Rumo aos 50 anos do Cimi, Regional Rondônia reafirma seu compromisso com a causa dos povos indígenas
Seguindo os protocolos sanitários, a Assembleia do Regional foi realizada entre os dias 10 e 12 deste mês, na capital, Porto Velho
Reunindo missionários e missionárias, lideranças indígenas e parceiros da causa indígena o Conselho Indigenista Missionário (Cimi) Regional Rondônia realizou sua XXXVI Assembleia entre os dias 10 a 12 de setembro. Seguindo os protocolos sanitários de combate à covid-19, o evento foi realizado na Casa de Formação Irmãs Franciscanas na capital de Rondônia, Porto Velho.
Com o tema “Cimi-RO: 40 anos de compromisso na defesa do Bem Viver dos povos indígenas” e o lema “Memória e resistência, rumo aos 50 anos de missão”, o encontro trouxe a trajetória do Regional entre os povos indígenas, suas lutas, conquistas e desafios.
“Cimi-RO: 40 anos de compromisso na defesa do Bem Viver dos povos indígenas”
“São 40 anos de caminhada com os povos indígenas, muitas resistências e lutas travadas, outras tantas em cursos diante de uma conjuntura de governo anti-indígena e que a todo momento viola e ataca a Constituição, nega e ameaça os direitos já conquistados”, destaca o documento final da XXXVI Assembleia do Cimi Regional Rondônia.
No estado, o processo de colonização deixou marcas profundas juntos aos povos indígenas. Violências, genocídio, invasões de seus territórios, roubo de madeira, mineração, negação de acesso a políticas públicas e a seus territórios tradicionais marcam as lutas dos povos indígenas – e também a atuação do Regional do Cimi, ao longo de seus 40 anos de missão em Rondônia.
“São 40 anos de caminhada com os povos indígenas, muitas resistências e lutas travadas, outras tantas em cursos diante de um governo anti-indígena, que a todo momento viola e ataca a Constituição”
A Assembleia faz parte de uma série de ações que estão sendo realizadas pelo Regional rumo aos 50 anos da entidade.
Leia o documento na íntegra:
Mensagem final da XXXVI Assembleia do Cimi Regional Rondônia
“Promover a Amazônia não implica colonizá-la culturalmente, mas fazer de modo que ela própria tire fora o melhor de si mesma”. (Q. A. 28)
Nos dias 10 a 12 de setembro de 2021, o CIMI RO realizou a sua XXXVI Assembleia Regional com o tema, CIMI-RO: 40 anos de compromisso na defesa do Bem Viver dos povos indígenas e o lema, Memória e resistência, rumo aos 50 anos de missão. Vivenciamos, nestes dias, a trajetória histórica do CIMI entre os povos indígenas, suas lutas, percas, conquistas e desafios.
São 40 anos de caminhada com os povos indígenas, muitas resistências e lutas travadas e outras tantas em cursos diante de uma conjuntura de governo anti-indígena e que a todo momento viola e ataca a Constituição, nega e ameaça os direitos já conquistados. Os ataques aos povos indígenas estão expressos em medidas legislativas, no PL 490/2020, PL 191/2020 e PL 2633/2020, em atos do poder executivo como a Instrução Normativa 01 e 09/2021, Resolução 04 e no judiciário, quando vemos o intento da imposição de um marco temporal para as demarcações de Terras Indígenas, negando o direito originário e coletivo.
Em Rondônia, o processo de colonização é marcado pelo genocídio dos povos indígenas e ainda hoje testemunhamos a violência contra estes povos pela invasão de seus territórios, o roubo de madeira, mineração, as ameaças, negação de acesso as políticas públicas. Em contexto urbano, muitos Povos Indígenas que foram expulsos de seus locais sagrados ainda não conseguiram a demarcação de seus territórios tradicionais pela omissão do Estado Brasileiro em não reconhecer o direito originário dos povos indígenas. Frente este processo de negação de direitos os povos em resistência se mobilizam para exigir o seu reconhecimento étnico e a demarcação de seus territórios.
A continuidade do processo de integração dos povos indígenas interfere nas suas formas de sociabilidade, e impõe uma lógica individual em detrimento dos aspectos culturais e do processo coletivo de uso da terra e dos bens da natureza, o que nos coloca diante de novos desafios para garantia do bem viver dos povos.
Os povos são confrontados e atacados diariamente pelo sistema capitalista, que segue a produzir dor e morte quando não demarcam os territórios indígenas, matam assim, crianças, mulheres, anciãos. Quando o direito e a vida do povo indígena são negados, não se trata apenas da ofensa a uma etnia ou um povo, mas as condições de vida de toda a humanidade e a criação divina é comprometida. Diante de tantos enfrentamentos, a dor por cada parente e cada árvore tombada é a nossa dor, mas são nossas também a esperança e espiritualidade dos povos, que movem o serviço do CIMI nesses anos de caminhada e que guiam nossos passos nas trilhas da formação, mobilização e presença.
Os povos indígenas, movidos pela força ancestral e pela resistência de 521 anos, se colocam em mobilização permanente e são luzes que reafirmam a certeza expressa na fala de Pedro Arara “Nós não estamos sozinhos, o que foi está aqui dando essa força. O futuro se cria”.
Na resistência e lutas travadas diariamente pelos povos indígenas em favor de suas vivências; resistindo a negação de direitos e retrocessos ao longo destes 521 anos, lutamos pela garantia desta e das futuras gerações de nossos povos e todos os seres da mãe natureza e mãe terra a partir delas semeiam a esperança de dias melhores para todos.
Na defesa da vida, da terra e dos direitos, o Cimi reafirma o compromisso com a Causa dos Povos Indígenas, a partir da interpelação feita pelo Papa Francisco “é preciso assumir a perspectiva dos direitos dos povos e das culturas” (Q.A. 40), visibilizando o protagonismo dos povos indígenas, nas suas lutas, conquistas e resistências, assim como, o Bem Viver, que garante a continuidade das gerações futuras.
A causa indígena é de todos nós, diga ao povo que avance.
Rondônia, 12 de setembro de 2021