Em carta, indígenas do Tocantins e Goiás manifestam solidariedade ao Levante Pela Terra, em Brasília
O acampamento reuniu entorno de 850 lideranças indígenas de diversas regiões do país durante o mês de junho, na capital federal
Os povos Apinajé, Krahô, Xerente, Krahô-Kanela, Krahô Takaywrá, Karajá, Javaé, Avá-Canoeiro e Tapuia reunidos de forma virtual, no dia 23 de junho de 2021, deliberaram pela publicação de uma Carta em solidariedade e apoio aos povos indígenas, suas lideranças e organizações empenhadas na realização do Levante pela Terra, em Brasília.
O acampamento reuniu cerca de 850 indígenas de mais de 50 povos de todo o país durante o mês de junho, além de motivar uma série de manifestações nos territórios durante o mesmo período. As principais pautas de luta foram contra o Projeto de Lei (PL) 490/2007, que ataca os direitos territoriais indígenas e pode ser aprovado na Câmara dos Deputados, contra a tese ruralista do “marco temporal”, que pode ser votada no Supremo Tribunal Federal (STF) em 25 de agosto, e por garantia de proteção aos povos que vêm sendo ameaçados por ataques de garimpeiros, fazendeiros, madeireiros e outros grupos que atuam ilegalmente em seus territórios.
No documento os indígenas também afirmam, “entendemos e denunciamos que qualquer agressão e violência do aparato policial do Estado significa cerceamento do nosso direito de liberdade de expressão, opinião e manifestação”. E, repudia, as atitudes autoritárias e repressivas promovidas por agentes de segurança da Câmara e do Distrito Federal são absurdas e absolutamente desnecessárias.
Confira a Carta na íntegra:
Carta dos indígenas de Tocantins e Goiás aos parentes mobilizados em Brasília
Nós povos indígenas de Goiás e Tocantins, Apinajé, Krahô, Xerente, Krahô-Kanela, Krahô Takaywrá, Karajá, Javaé, Avá-Canoeiro e Tapuia, reunidos de forma virtual no dia 23 de junho de 2021 para debater sobre as ameaças aos territórios e os incêndios florestais nas terras indígenas.
Viemos manifestar nossa solidariedade e apoio aos povos indígenas, suas lideranças e organizações regionais e articuladas pela Articulação dos Povos Indígenas do Brasil-APIB. Que desde início de junho deste ano encontram se mobilizados em Brasília no Acampamento Levante pela Terra (ALT), manifestando-se contra o Marco Temporal e o PL 490 e todas as medidas políticas e administrativas que fazem parte da agenda política ruralista deste governo.
Medidas e Proposta legislativas que ferem a Constituição Federal e prejudicam nossos direitos originários e favorecem os fazendeiros, grileiros, madeireiros, mineradoras e garimpeiros.
Diante dessa conjuntura viemos repudiar e condenar com veemência a violência e truculência pública da Polícia legislativa e da Polícia Militar do DF contra nossos parentes que estavam dia 22 deste, em manifestação pacífica no estacionamento do Anexo II da Câmara dos Deputados em Brasília-DF por nossos direitos territoriais, culturais, ambientais e o futuro das gerações futuras.
Afirmamos nosso total apoio às lideranças e organizações indígenas que se encontram mobilizados em Brasília neste momento, e entendemos e denunciamos que qualquer agressão e violência do aparato policial do Estado significa cerceamento do nosso direito de liberdade de expressão, opinião e manifestação.
Portanto consideramos essas atitudes autoritárias e repressivas promovidas por agentes de segurança da Câmara e do Distrito Federal são absurdas e absolutamente desnecessárias.
E reafirmamos que seguiremos nos mobilizando com a força de nossas espiritualidades e culturas, para garantir nosso direito originário e a proteção e defesa dos nossos territórios. Seguiremos defendendo nossos territórios, pois nosso território é vida, é saúde, é sustentabilidade. Pois nosso direito não começou em 1988. E essas balas de borracha, essas bombas, esse spray de pimenta estão errados, e mesmo assim, nós povos vamos continuar a luta!