do Médio Solimões e Afluentes (AM) não são demarcadas, estão sem providência e, constantemente, são invadidas, depredadas, violadas e saqueados os seus recursos naturais. Além disso, as lideranças e demais moradores sofrem perseguição e ameaças quando lutam pela sua proteção.

O Ato contou com grande participação de alunos e professores das escolas indígenas de Tefé, que deram, na Praça, uma aula de cidadania e defesa de direitos. O Professor Jukson Kambeba, da Escola Indígena Santa Cruz, da aldeia Barreira da Missão de Baixo, em Tefé, reforçou o repúdio contra a política genocida de Bolsonaro e denunciou a falta de acesso aos espaços de controle social, onde as decisões sobre seus interesses são decididos.

“A maioria das terras Indígenas no Médio Solimões e Afluentes não são demarcadas, estão sem providência e, constantemente, são invadidas, depredadas, violadas e saqueados”

Ato Público que marcou o Dia Internacional dos Povos Indígenas, em Tefé/AM. Fotos: Fabio Pereira

“A nossa luta não é de agora, desde 1988, quando a Constituição assegurou nossos direitos na lei, estamos lutando para que nossos direitos sejam reconhecidos e respeitos, e que agora vem sendo desfigurado por esse governo genocida que promove a morte de nossos parentes. Sofremos todos os tipos de violências por não termos acesso aos espaços de debate, de decisões sobre o que é de interesse nosso”, afirmou.

Fabio Pereira, do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) da equipe de Tefé, destacou a importância e o significado do ato de reivindicar, “sobretudo nesse tempo que os povos indígenas tem sido alvo de violência por parte do governo Bolsonaro”. Disse ainda que o Cimi se solidariza com a luta dos povos indígenas, que há mais de 50 anos se posiciona ao lado do movimento indígena, contribuindo com a luta e a salvaguarda de seus direitos. “Temos a oportunidade de mudar o cenário e viver novos tempos, tempos que poderemos usufruir de direitos. Para isso precisamos ter consciência de classe e votar consciente, em políticos que defendem nossas bandeiras de lutas”, destacou o missionário indigenista.

“Temos a oportunidade de mudar o cenário e viver novos tempos, para isso precisamos ter consciência de classe e votar consciente”

Ato Público que marcou o Dia Internacional dos Povos Indígenas, em Tefé/AM. Fotos: Fabio Pereira

Consagrando a luta e celebrando a vida, o Ato foi encerrado com uma grande dança e cantos tradicionais com os povos indígenas presentes. A UNIPI-MRSA agradeceu a presença e convocou a todos para o próximo Ato.

Organizadas pela UNIPI-MRSA, movimentos indígenas e aliados, as manifestações contra o marco temporal e contra o governo Bolsonaro são realizadas todos os meses na cidade de Tefé, região do médio rio Solimões, “lugar de Terra e Força Indígena”. O próximo já está marcado para o final do mês de setembro e já conta com grande articulação e convocação para os povos indígenas ecoarem, mais uma vez, seu grito por respeito aos direitos dos povos originários e pelo direito que têm de viver em suas terras indígenas.

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