30/09/2021

Kaiowá e Guarani narram luta pela terra em filme que estreia em Mato Grosso do Sul e São Paulo

Documentário Tempo de Guavira mostra relação dos Kaiowá e Guarani com seus tekoha, terras tradicionais ameaçadas pelo agronegócio em Mato Grosso do Sul

Mulheres, jovens e crianças Guarani Kaiowá dançam guaxire no tekoha Laranjeira Ñande Ru II, retratado no documentário Tempo de Guavira. Foto: Lucas Landau

Mulheres, jovens e crianças Guarani Kaiowá dançam guaxire no tekoha Laranjeira Ñande Ru II, retratado no documentário Tempo de Guavira. Foto: Lucas Landau

Por assessoria de Comunicação – Tempo de Guavira

“Nós somos índios Guarani e Kaiowá e nós queremos aquela que era a nossa terra”. Essas são as palavras do ancião Sabino Dias no documentário Tempo de Guavira, média-metragem que estreia neste mês de outubro.

Falecido em 2020, Sabino é um dos mais de quarenta indígenas cujos depoimentos formam um retrato plural da luta indígena pela terra no sul de Mato Grosso do Sul, região onde vivem mais de 55 mil pessoas kaiowá e guarani, boa parte delas em áreas ainda não demarcadas e ameaçadas por ações de despejo e violência.

Assista:

Mutirão de pesquisa

No vídeo, realizado por um coletivo de pesquisadores, jornalistas e lideranças indígenas, as narrativas de recuperação dos tekoha, as terras tradicionais dos Kaiowá e Guarani, são apresentadas pelos próprios indígenas, que participaram das filmagens em 2018, logo após a eleição de Jair Bolsonaro.

Em Mato Grosso do Sul, a primeira exibição do documentário acontece entre 6 e 9 de outubro, durante a Aty Guasu, a grande assembleia dos povos Kaiowá e Guarani, na Terra Indígena Sete Cerros (MS). Ele também integra a programação online do Ciclo Guatá, do SescSP e do CPEI/Unicamp, onde será tema de debate no dia 6 de outubro e ficará em cartaz entre os dias 30 de setembro e 21 de outubro. Já em novembro, o documentário participa de mostra competitiva do Festival do Filme Etnográfico do Pará.

“Quero que este trabalho seja divulgado e que possa garantir os direitos dos povos indígenas aos seus territórios tradicionais e dos Kaiowá e Guarani do Mato Grosso do Sul”, pede Leila Rocha, que desde 2012 luta pelo reconhecimento da Terra Indígena (TI) Yvy Katu. Na época da eleição de Bolsonaro, havia um temor pela segurança das comunidades kaiowá e guarani. “Isso fez um grande sofrimento que vem sobre nós, e cada vez mais está piorando”, avalia Leila. Desde então, as demarcações de TIs estão paralisadas e os ataques continuam frequentes.

Ñanderu Leonel Lopes (Ava Vera Rendy) caminha para fora de casa de reza no tekoha Kurusu Amba II, retratado no documentário Tempo de Guavira. Foto: Lucas Landau

Ñanderu Leonel Lopes (Ava Vera Rendy) caminha para fora de casa de reza no tekoha Kurusu Amba II, retratado no documentário Tempo de Guavira. Foto: Lucas Landau

Mutirão de pesquisa

Desde o impeachment de Dilma Rousseff, em 2016, e a posterior eleição de Jair Bolsonaro à presidência da República, as comunidades indígena em Mato Grosso do Sul assistem a um aumento das ações de reintegração de posse, despejos ilegais e ataques, incentivados e comemorados por fazendeiros, sindicatos rurais e políticos contrários à demarcação de TIs.

Por isso, entre novembro e dezembro de 2018, durante o tempo de amadurecimento da guavira, fruta tradicional para os Kaiowá e Guarani, uma equipe de pesquisadores indígenas e não indígenas realizaram trabalho de campo e registros audiovisuais em 46 dessas terras, privilegiando aquelas que ainda não foram demarcadas ou que estão em processo de reconhecimento.

“Esse trabalho teve uma certa metodologia, consistindo no registro de cada tekoha. Posteriormente, este conjunto de informações irá contribuir com as comunidades com informações sobre as áreas habitadas, especialmente as áreas de retomadas”, avalia o professor kaiowá Eliel Benites, que integrou a equipe de pesquisa e é diretor da Faculdade Intercultural Indígena (FAIND) da Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD). “É um registro que vai ficar para a história”, completa.

Além do documentário, até o final de 2021 está previsto o lançamento de uma publicação com os resultados da pesquisa, que foi desenvolvida pela Rede de Apoio e Incentivo Socioambiental (RAIS), pela Conselho Indigenista Missionário (Cimi) e pela Aty Guasu, grande assembleia dos povos Kaiowá e Guarani, e contou com o apoio da DKA Áustria, da Cardiff University e da Misereor.

Ficha técnica / Tempo de Guavira

Documentário, cor, 47 min

Realização: Rede de Apoio e Incentivo Socioambiental (RAIS), Aty Guasu, Conselho Indigenista Missionário (CIMI/MS)

Apoio: DKA Austria, Cardiff University e Misereor

Direção, roteiro e montagem: Pedro Biava

Imagens: Arnulfo Morínigo, Carolina Fasolo, Eliel Benites, Isabel Harari, Lucas Landau, Pedro Biava, Rafael Nakamura, Tatiane Klein

Produção executiva: Lauriene Seraguza, Maria Aparecida Mendes, Rosa Colman, Tatiane Klein

Pesquisa: Aline Crespe, Arnulfo Morínigo, Claudia Delboni, Dyna Vanessa Vera, Eliel Benites, Eliseu Lopes, Elizeu Cristaldo, Flavio Machado, Holanda Vera, Inaye Gomes Lopes, Jânio Avalo, Lauriene Seraguza, Leila Rocha, Levi Marques Pereira, Lidia Farias, Maria Aparecida Mendes de Oliveira, Maria Celina Cepre, Maria Gabriela Guillen Carias, Rosa Sebastiana Colman, Tatiane Klein, Voninho Benites Pedro

Identidade visual: Larissa Nissi e Manuela d’Albertas (Lari+Manu Design Gráfico)

Tradução: Rosa Colman e Arnulfo Morínigo

Assessoria de imprensa: [email protected]

Programação do Ciclo Guata (SescSP/CPEI-Unicamp)

Programação do Festival do Filme Etnográfico do Pará

Acompanhe nas redes: instagram.com/tempodeguavira

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