13/12/2021

No Dia Internacional dos Direitos Humanos, organizações indígenas e indigenistas se reuniram, em ato público, em defesa da vida Yanomami

A manifestação, organizada pela Frente Amazônica de Mobilização em Defesa dos Direitos Indígenas (FAMDDI), contou com a presença de indígenas dos estados do Amazonas e Roraima

Ato público em defesa do Povo Yanomami na Praça do Congresso, Centro de Manaus (AM). Foto: Ligia Apel/Cimi

Por Ligia Apel, da Ascom Cimi Norte I, e Steffanie Schmidt, da Ascom Secoya

Em alusão ao Dia Internacional dos Direitos Humanos, a Frente Amazônica de Mobilização em Defesa dos Direitos Indígenas (FAMDDI) promoveu um ato público em defesa do Povo Yanomami nesta sexta-feira (10/12), às 16h, na Praça do Congresso, Centro de Manaus (AM). A mobilização contou com a presença de delegações das comunidades indígenas dos Estados de Roraima e do Amazonas.

Associações e organizações indígenas e indigenistas de Manaus e municípios do entorno se uniram ao grito como apoio ao povo que habita o maior território do Brasil. O objetivo foi chamar a atenção da sociedade e do mundo a respeito da política de genocídio contra o povo Yanomami e levantar recursos para o fortalecimento da luta de resistência, além de permitir a troca de informações e promover o intercâmbio entre os indígenas.

De acordo com o professor Gersem Baniwa, coordenador da FAMDDI, esse é um grito de socorro e de resistência, pertencente a toda sociedade. “Em um momento em que os direitos humanos do povo Yanomami estão em evidência de ataque e violência, é justa e necessária a defesa e a solidariedade a esse povo. É pelo seu direito à vida, pelo seu direito à existência da forma que quiserem que ecoamos nossa voz”, disse o professor indígena.

“É pelo seu direito à vida, pelo seu direito à existência da forma que quiserem que ecoamos nossa voz”

A mobilização visou chamar a atenção da sociedade e do mundo a respeito da política de genocídio contra o povo Yanomami. Foto: Ligia Apel/Cimi

Silvio Cavuscens, coordenador-geral da Associação Serviço e Cooperação com o Povo Yanomami (Secoya), destaca que o projeto do Governo Federal de desmonte das políticas públicas voltadas aos povos originários que, aliado ao incentivo de práticas exploratórias, como o garimpo, colocam em xeque a existência dos indígenas.

“Essa postura agravou um quadro já caótico de desnutrição, verminose e malária fora de controle no território. A Covid-19 paralisou todos os demais serviços e a falta de assistência fez com que a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) declarasse situação grave de risco de danos irreparáveis dos povos indígenas Yanomami e Ye’kwana. Além disso, essas comunidades vivem sob constante ameaça do garimpo que, agora, também têm interferência de organizações criminosas”, afirma o coordenador da Secoya, organização que atua há 30 anos no apoio ao povo Yanomami do médio rio Negro.

As consequências dessa negligência deliberada geram uma situação inaceitável, segundo Guenter Francisco Loebens, do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) Regional Norte I. “Não dá para aceitar, é desumano demais essa violência consentida pelo governo contra o povo Yanomami associada à invasão garimpeira. Indígenas isolados sendo assassinados, comunidades atacadas, doenças disseminadas na terra indígena, abuso sexuais de mulheres indígenas, indígenas submetidos a condições de trabalho sub-humanas, rios e florestas sendo depredados e poluídos levando a fome e a subnutrição. Não podemos ficar indiferentes diante de tanta violência. Basta desse crime contra a humanidade. O futuro do povo Yanomami também é nosso futuro”, declara.

Do Amazonas, participaram do ato público Erica Vilela Figueiredo, presidente da Associação de Mulheres Indígenas Kumirãyõma; Vilmar da Silva Matos, secretário-geral da Associação Yanomami do Rio Cauaburis e Afluentes (AYRCA), do município de São Gabriel da Cachoeira; Carlito Iximaweteri Yanomami, tuxaua; Samuel Kohito Yanomami, liderança; Odorico Yanomami, conselheiro estadual de educação escolar indígena, do rio Marauiá, Santa Isabel do Rio Negro; além de Edgar Yanomami, Irineu Yanomami, Sidney Yanomami, do rio Demeni, município de Barcelos.

De Roraima, os representantes foram Eliseu Xirixana Yanomami, Ivan Xirixana e Rivaldo Xirixana. A vinda da delegação contou com o apoio da Hutukara Associação Yanomami (HAY).

“Essas comunidades vivem sob constante ameaça do garimpo que, agora, também têm interferência de organizações criminosas”

A mobilização contou com a presença de delegações das comunidades indígenas dos Estados de Roraima e do Amazonas. Foto: Ligia Apel/Cimi

Desde o ano de 1950, em 10 de dezembro, a oficialização da Declaração Universal dos Direitos Humanos pela Organização das Nações Unidas (ONU) é celebrada em todo o mundo. Este ano, o documento criado em 1948 completa 73 anos. No entanto, na contramão da história, o mundo assiste ao genocídio de povos originários com a pressão sobre seus territórios e negligência do atendimento básico de saúde.

Maior território demarcado no Brasil, a Terra Indígena Yanomami possui 9,6 mil hectares, equivalente ao tamanho de Portugal, onde habitam mais de 30 mil indígenas em 321 aldeias, incluindo povos recentemente contatados e alguns em isolamento voluntário.

 

Sobre a FAMDDI

Criada em 14 de dezembro de 2018, durante o IV Encontro do Fórum de Educação Escolar Indígena do Amazonas (Foreeia), a FAMDDI reúne entidades indígenas e não indígenas voluntárias como o próprio Foreeia, a Associação dos Docentes da Universidade Federal do Amazonas (ADUA), o Conselho Indigenista Missionário (Cimi), a Coordenação dos Povos Indígenas de Manaus e Entorno (Copime), a Associação das Mulheres Indígenas do Alto Rio Negro (Amarn), o Serviço de Cooperação com o Povo Yanomami (Secoya), o Serviço Amazônico de Ação, Reflexão e Educação Socioambiental (SARES) e o Mandato Popular do deputado federal José Ricardo (PT/AM).

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