13/11/2021

12 de outubro: Dia da Resistência (e do massacre) Indígena

Na América Latina, 12 de outubro é celebrado como Dia da Resistência Indígena, mas para os povos originários são séculos de exploração e extermínio

Foto: Hellen Loures

Por Assessoria de Comunicação do Cimi – MATÉRIA PUBLICADA ORIGINALMENTE NA EDIÇÃO 439 DO JORNAL PORANTIM

“Em 12 de outubro de 1492, os nativos descobriram que eram índios, descobriram que viviam na América, descobriram que estavam nus, descobriram que existia pecado, descobriram que deviam obediência a um rei e uma rainha de outro mundo e a um deus de outro céu, e que esse deus havia inventado a culpa e a roupa e havia mandado queimar vivo quem adorasse ao sol, à lua, à terra e à chuva que a molha”, diz Eduardo Galeano, célebre escritor uruguaio, retratando o significado do descobrimento da América para os povos originários do continente.

Na América Latina, 12 de outubro é celebrado como Dia da Resistência Indígena, mas, originalmente, a data foi atribuída à celebração da chegada de Cristóvão Colombo às Américas, o “Dia da Hispanidade”. Para os povos originários são séculos de exploração e extermínio, mas, até hoje, a data é celebrada na Europa como uma “descoberta” do novo mundo. A América Latina tem cerca de 45 milhões de indígenas em 826 comunidades que representam 8,3% da população, segundo relatório Povos Indígenas na América Latina: Progressos da Última Década e Desafios para Garantir seus Direitos.

Como destaca o historiador estadunidense Samuel Eliot Morison: “A cruel política iniciada por Colombo e continuada por seus sucessores” que levou ao “genocídio completo”. No Brasil, a data é ignorada, assim como o fato de que não houve um descobrimento e sim uma invasão por parte dos colonizadores, que em poucas décadas escravizou e apagou a cultura de milhões de indígenas que aqui já viviam.

Reflexo disso, mais um episódio de violência e intolerância virou cicatriz na história dos povos Guarani e Kaiowá, de Mato Grosso do Sul (MS), quando, no dia 19 de outubro, uma casa de reza – Oga Pysy, assim chamada por esses povos –, no tekoha Rancho Jacaré, município de Laguna Carapã (MS), foi alvo de um incêndio criminoso. O espaço virou cinzas com menos de dois meses de inauguração, que foi realizada no dia 29 de agosto deste ano. De acordo com levantamento feito pela Aty Guasu – Grande Assembleia dos povos Kaiowá e Guarani, essa é a sétima casa de reza Guarani e Kaiowá incendiada em 2021, no estado de Mato Grosso do Sul.

“Estamos sendo ameaçados todos os dias. Não só mais uma casa de reza virou cinzas, mas também a vida das lideranças, dos rezadores e das crianças. Hoje vemos a ameaça e a vulnerabilidade no interior dos tekohas, coisa que a Justiça não enxerga”, lamentou Rosicleide Vilhalva Kaiowá, da Kuñangue Aty Guasu – Grande Assembleia de Mulheres Kaiowá e Guarani.

“Sem os povos indígenas, tradicionais, quilombolas e ribeirinhos nenhum país evitará o aquecimento global”, alertou Ângela Mendes na ONU, no dia 4 de outubro, em declaração que deu voz às denúncias de trinta e sete organizações durante a 48ª sessão do Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas. Angela Mendes, filha do líder extrativista Chico Mendes, também defendeu o reconhecimento do direito ao meio ambiente saudável e a criação de um mandato especial sobre mudanças climáticas e direitos humanos.

Resistência Indígena

Indígenas Guarani Kaiowá, vivendo em contexto urbano em Naviraí, no Mato Grosso do Sul (MS), realizaram o retorno ao território tradicional na sexta-feira, 15 de outubro. Ao todo, são trinta famílias, 56 adultos e 65 crianças e adolescentes instalados no tekoha urbano Teko-Ava, na Aldeia Borevi-ry. Juntos, cobram a garantia de seus direitos originários, como a demarcação do território tradicional.

Registro do tekoha-urbano Teko-Ava, em Naviraí/MS. Foto: Povo Guarani Kaiowá

Expulsos de seu território e, novamente expulsos da cidade, os indígenas buscam viver conforme seu modo de vida, tradições e cultura. “Estamos vivendo do nosso jeito, com nossa cultura. Queremos e precisamos de diálogo sobre educação, saúde e território”, destaca o Povo Guarani Kaiowá em nota, esclarecendo o porquê decidiram realizar o retorno ao território, “uma ocupação de luta e resistência em retorno ao território, de preservação ecológica e cultural”. A exclusão social, insegurança alimentar, racismo e a violência estão entre as razões pelas quais decidiram pela retomada.

Muito além de retornar ao território tradicional, com a ação os indígenas buscam retomar sua identidade, sua luta pelo território e a defesa de seus direitos tradicionais. A retomada é símbolo de resistência aos povos. “Nossa luta é por território, moradia educação e preservação da cultura”, afirmam os Guarani Kaiowá.

 

Juventude Indígena: Na luta e na resistência em defesa da vida e de nossos direitos

Indígenas dos povos Deni e Kanamari durante o I Encontro da Juventude Deni e Kanamari, em Itamarati (AM). Foto: Equipe Juruá/Cimi Norte I

Mais de 80 jovens indígenas, representando as aldeias Terra Nova, Nova Morada, Morada Nova, Itaúaba, do Povo Deni e as aldeias Santa Luzia, Flexal e São João do Povo Kanamari, participaram do I Encontro da Juventude Deni e Kanamari, em Itamarati (AM), realizado entre os dias 29 de setembro e 1º de outubro. Na ocasião, foram apresentadas as perspectivas dos jovens diante do contexto e da conjuntura social e política que o Brasil vive. “As autoridades, políticos, representantes dos governos, aos aliados e parceiros da causa indígena, a sociedade envolvente, exigimos apoio na defesa de nossos direitos, que esses sejam tratados com seriedade e efetividade, considerando nossas peculiaridades, culturas e costumes, para que nossa vida sejam cada vez mais valorizada e nosso bem viver não se torne apenas sonho, mais sim, realidade”, diz carta do I Encontro da Juventude Deni e Kanamari.

 

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