11/08/2021

Povos indígenas retomam território na Floresta Estadual Metropolitana, em Piraquara (PR)

Lideranças de cinco povos retomaram o território no dia 9 de agosto, data em que é comemorado o Dia Internacional dos Povos Indígenas

Indígenas de cinco povos retomaram área na Floresta Estadual Metropolitana, em Piraquara (PR), no dia 9 de agosto. Foto: Marcelo Krahô

Indígenas de cinco povos retomaram área na Floresta Estadual Metropolitana, em Piraquara (PR), no dia 9 de agosto. Foto: Marcelo Krahô

Por Marina Oliveira, da Assessoria de Comunicação do Cimi

Imagina você ser expulso de sua própria casa, passar anos sem poder voltar e depois ainda descobrir que o seu lar foi destruído? Foi exatamente isso que aconteceu com povos indígenas de Piraquara, região metropolitana de Curitiba, no Paraná (PR).

Para reforçar a luta pela área, que se estende desde 2009, e prestar homenagem ao Dia Internacional dos Povos Indígenas, celebrado no dia 9 de agosto, lideranças de cinco povos – Kaingang, Guarani M’bya, Guarani Nhandewa, Tukano e Krahô – deram início à retomada do local na última segunda-feira (9). O território está localizado na Floresta Estadual Metropolitana, considerada uma unidade de conservação desde 1988.

Apesar de ser uma área protegida, a floresta sofreu degradações severas ao longo de anos. Além do monocultivo do eucalipto, planta que não é nativa da região e que impacta diretamente o sistema hídrico local, os povos indígenas encontraram lixos indevidamente descartados, inclusive eletrônicos.

O coordenador Executivo da Articulação dos Povos Indígenas (Apib) – Sul e liderança da retomada, Kretã Kaingang, explicou que os povos Kaingang e Guarani foram expulsos do território por Dom João VI no século XIX. “Na época, a região tinha livre acesso e ele chegou pelo Porto de Paranaguá (PR), expulsando esses povos para o interior do Estado”.

O diálogo pela retomada da Floresta Estadual Metropolitana começou há 12 anos, quando Roberto Requião era governador do Paraná. Mas, de acordo com as lideranças indígenas, a conversa não teve continuidade com os governos seguintes.

“Desde 2009 a gente luta e reivindica um espaço dentro de Piraquara, porque no local existem três sítios arqueológicos do povo Kaingang, inclusive há casas subterrâneas na região”

Retomada na Floresta Estadual Metropolitana, em Piraquara (PR), iniciada no dia 9 de agosto. Foto: Marcelo Krahô

Retomada na Floresta Estadual Metropolitana, em Piraquara (PR), iniciada no dia 9 de agosto. Foto: Marcelo Krahô

“Desde 2009 a gente luta e reivindica um espaço dentro de Piraquara, porque no local existem três sítios arqueológicos do povo Kaingang, inclusive há casas subterrâneas na região. A nossa luta é para mantermos essas estruturas, que marcaram a passagem dos Kaingang nessa capital”, afirmou o Cacique Kretã Kaingang.

Segundo Isabel Tukano, do povo Tukano, a data de retomada foi escolhida não só como uma “forma de protesto”, mas para lembrar que o Brasil é território indígena. “O dia 9 de agosto era para ser uma data feliz para todos os povos indígenas, mas não temos o que comemorar. São muitas atrocidades contra nós. Não temos que pedir licença para retomar os nossos territórios, nós temos que ocupar o que é nosso. Os colonizadores tomaram as nossas terras e o governo atual vem fazendo isso descaradamente, tirando tudo o que nos pertence”, desabafou.

Ainda de acordo com Isabel, o portão do local estava fechado com um cadeado, mas isso não impediu o acesso. “Entramos e fechamos o portão novamente. Como já conhecemos a área, escolhemos um espaço para fazer o acampamento e montamos uma cozinha improvisada. Na última madrugada [11], choveu muito, mas nós não vamos desistir. O que esperamos é que as autoridades tomem alguma decisão”.

Agora, os povos indígenas pretendem reflorestar o território com árvores nativas da região, como a araucária, que é considerada sagrada. Ao todo, já são quase 2 mil mudas reservadas para a plantação e revitalização da área. Além disso, está nos planos a criação de um espaço de “trocas de saberes”, um centro de formação para povos indígenas construído com o apoio de escolas e universidades.

Polícia

Na tarde desta quarta-feira (11), agentes da Polícia Militar e da Polícia Federal estiveram próximos ao local. Por enquanto, não houve nenhum registro de conflito.

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