22/12/2021

Nota do Cimi Regional Sul em decorrência do falecimento de Miguel Barbosa, cacique dos Guarani do Araça´í

Miguel dedicou sua vida à luta pela demarcação da Terra Indígena Araça’í (SC). Nhanderu agora o acolhe, e iluminará as lutas daqueles que permanecem reivindicando seus direitos

Miguel Barbosa, cacique da comunidade Guarani do tekoha Araça'í (SC). Foto: Jacson Santana/Cimi Regional Sul

Miguel Barbosa, cacique da comunidade Guarani do tekoha Araça’í (SC). Foto: Jacson Santana/Cimi Regional Sul

O Conselho Indigenista Missionário – Cimi Regional Sul comunica com profunda dor e pesar o falecimento, na madrugada de 22 de dezembro de 2021, do cacique Miguel Barbosa, do povo Guarani do Araça´í. Seu falecimento deu-se em decorrência de complicações cardíacas.

Miguel era um dos filhos de seu Clementino Barbosa, importante líder espiritual da comunidade. Durante toda a sua vida, permaneceu em condição de exílio, já que toda a comunidade foi removida, por diversas vezes e de forma violenta, de dentro de seu território, a Terra Indígena (TI) Araça’í, localizada na região oeste de Santa Catarina, e de lá, levados para a TI Nonoai, do povo Kaingang, no Rio Grande do Sul.

Miguel, com sua comunidade, regressaram a Santa Catarina no início do ano de 2000, quando retomaram parte de sua terra originária, localizada entre os municípios de Saudades e Cunhã Porã (SC). Em todas as ações de regresso à terra mãe foram despejados em decorrência de medidas judiciais e por pressão de colonos que vivem sobre as terras ancestrais dos Guarani.

A comunidade aguardou a conclusão dos estudos de identificação e delimitação da terra, realizados pela Funai, os quais comprovaram a tradicionalidade da ocupação indígena, um dos requisitos constitucionais para que se desmarque uma terra indígena. Portanto, depois da área demarcada, eles deveriam estar na sua posse, usufruindo dela, mas, apesar de tudo, eles continuaram exilados na TI Toldo Chimbangue, do povo Kaingang, em Chapecó (SC).

Miguel, por diversas vezes, viajou a Brasília, onde participou das grandes mobilizações indígenas e lá também reivindicava, junto aos órgãos competentes, o cumprimento dos seus direitos constitucionais.

Miguel agora foi ao encontro de seus ancestrais, está lá junto de seu pai Clementino. Os dois, apesar de todos os direitos constitucionais garantidos aos povos indígenas, tiveram uma vida de sofrimentos e angústias, pois nunca conseguiram viver instantes de paz e alegria em suas terras originárias.

Nhanderu agora acolhe Miguel em seu amor eterno, e iluminará as lutas daqueles que permanecem reivindicando os seus direitos fundamentais à vida e ao território originário.

O Cimi Regional Sul se solidariza com a comunidade Guarani e permanece junto a ela nesse caminhar pela busca da Terra Sem Mal.

 

Chapecó, 22 de dezembro de 2021

 

Conselho Indigenista Missionário – Cimi Regional Sul

Share this:
Tags: