22/03/2022

Juntos pelo Ribeirão: ação educativa busca estimular alunos de Palmas a preservarem o Taquaruçu Grande

Marcando o Dia Mundial da Água, 22 de março, Cimi Regional Goiás-Tocantins e a Associação Água Doce – Movimento de Proteção ao Taquaruçu Grande, lançam livreto “Preservar a água é garantir a vida”

Lançamento do livreto “Preservar a água é garantir a vida”. Foto: Laudovina Pereira, Cimi/Regional Goiás-Tocantins

Por Laudovina Pereira, Cimi/Regional Goiás-Tocantins

A erosão e o assoreamento, provocados pelo desmatamento, são os principais fatores de degradação do Ribeirão Taquaruçu Grande, responsável por 66% do abastecimento de água de Palmas, capital do Tocantins. Essas informações fazem parte do livreto “Preservar a água é garantir a vida”, que foi realizado o lançamento na manhã desta terça-feira, dia 22 de março, Dia Mundial da Água, às 10 horas, na Escola de Tempo Integral Fidêncio Bogo, em Palmas, no Tocantins. A publicação, de 41 páginas, será entregue aos estudantes do 6º ao 9º ano das escolas de Palmas. A iniciativa é do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), Regional Goiás/Tocantins e da Associação Água Doce – Movimento de Proteção ao Taquaruçu Grande.

 

Redução drástica do volume de água

Segundo o pesquisador Altair Sales Barbosa, em média dez pequenos rios desaparecem a cada ano no Bioma Cerrado devido ao desmatamento, provocado principalmente pelo avanço da monocultura.  Segundo ele, que é referência no tema, esses cursos d’água são alimentadores de rios maiores, com a redução do volume de água, a vazão diminui ao longo da bacia comprometendo todo o ecossistema e a biodiversidade. É o que se vê hoje na bacia do Taquaruçu Grande. A degradação tem provocado a redução da vazão de água do ribeirão ao longo dos anos.

“Em média dez pequenos rios desaparecem a cada ano no Bioma Cerrado devido ao desmatamento, provocado principalmente pelo avanço da monocultura”

Ação educativa na Escola de Tempo Integral Fidêncio Bogo, em Palmas, no Tocantins. Foto: Laudovina Pereira, Cimi/Regional Goiás-Tocantins

A Companhia de Saneamento do Estado do Tocantins – Saneatins, registrou uma redução drástica na vazão de 66% em um período de quatro anos, de 2001 a 2005. Entre julho e setembro de 2001 a vazão média era de 1.756,63 litros por segundo; em 2005, no mesmo período, a vazão foi de 596,63 litros por segundo. Além do desmatamento, entre os fatores da diminuição do volume de água do ribeirão estão os cultivos dentro das áreas de preservação ambiental, balneários privados sem licenciamento ambiental que provocam poluição e degradação, acesso irrestrito de gado e acelerado processo de ocupação ilegal por meio de loteamentos irregulares e sem nenhum controle do poder público.

A maioria dos cursos d’água que compõe a bacia do Ribeirão Taquaruçu Grande nasce na Área de Preservação Ambiental (APA), Serra do Lajeado, criada em 1997, e abrange os municípios de Lajeado, Palmas, Tocantínia e Aparecida do Rio Negro. Essa Unidade de Conservação de Uso Sustentável tem o objetivo de garantir a preservação da fauna, flora, do solo e, sobretudo, a quantidade e a qualidade das águas dos mananciais da região.

“Em média dez pequenos rios desaparecem a cada ano no Bioma Cerrado devido ao desmatamento, provocado principalmente pelo avanço da monocultura”

Ação educativa na Escola de Tempo Integral Fidêncio Bogo, em Palmas, no Tocantins. Foto: Laudovina Pereira, Cimi/Regional Goiás-Tocantins

Queimadas

A falta da vegetação nativa provoca também a rápida propagação das queimadas, tão recorrentes na região, e causam grande impacto ambiental. Em 2020, a Associação Água Doce organizou um grupo de voluntários, que após treinamento, se juntou à brigada do Parque Estadual do Lajeado, e com apoio de moradores atuaram nas ações de Manejo Integrado do Fogo e, posteriormente, no combate aos incêndios florestais.

