18/10/2021

Linhão de Tucuruí: mais uma mentira contra o povo Waimiri Atroari

De acordo com Egydio Schwade, o objetivo do linhão de Tucuruí é triplamente prejudicial aos indígenas; o governo autorizou a obra do linhão em setembro deste ano

Terra Indígena Waimiri-Atroari. Foto: EBC

Terra Indígena Waimiri Atroari. Foto: EBC

Por Egydio Schwade, do Cimi

No final de setembro, vimos, outra vez, a mais alta autoridade da República pisar o povo Waimiri-Atroari, como se este não tivesse direito de viver com autonomia no chão que imemorialmente garantiu a sua sobrevivência e das  gerações futuras.

Não faz muitos meses que vimos em rede nacional o  deputado estadual Jeferson Alves, de Roraima, outro capanga oficial, ostentar a sua covardia contra este povo, cortando a corrente que os índios colocam à noite para proteger a vida e as riquezas naturais de seu território, como pede a Carta Magna Cap. VI, Art. 225: “todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.”

Foi assim que a Ditadura Militar invadiu recentemente o território desse povo, como se fosse um vazio demográfico, com a construção da BR-174. Naquela oportunidade, justificou ao  público a necessidade de ligar Manaus (AM) a Boa Vista (RR). Mas o objetivo foi outro. Os documentos que originaram a BR-174, comprovam que a obra visava as jazidas minerais da área desses índios.

“Foi assim que a Ditadura Militar invadiu recentemente o território desse povo, como se fosse um vazio demográfico, com a construção da BR-174″

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Antes de iniciar a obra, o coronel Mauro Carijó, diretor do Departamento Estadual de Rodagem do Amazonas, em ofício à PETROBRÁS, solicitou …“informação sobre o potencial mineral do Estado em vista da elaboração de um Plano Diretor de Transportes para o Estado do Amazonas”.  (1). Semelhante foi o objetivo do Presidente Sarney quando nomeou Romero Jucá para a presidência da Fundação Nacional do Índio (FUNAI)

O objetivo oculto da Ditadura Militar foram as minas do Pitinga e a construção da hidrelétrica de Balbina nas terras Waimiri Atroari para captação de energia. O pagamento a este povo foi um genocídio. Durante a construção das obras, o povo Waimiri Atroari foi reduzido de 3000 para 332 pessoas e perdeu dois terços do seu território imemorial. Este objetivo também faz parte do linhão que o Governo Bolsonaro está impondo agora a este povo.

“O objetivo oculto da Ditadura Militar foram as minas do Pitinga e a construção da hidrelétrica de Balbina nas terras Waimiri Atroari para captação de energia. O pagamento a este povo foi um genocídio”

Indígenas instalam nova corrente no posto de fiscalização. Foto: Associação das Comunidades Wairimi Atroari

Em mobilização realizada no início de 2020, indígenas do povo Wairimi-Atroari instalaram corrente no posto de fiscalização. Foto: Associação das Comunidades Wairimi Atroari

O objetivo principal do linhão  não é abastecer de energia o Estado de Roraima. Roraima não precisava sofrer falta de energia. Bastava normalizar, de forma civilizada, as relações diplomáticas com o governo da Venezuela, interrompidas pela submissão do governo Bolsonaro aos interesses do nada democrático governo dos Estados Unidos. O linhão de Guri/Venezuela, já existe e funcionou muito bem, trazendo energia mais econômica do país vizinho, do que o linhão de Tucuruí trará. A interrupção do fornecimento da energia da Venezuela, tem a ver com as burrices do governo Bolsonaro.

O objetivo do Linhão-Bolsonaro é triplamente prejudicial aos indígenas:

  • Visa chegar a novas fontes de energia, para abastecer o Sul do País, que prejudicarão os seus territórios;
  • O saque dos minerais em suas terras;
  • E, não por último, a sua “integração” compulsória, ou seja, exterminá-los de vez para dar livre acesso às empresas capitalistas multinacionais para o saque dos recursos minerais e vegetais.

É importante nos darmos conta disso. E o povo Waimiri Atroari é, no momento, o principal alvo deste governo genocida, como detentor de um grande potencial mineral, mas também porque, no passado, assim como hoje, é o principal baluarte contra o olho grande das multinacionais. A Casa da Cultura do Urubuí, o Conselho Indigenista Missionário (Cimi)  e o CEDI, desde os anos 80, vêm alertando e denunciando, nominalmente, 13 empresas mineradoras multinacionais  que já lotearam entre si o território desse povo.

Suspiramos pelo aparecimento de um governo justo e de comandantes das Forças Armadas sérios, que tenham a coragem de qualificar essas ações nefastas pelo que foram e pelo são, e pedir perdão aos Waimiri Atroari e à humanidade.

“Suspiramos pelo aparecimento de um governo justo e de comandantes das Forças Armadas sérios”

É hora também da sociedade brasileira se dar conta desse crime. Este povo vem sofrendo agressões de diversos tipos, desde a chegada dos primeiros europeus à região. E, desde 1944, se tornou o alvo principal da crueldade do governo brasileiro, em especial, dos governos submissos às empresas multinacionais de mineração. Já naquele ano de 1944, os Waimiri Atroari destruíram uma expedição comandada por dois oficiais norte-americanos, na foz do rio Jacutinga que dá acesso direto às minas do Pitinga.

E, não por último, é hora de aparecer uma administração municipal em Presidente Figueiredo – a Terra das Cachoeiras, de tantas belezas naturais, devido ao trato comunitário e uso carinhoso milenar do povo Waimiri Atroari  – que olhe com verdade e justiça e que qualifique, oficialmente, os fatos que originaram este município, por aquilo que foram, sem atenuantes, e renomeie o município,  permitindo um novo relacionamento com este povo.

E, finalmente, era bom irmos à escola desse povo para “aprender e ensinar uma nova lição”.

 

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