Povos indígenas retomam território na Floresta Estadual Metropolitana, em Piraquara (PR)
Lideranças de cinco povos retomaram o território no dia 9 de agosto, data em que é comemorado o Dia Internacional dos Povos Indígenas
Imagina você ser expulso de sua própria casa, passar anos sem poder voltar e depois ainda descobrir que o seu lar foi destruído? Foi exatamente isso que aconteceu com povos indígenas de Piraquara, região metropolitana de Curitiba, no Paraná (PR).
Para reforçar a luta pela área, que se estende desde 2009, e prestar homenagem ao Dia Internacional dos Povos Indígenas, celebrado no dia 9 de agosto, lideranças de cinco povos – Kaingang, Guarani M’bya, Guarani Nhandewa, Tukano e Krahô – deram início à retomada do local na última segunda-feira (9). O território está localizado na Floresta Estadual Metropolitana, considerada uma unidade de conservação desde 1988.
Apesar de ser uma área protegida, a floresta sofreu degradações severas ao longo de anos. Além do monocultivo do eucalipto, planta que não é nativa da região e que impacta diretamente o sistema hídrico local, os povos indígenas encontraram lixos indevidamente descartados, inclusive eletrônicos.
O coordenador Executivo da Articulação dos Povos Indígenas (Apib) – Sul e liderança da retomada, Kretã Kaingang, explicou que os povos Kaingang e Guarani foram expulsos do território por Dom João VI no século XIX. “Na época, a região tinha livre acesso e ele chegou pelo Porto de Paranaguá (PR), expulsando esses povos para o interior do Estado”.
O diálogo pela retomada da Floresta Estadual Metropolitana começou há 12 anos, quando Roberto Requião era governador do Paraná. Mas, de acordo com as lideranças indígenas, a conversa não teve continuidade com os governos seguintes.
“Desde 2009 a gente luta e reivindica um espaço dentro de Piraquara, porque no local existem três sítios arqueológicos do povo Kaingang, inclusive há casas subterrâneas na região”
“Desde 2009 a gente luta e reivindica um espaço dentro de Piraquara, porque no local existem três sítios arqueológicos do povo Kaingang, inclusive há casas subterrâneas na região. A nossa luta é para mantermos essas estruturas, que marcaram a passagem dos Kaingang nessa capital”, afirmou o Cacique Kretã Kaingang.
Segundo Isabel Tukano, do povo Tukano, a data de retomada foi escolhida não só como uma “forma de protesto”, mas para lembrar que o Brasil é território indígena. “O dia 9 de agosto era para ser uma data feliz para todos os povos indígenas, mas não temos o que comemorar. São muitas atrocidades contra nós. Não temos que pedir licença para retomar os nossos territórios, nós temos que ocupar o que é nosso. Os colonizadores tomaram as nossas terras e o governo atual vem fazendo isso descaradamente, tirando tudo o que nos pertence”, desabafou.
Ainda de acordo com Isabel, o portão do local estava fechado com um cadeado, mas isso não impediu o acesso. “Entramos e fechamos o portão novamente. Como já conhecemos a área, escolhemos um espaço para fazer o acampamento e montamos uma cozinha improvisada. Na última madrugada [11], choveu muito, mas nós não vamos desistir. O que esperamos é que as autoridades tomem alguma decisão”.
Agora, os povos indígenas pretendem reflorestar o território com árvores nativas da região, como a araucária, que é considerada sagrada. Ao todo, já são quase 2 mil mudas reservadas para a plantação e revitalização da área. Além disso, está nos planos a criação de um espaço de “trocas de saberes”, um centro de formação para povos indígenas construído com o apoio de escolas e universidades.
Polícia
Na tarde desta quarta-feira (11), agentes da Polícia Militar e da Polícia Federal estiveram próximos ao local. Por enquanto, não houve nenhum registro de conflito.