Curso sobre histórias e culturas indígenas promove conexão em tempos de pandemia
Com aulas on-line pela primeira vez, iniciativa proporcionou intercâmbios de conhecimentos entre participantes de todo o Brasil
As trocas de saberes como forma de superar o isolamento imposto pela pandemia marcaram a primeira edição on-line do curso de extensão em Histórias e Culturas Indígenas. Promovido pelo Conselho Indigenista Missionário (Cimi) em parceria com a Universidade da Integração Latino Americana (Unila), o curso abordou temas como direitos constitucionais, conjuntura política, estudos antropológicos e projetos de bem viver como crítica radical ao capitalismo.
“Olhando a tela do computador, parecia que não eram apenas janelinhas da plataforma de transmissão, eram janelinhas por onde entrava sol, vento e isso foi muito bom para arejar as ideias”
Durante os 30 dias de aulas, a conexão foi além da internet: promoveu sintonia entre os 60 participantes indígenas e não-indígenas de todas as regiões do país. “Olhando a tela do computador, parecia que não eram apenas janelinhas da plataforma de transmissão, eram janelinhas por onde entrava sol, vento e isso foi muito bom para arejar as ideias”, resume o cursista Reinaldo Tillmann, coordenador da Cáritas Arquidiocesana de Pelotas (RS).
Professor aposentado de Direito na Universidade Católica de Pelotas, Reinaldo conta que já está usando os conteúdos aprendidos no curso em suas formulações e participações públicas em eventos. “O curso foi um tempo muito bom, de muita reflexão pra mim. Todas as disciplinas sempre contaram com a participação de indígenas, ativistas, tivemos depoimentos, documentários, áudios e isso nos fez mergulhar”, pontua.
A jornalista Mayra Wapichana concorda com Reinaldo: “Eu terminei minha graduação em 2016 e foi super importante para mim participar e abrir um pouco mais de tempo para a leitura e reflexão. O curso traz abordagens que infelizmente a gente não encontra facilmente na universidade e sinto que complementou a minha formação acadêmica”, avalia Mayra, acrescentando que a partir dos conteúdos apresentados, ela pôde estabelecer novos links com sua vivência cotidiana.
Formar multiplicadores
Esta foi a quinta edição do curso multidisciplinar e recebeu aproximadamente 400 inscrições. Os critérios de seleção consideraram questões como a vinculação do inscrito com movimentos e pastorais sociais, com a educação escolar, e sua atuação na área do direito. A missionária do Cimi Marline Dassoler explica que a iniciativa busca formar multiplicadores na defesa da questão indígena. “Os objetivos desse curso vão desde a desconstrução de paradigmas e crenças infundadas sobre a questão indígena até a valorização da cultura e modo de ser de cada povo”.
“Conseguimos atingir nossos objetivos. Embora o formato virtual fosse uma novidade, não deixamos a desejar quanto ao conteúdo”
Na avaliação de Marline, a edição de 2020 foi muito proveitosa. “Conseguimos atingir nossos objetivos. Embora o formato virtual fosse uma novidade, não deixamos a desejar quanto ao conteúdo. Aliás, por ser on-line, pudemos ter uma maior participação de convidados indígenas e não indigenas, pessoas que estiveram conosco em tempo real, contribuindo nas discussões e troca de saberes”.
Diversidade
Marline destaca, ainda, a participação de pessoas com formações nas mais variadas áreas, como História, Antropologia, Comunicação Social, Medicina Veterinária e Artes Cênicas, por exemplo. “Tínhamos doutores, mestres e estudantes de graduação que juntos puderam experienciar uma forma diferente de ver a causa indígena. Outro aspecto foi a participação de indígenas. Nas edições presenciais, era mais difícil para elas e eles o deslocamento de suas aldeias até Brasília. Esta edição proporcionou mais participação”.
“Os professores que são indigenistas têm uma formação profunda, não apenas teórica mas de vivência também, com uma vida toda dedicada a este processo de formação, mas acredito que as próximas edições podem prever maior número de indígenas – não apenas como cursistas e palestrantes, mas também como professores”
Mayra também gostou de ver outros indígenas no curso, mas acredita que há espaço para ampliar esta participação. “Os professores que são indigenistas têm uma formação profunda, não apenas teórica mas de vivência também, com uma vida toda dedicada a este processo de formação, mas acredito que as próximas edições podem prever maior número de indígenas – não apenas como cursistas e palestrantes, mas também como professores”, sugere.
Próximos passos
Além das aulas síncronas e assíncronas, o curso estabelece a realização de um trabalho individual com orientação dos professores, que os estudantes devem entregar até o final de fevereiro. Ainda é uma incógnita se a edição do curso em 2021 poderá ser presencial. “Tudo dependerá das condições sanitárias. Não temos ainda a definição da data ainda, mas logo que tivermos vamos espalhar aos quatro cantos para que tenhamos o mesmo sucesso das edições que antecederam, tanto em inscrições como em satisfação dos participantes”, salienta Marline.