12 de outubro: Dia da Resistência (e do massacre) Indígena
Na América Latina, 12 de outubro é celebrado como Dia da Resistência Indígena, mas para os povos originários são séculos de exploração e extermínio
“Em 12 de outubro de 1492, os nativos descobriram que eram índios, descobriram que viviam na América, descobriram que estavam nus, descobriram que existia pecado, descobriram que deviam obediência a um rei e uma rainha de outro mundo e a um deus de outro céu, e que esse deus havia inventado a culpa e a roupa e havia mandado queimar vivo quem adorasse ao sol, à lua, à terra e à chuva que a molha”, diz Eduardo Galeano, célebre escritor uruguaio, retratando o significado do descobrimento da América para os povos originários do continente.
Na América Latina, 12 de outubro é celebrado como Dia da Resistência Indígena, mas, originalmente, a data foi atribuída à celebração da chegada de Cristóvão Colombo às Américas, o “Dia da Hispanidade”. Para os povos originários são séculos de exploração e extermínio, mas, até hoje, a data é celebrada na Europa como uma “descoberta” do novo mundo. A América Latina tem cerca de 45 milhões de indígenas em 826 comunidades que representam 8,3% da população, segundo relatório Povos Indígenas na América Latina: Progressos da Última Década e Desafios para Garantir seus Direitos.
Como destaca o historiador estadunidense Samuel Eliot Morison: “A cruel política iniciada por Colombo e continuada por seus sucessores” que levou ao “genocídio completo”. No Brasil, a data é ignorada, assim como o fato de que não houve um descobrimento e sim uma invasão por parte dos colonizadores, que em poucas décadas escravizou e apagou a cultura de milhões de indígenas que aqui já viviam.
Reflexo disso, mais um episódio de violência e intolerância virou cicatriz na história dos povos Guarani e Kaiowá, de Mato Grosso do Sul (MS), quando, no dia 19 de outubro, uma casa de reza – Oga Pysy, assim chamada por esses povos –, no tekoha Rancho Jacaré, município de Laguna Carapã (MS), foi alvo de um incêndio criminoso. O espaço virou cinzas com menos de dois meses de inauguração, que foi realizada no dia 29 de agosto deste ano. De acordo com levantamento feito pela Aty Guasu – Grande Assembleia dos povos Kaiowá e Guarani, essa é a sétima casa de reza Guarani e Kaiowá incendiada em 2021, no estado de Mato Grosso do Sul.
“Estamos sendo ameaçados todos os dias. Não só mais uma casa de reza virou cinzas, mas também a vida das lideranças, dos rezadores e das crianças. Hoje vemos a ameaça e a vulnerabilidade no interior dos tekohas, coisa que a Justiça não enxerga”, lamentou Rosicleide Vilhalva Kaiowá, da Kuñangue Aty Guasu – Grande Assembleia de Mulheres Kaiowá e Guarani.
Resistência Indígena
Indígenas Guarani Kaiowá, vivendo em contexto urbano em Naviraí, no Mato Grosso do Sul (MS), realizaram o retorno ao território tradicional na sexta-feira, 15 de outubro. Ao todo, são trinta famílias, 56 adultos e 65 crianças e adolescentes instalados no tekoha urbano Teko-Ava, na Aldeia Borevi-ry. Juntos, cobram a garantia de seus direitos originários, como a demarcação do território tradicional.
Expulsos de seu território e, novamente expulsos da cidade, os indígenas buscam viver conforme seu modo de vida, tradições e cultura. “Estamos vivendo do nosso jeito, com nossa cultura. Queremos e precisamos de diálogo sobre educação, saúde e território”, destaca o Povo Guarani Kaiowá em nota, esclarecendo o porquê decidiram realizar o retorno ao território, “uma ocupação de luta e resistência em retorno ao território, de preservação ecológica e cultural”. A exclusão social, insegurança alimentar, racismo e a violência estão entre as razões pelas quais decidiram pela retomada.
Muito além de retornar ao território tradicional, com a ação os indígenas buscam retomar sua identidade, sua luta pelo território e a defesa de seus direitos tradicionais. A retomada é símbolo de resistência aos povos. “Nossa luta é por território, moradia educação e preservação da cultura”, afirmam os Guarani Kaiowá.
Juventude Indígena: Na luta e na resistência em defesa da vida e de nossos direitos
Mais de 80 jovens indígenas, representando as aldeias Terra Nova, Nova Morada, Morada Nova, Itaúaba, do Povo Deni e as aldeias Santa Luzia, Flexal e São João do Povo Kanamari, participaram do I Encontro da Juventude Deni e Kanamari, em Itamarati (AM), realizado entre os dias 29 de setembro e 1º de outubro. Na ocasião, foram apresentadas as perspectivas dos jovens diante do contexto e da conjuntura social e política que o Brasil vive. “As autoridades, políticos, representantes dos governos, aos aliados e parceiros da causa indígena, a sociedade envolvente, exigimos apoio na defesa de nossos direitos, que esses sejam tratados com seriedade e efetividade, considerando nossas peculiaridades, culturas e costumes, para que nossa vida sejam cada vez mais valorizada e nosso bem viver não se torne apenas sonho, mais sim, realidade”, diz carta do I Encontro da Juventude Deni e Kanamari.