Coiab realiza encontro e conclama a sociedade, em Carta Pública, para a defesa dos povos isolados
Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab) divulga Carta Pública e diz que movimento indígena continua vigilante, sem se intimidar pelas ameaças do governo
“Destacamos que, diante do gradual enfraquecimento da política indigenista da Funai [Fundação Nacional do Índio], e do fortalecimento da pauta governamental contra nossos direitos, estamos aperfeiçoando cada vez mais nossas iniciativas autônomas e nossas estratégias para a proteção de nossos territórios, e para o bem viver dos povos indígenas isolados”. Esse é o alerta das organizações indígenas e indigenistas presentes no “II Encontro sobre Povos Indígenas Isolados e Recente Contato: Situações e desafios na proteção dos nossos parentes isolados”, realizado entre os dias 28 e 30 de novembro, em Santarém, no Pará (PA), realizado pela Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab).
Com o objetivo de debater sobre as situações e desafios da atual conjuntura e traçar planos de ação para os trabalhos de proteção dos povos indígenas que querem viver isolados, o encontro reuniu lideranças indígenas e indigenistas das diferentes regiões da Amazônia. Realidades que se diferenciam em especificidades, mas que possuem em comum o desejo e a coragem de defender as formas de vida dos povos isolados. Para isso é preciso planejar, dizem as lideranças: “sem um plano de proteção, povos Indígenas isolados estão correndo risco de vida”, afirmaram os participantes.
“Em diversas terras indígenas existe o risco de extermínio desses povos, como nas Terras Yanomami, em Roraima, no Vale do Javari, no Amazonas, em Itunataina, no Pará, e nos Uruwe Wau Wau, em Rondônia”, destaca Guenter Francisco Loebens, do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) Regional Norte I, mais conhecido como “Chico do Cimi”. Para o missionário, “é uma ótima notícia a iniciativa da Coiab de criar uma rede de apoiadores indígenas nos diversos estados da Amazônia que já estão atuando na defesa dos povos indígenas isolados”, diz com entusiasmo e animado para a luta.
“Em diversas terras indígenas existe o risco de extermínio desses povos, como nas Terras Yanomami, em Roraima, no Vale do Javari, no Amazonas, em Itunataina, no Pará, e nos Uruwe Wau Wau, em Rondônia”
Na opinião de Chico, o movimento indígena precisa assumir a frente das ações “em defesa desses povos e de seus territórios, pois se encontram cada vez mais invadidos diante da ação e omissão governamental que, entre outras coisas, está inviabilizando as Frentes de Proteção Etnoambiental da Funai. Em diversas terras indígenas existe o risco de extermínio desses povos”, alerta, destacando a importância da luta conjunta “para que se concretize uma efetiva política de proteção à vida e aos territórios desses povos”.
A líder indígena Kora Kanamari, da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja), também considera que “a vulnerabilidade dos nossos parentes isolados está em não ter um plano de governo para a proteção desses povos, que deve ser um plano diferente voltado para nós que já somos contactados”, explica. Mas alerta para que “esse plano governamental tenha participação do movimento indígena para que de fato funcione”.
“A vulnerabilidade dos nossos parentes isolados está em não ter um plano de governo para a proteção desses povos, que deve ser um plano diferente voltado para nós que já somos contactados”
Varin Nelly Dollis Marubo, da Gerência de Povos Isolados da Coiab, também é do Vale do Javari, região de grande incidência de indígenas isolados. Para Varin, o ponto mais desafiador dos debates é entender a violação das leis por parte do estado: “o próprio estado não cumprir as leis que contemplam os direitos dos povos originários, mostra que esse governo é um desgoverno, pois permite e apoia a invasão dos madeireiros e garimpeiros. E isso leva a Funai a cada vez mais perder o respeito. O órgão maior que temos, que tem o dever de proteger os povos indígenas, está sendo enfraquecido e desrespeitado”, lamenta a Marubo.
“O próprio estado não cumprir as leis que contemplam os direitos dos povos originários, mostra que esse governo é um desgoverno, pois permite e apoia a invasão dos madeireiros e garimpeiros”
Em Roraima também há povos indígenas isolados que vivem em território Yanomami. Recentemente, dois indígenas isolados Moxihatëtëma foram assassinados por garimpeiros, evidenciando a gravidade dos riscos de extermínio desses povos.
Dário Kopenawa, vice-coordenador da Associação Yanomami Hutukara, também concorda que a proteção da vida passa pela união dos povos, pelo trabalho conjunto e bem planejado: “Esse debate é importante, pois falamos de nossos parentes que vivem no nosso mesmo território, na mesma região. Durante esses dias as conversas trouxeram informações importantes sobre a realidade de outras regiões e de outros parentes. Assim, dialogando e trocando, estamos construindo juntos e queremos ter esses dados de informações concretas e verdadeiras, para depois nós entregarmos essas informações aos órgãos públicos”, disse a liderança Yanomami.
Finalizando o encontro, os participantes escreveram uma Carta Aberta ao público onde colocam suas preocupações e energias que “unificam os povos e fortalecem as alianças e as estratégias de proteção aos indígenas que querem continuar vivendo isolados”, disse Angela Kaxuyana, Coordenadora da Coiab.