No processo de preservação cada ato é importante. Em 2018 e 2019 foi realizado o evento “Abraço ao Taquaruçu”, no qual dezenas de pessoas deram as mãos pela preservação da Serra do Lajeado, onde estão as nascentes do ribeirão. Também em 2018 foi realizada Audiência Pública na Câmara Municipal de Palmas, para alertar sobre a degradação ambiental e o uso de agrotóxicos no ecossistema da bacia do Taquaruçu Grande, o que compromete a quantidade e a qualidade da água que abastece Palmas. A questão do agrotóxico é tão séria, que vários países europeus baniram substâncias como Paraquate, Atrazina e Acefato, os três pesticidas mais vendidos no Brasil.

“A falta da vegetação nativa provoca também a rápida propagação das queimadas, tão recorrentes na região, e causam grande impacto ambiental”

Ação educativa. Foto: Laudovina Pereira, Cimi/Regional Goiás-Tocantins

Estima-se que o brasileiro consome em média 7 litros de agrotóxico por ano e o uso excessivo destas substâncias nas lavouras contamina os alimentos, o solo, a água e os lençóis freáticos, causando enormes danos ambientais e humanos. A Agroecologia é um outro modelo de produção que existe e é praticado pelos povos indígenas, as populações tradicionais e pequenos agricultores. Ela se baseia na produção sustentável e diversificada, que busca a preservação ambiental, a soberania e a segurança alimentar, garantindo alimentos para todos.

O Ribeirão Taquaruçu Grande é responsável por 66% do abastecimento de água da capital do Tocantins e é um dos afluentes do reservatório de água da Usina Hidrelétrica Luís Eduardo Magalhães – UHE Lajeado. A bacia hidrográfica do ribeirão recebe, à margem esquerda, como principais afluentes as águas dos córregos Taquaruçuzinho e Cipó, pela margem direita recebe as águas dos córregos Macacão e Tiúba.

“Estima-se que o brasileiro consome em média 7 litros de agrotóxico por ano e o uso excessivo destas substâncias nas lavouras contamina os alimentos”

Dom Adriano Ciocca Vasino, representante da CNBB Norte 3, duramente a ação educativa. Foto: Laudovina Pereira, Cimi/Regional Goiás-Tocantins

Educar para mudar

Buscando trazer toda essa realidade para o cotidiano dos estudantes, a publicação traz questionamentos simples como: onde brota a água que chega até a torneira da sua casa? A água que você consome é captada de algum rio e faz parte dos 2,5% da água doce do planeta. E ainda revela que a quantidade de água existente é a mesma, por isso é vital preservar.

Estudos da Organização das Nações Unidas (ONU) revelam que se nada for feito, o mundo enfrentará um déficit hídrico global de 40%, até o ano de 2030. A falta da água afetará diretamente a população, pois não terá água para agricultura, a indústria e residências, para o comércio, pesca e lazer. Segundo os especialistas é preciso desenvolver ações de preservação da natureza diminuindo o desmatamento e a poluição, fazendo a gestão racional da água, procurando meios de evitar o desperdício e equilibrando com justiça o uso e o acesso à água.

“Estudos ONU revelam que se nada for feito, o mundo enfrentará um déficit hídrico global de 40%, até o ano de 2030”

Capa e contracapa do livreto “Preservar a água é garantir a vida”. Foto: Laudovina Pereira, Cimi/Regional Goiás-Tocantins

A publicação é composta por seções, como o glossário, que trazem informações detalhadas para que os estudantes possam ter subsídio e sejam estimulados a se aprofundar nos temas referentes à água e preservação. Para que percebam que a água faz parte do cotidiano, e que sem ela, não sobreviveremos. E a partir daí os alunos possam promover ações de preservação do meio ambiente e da biodiversidade, como o uso racional da água e a diminuição da poluição.

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