03/03/2022

Cacica Erineide, do povo Truká-Tupan, é alvo de tentativa de assassinato

Ela conversava na porta de casa com parentes e crianças da comunidade quando o disparo foi feito em sua direção

Cacica Erineide, do povo Truká-Tupan, conversa com representantes da Secretaria de Justiça, Direitos Humanos e Desenvolvimento Social da Bahia que visitam a comunidade. Foto: povo Truká-Tupan.

Por Verônica Holanda, da Assessoria de Comunicação do Cimi

No fim da tarde do dia 7 de fevereiro, a cacica Erineide, do povo Truká-Tupan, foi alvo de uma tentativa de assassinato na área indígena Truká-Tupan, no município de Paulo Afonso (BA). Sentada na porta de sua casa, ela conversava com parentes e crianças da comunidade quando viram um clarão e ouviram o som do disparo. “Voou em nossos ouvidos como se fosse um enxame de abelhas”, afirmaram os indígenas. Ninguém ficou ferido.

“Sou cacica pela vontade de Deus Tupã, dos Encantados e do meu povo, e hoje estou com vida, porque Deus e a força da Jurema Sagrada me protegeram. Peço a Deus que me dê força, que ajude meus parentes, e peço justiça. Peço justiça, porque muitos caciques, lideranças e indígenas já se foram, visto que sempre deixam para lá”, assegurou a cacica.

Apesar de não terem reconhecido quem efetuou o disparo, a suspeita dos indígenas é de que tenha sido o filho de um dos posseiros da região. Há cerca de 14 anos, os indígenas negociavam a compra do território com o posseiro por meio da Fundação Nacional do Índio (Funai), quando o órgão descobriu que o terreno era público. O posseiro ainda afirma ser dono das terras, mesmo não havendo documentos em cartório que comprovem tal posse e tendo perdido três vezes na Justiça as ações de reintegração de posse.

“Peço a Deus que me dê força, que ajude meus parentes, e peço justiça”

Comunidade da área indígena Truká-Tupan, no município de Paulo Afonso (BA). Foto: povo Truká-Tupan.

Após o registro de boletim de ocorrência, a tentativa de assassinato foi denunciada também ao Programa de Proteção aos Defensores de Direitos Humanos (PPDDH), à Secretaria de Segurança Pública da Bahia, à Defensoria Pública da União (DPU), ao Departamento de Polícia Especializada (DPE) e ao Ministério Público Federal.

Os ataques vêm se intensificando há cerca de um ano e meio. Com isso, os indígenas tem sofrido com ameaças de morte, invasão de suas casas, tiros dentro da aldeia, incêndios criminosos na área de reflorestamento, danos contra propriedades, como às roças e colmeias de abelhas, e mutilação e morte de animais da comunidade, incluindo bichos de estimação de algumas das crianças.

Em agosto do ano passado, o vice-cacique Adriano Rodrigues foi agredido por um dos posseiros enquanto aguardava atendimento em um banco no centro da cidade. Após o caso, ele e outras lideranças, incluindo a cacica Erineide, foram incluídos no PPDDH.

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