Igreja do Brasil lança Documento de Santarém 50 anos: Gratidão e Profecia
Documento de Santarém 50 anos: Gratidão e Profecia, foi tornado público durante a 26ª Assembleia Geral da Conferência Nacional dos Religiosos do Brasil (CRB)
A Comissão Episcopal para a Amazônia, da CNBB e a Rede Eclesial Pan-Amazônica (REPAM-Brasil) em parceria com a Conferência Nacional dos Religiosos do Brasil CRB Nacional, lançaram na tarde desta quarta, 20, durante a 26ª Assembleia Geral da Conferência Nacional dos Religiosos do Brasil (CRB), o Documento de Santarém 50 anos: Gratidão e Profecia.
Como uma atualização do Documento de Santarém que propôs linhas pastorais para a missão da Igreja na Amazônia, o ‘Gratidão e Profecia’, foi elaborado artesanalmente, isto é, por muitas mãos e mentes de religiosos, religiosas, leigos, leigas, amazônidas, bispos, padres, cardeais. “Diferentemente do encontro de 72, sobre o qual registro fotográfico mostra uma religiosa, este encontro reuniu mais de cem pessoas entre religiosas, bispos, cardeais, leigos e leigas”, afirmou a presidente da CRB Nacional, Irmã Maria Inês Vieira Ribeiro, mad, que participou das reflexões e elaboração da Declaração. “Foi um encontro verdadeiramente sinodal. “Há 50 anos este encontro uniu os bispos da Amazônia para por em prática o Vaticano II e Medellin que tinha recentemente acontecido”, acrescentou.
“Há 50 anos este encontro uniu os bispos da Amazônia para por em prática o Vaticano II e Medellin que tinha recentemente acontecido”
Para a Profa. Márcia Maria de Oliveira, “dar a conhecer a Amazônia, torná-la visível ao mundo, é um mérito dos bispos pelo grito profético em 1972 que denunciavam as ações do governo militar, – que hoje percebemos que continua por meio do governo federal”, enfatizou.
Sobre a resolução que considera ordenação diaconal das mulheres, a professora Márcia enfatizou que “pensando a Eucaristia como direito de todos, nos apoiamos na orientação do Documento Final do Sínodo Especial para a Amazônia, a necessidade que temos de pensarmos a ordenação de homens casados, a ordenação de diáconos permanentes, a ordenação diaconal de mulheres, até mesmo porque não encontramos teológica e pastoralmente impedimentos para isso”, disse.
Durante a Coletiva de lançamento, o bispo da Prelazia de Itacoatiara, Am, Dom José Ionilton Lisboa de Oliveira, svd, destacou a prioridades do Documento: “Fortalecimento das comunidades eclesiais de base, ministerialidade e participação das mulheres; a formação dos discípulos missionários na Amazônia; defesa da vida dos povos da Amazônia; o cuidado com a casa comum, a evangelização das juventudes e nesta, a valorização da pastoral da juventude; uma Igreja na Amazônia com rostos amazônicos”.
“Dar a conhecer a Amazônia, torná-la visível ao mundo, é um mérito dos bispos pelo grito profético em 1972 que denunciavam as ações do governo militar, – que hoje percebemos que continua por meio do governo federal”
A formação eficaz e eficiente de missionários para a Amazônia
A formação de qualidade dos missionários e missionárias para a Amazônia foi tema de debate durante o Encontro e está contida no documento. Há 50 anos, este tema já era uma preocupação dos bispos, segundo o Arcebispo de Manaus, Dom Leonardo Ulrich Steiner, OFM. “É necessário cuidarmos da formação para que nossa presença seja qualificada e inserida. O laicato é cada vez mais ativo, por meio das mulheres, das lideranças atuantes na na catequese e diversas pastorais”, ressaltou.
A violência e violação dos Direitos dos Povos originários
Segundo Dom Leonardo, a violência contra os povos originários tem causado profunda dor à Igreja e foi categórico em dizer que a violência vem de fora e não é característica própria dos povos amazônidas. “O povo é muito fraterno e acolhedor. A morte do jornalista Dom e do indigenista Bruno, é um pequeno sinal da violência que está acontecendo em nossa região. A violência vem de fora pela ganância, pela dominação da natureza, da cultura, destruição das terras indígenas, da natureza, das culturas”.
O arcebispo acrescentou, ainda, que diante da violência, a Igreja reafirma a sua presença entre os povos da Amazônia e está seguro de que “os povos, no território estão mais organizados, graças à presença da Igreja”.
Migrantes
Também os migrantes ganharam um lugar privilegiado no Documento. “Nossa região é uma região de migração. Manaus e Roraima receberam grande número de venezuelanos, haitianos e pessoas que vem de outro lugar.” Para Dom Leonardo o inchaço das cidades, sem organização nem apoio para que haja saneamento, água potável em todas as casas, o aumento da violência, é uma preocupação. E acrescentou que “Santarém nos ajudará muito na Igreja da Amazônia, mas pode servir de inspiração para a outras Igrejas e comunidades”.
A Vida Religiosa é uma bênção
Dom Leonardo considera a presença da Vida Religiosa Consagrada em sua Arquidiocese, uma bênção. São 48 Congregações Religiosas, com religiosas e religiosas inserido/as nas periferias de Manaus e no interior. “Deus abençoe as nossas congregações e a Vida Religiosa e nos dê força e coragem para anunciarmos a boa nova do Evangelho, para que o Reino de Deus cresça e dê frutos para sermos uma Igreja samaritana e sinodal”, concluiu.
“Os religiosos e religiosa estão onde ninguém quer estar e procuram estar com quem ninguém quer estar, disse, parafraseando o Sínodo para a Amazônia”, afirmou Dom Ionilton.
“Cuidado para não repetirmos ações colonizadoras na missão”
Mulher negra, filha de seringueiros, ribeirinha, cujos pais migraram do Nordeste na época da borracha, membro da Comissão Pastoral da Terra (CPT), Maria Petronila Neto foi apoiada pela Assembleia, com palmas, ao pedir aos Consagrados ‘cuidados’ na missão para não repetirem ações colonizadoras na missão juntos aos povos amazônidas. “Muito cuidado, dentro das nossas ações, para não repetirmos gestos e atitudes que matam, que excluem e que violam”, pediu. “A Igreja na Amazônia mais do que fazer deve pensar como fazer essa missão.”
Petronila agradeceu a presença da Igreja na Amazônia. “Graças a presença da Igreja ainda temos vida na Amazônia. As vidas tombadas dos mártires não foram em vão”.
“Graças a presença da Igreja ainda temos vida na Amazônia. As vidas tombadas dos mártires não foram em vão”
Fizeram parte da mesa, o arcebispo de Manaus, Dom Leonardo Steiner, OFM, nomeado Cardeal recentemente pelo Papa Francisco e carinhosamente chamado “Cardeal da Amazonia”, pelo povo brasileiro, membro da Diretoria da REPAM-Brasil; a presidente Nacional da CRB, Ir. Maria Inês Vieira Ribeiro, mad, a Profa. Dra. Márcia Maria de Oliveira, da Universidade Federal de Roraima, nomeada perita para o Sínodo para a Amazônia pelo Papa Francisco; o Arcebispo de Manaus, Maria Petrolina Neto, membro da Comissão Pastoral da Terra (CPT) e membro do Comitê REPAM-Brasil, da Arquidiocese de Porto Velho, RO.
O Documento de Santarém 50 anos: Gratidão e Profecia podem ser adquirido pelas Edições CNBB e também durante a Assembleia da CRB Nacional que termina na próxima sexta-feira, 22.
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