Muito além do 19 de abril
Escola de Minas aprofunda temática indígena e engaja alunos em defesa dos povos e contra o marco temporal
Todos os anos, os estudantes do Colégio Santo Agostinho, em Contagem (MG), têm a oportunidade de aprender um pouquinho mais sobre a história dos povos originários no Brasil. De acordo com a instituição de ensino, os projetos e campanhas voltados à causa indígena são realizadas há quase duas décadas, sempre com uma abordagem diferente. “Os alunos são estimulados a desenvolverem pesquisas para conhecer o contexto histórico dos povos de Minas Gerais, bem como os desafios e demandas que perduram em suas comunidades”, relata a professora de história Inez Grigolo.
O Conselho Indigenista Missionário (Cimi) participou da iniciativa, que teve formato on-line por conta da pandemia, em 2020. O coordenador do Regional Leste, Haroldo Heleno, realizou um bate-papo com jovens do 6º e 7º ano sobre a atual conjuntura dos povos indígenas, com foco nos direitos constitucionais e principais ameaças a eles. “É uma meninada muito interessada no assunto e a proposta da escola tem o objetivo de desconstruir a visão preconceituosa e distorcida que geralmente encontramos nos livros didáticos e na sociedade”, pontua Haroldo.
O debate com os jovens também serviu para explicar o que está em jogo no caso de repercussão geral que pode ser julgado a qualquer momento no Supremo Tribunal Federal (STF) e definirá o futuro dos indígenas no Brasil. Na ocasião, Haroldo explicou que o marco temporal é uma tese que busca restringir dos direitos constitucionais dos povos e que nessa interpretação, defendida por ruralistas e setores interessados na exploração das terras tradicionais, os povos indígenas só teriam direito à demarcação das terras que estivessem sob sua posse no dia 5 de outubro de 1988, ou que, naquela data, estivessem sob disputa física ou judicial comprovada.
Após a conversa on-line, os estudantes se mobilizaram e criaram posts de apoio às lutas dos povos indígenas para divulgar nas redes sociais e participar da mobilização contra o marco temporal, por compreenderem que o direito dos povos é originário. A aluna Júlia Silvestre está no 7º ano e adorou estudar o assunto. “Essa atividade me ensinou como os indígenas têm importância na constituição da história do Brasil e merecem ter reconhecimento. Foram eles que nos formaram, nossos descendentes, a nossa cultura”.
A colega Mirela Soares Silva, também do 7º ano, complementa: “Muitos indígenas estão morrendo pela falta de um sistema bom de saúde e desassistência do Estado! É importante que haja mudanças na demarcação de terras, na preservação da cultura, acesso à moradia, emprego, sistema de saúde e escolaridade”.
A programação da escola incluiu, ainda, debates e entrevistas com indígenas. Em agosto, os estudantes participaram de uma live com o professor indígena Karkaju, do povo Pataxó, que fez relatos do seu trabalho de educador e contou sobre a vida das crianças nas aldeias, as brincadeiras e as tradições. Em setembro, foi a vez de os alunos do Santo Agostinho ouvirem as histórias dos povos indígenas contadas pelas jovens Hamangai (Pataxó HãHãHã); Jéssica (Tupinambá de Olivença) e Alice (Pataxó).
Leia algumas mensagens enviadas pelos alunos aos povos:
Guerreiros indígenas do Brasil. Obrigada pelos conhecimentos e costumes que vocês e seus antepassados transmitiram a nós, vocês são uma das principais bases da formação da nação brasileira. Não desistam de lutar pelas suas terras, corram atrás dos seus direitos e batalhem para conseguir viverem em paz com seus costumes e tradições em suas aldeias, pois tudo valerá a pena. O meu apoio vocês têm.
Maria Eduarda Pedroso Magalhães – 7º ano
Vocês são guerreiros fortes e valentes. Vão conseguir vencer. Tenham certeza de que podem contar comigo, juntos vamos acabar com todo esse preconceito, ameaça e invasão. Juntos somos mais fortes.
Ana Flávia Bonfim – 7º ano
Vocês são especiais do jeito que são. Mantenham sua cultura, até porque, ela faz parte da história de todos. Não se deixem abalar pelas falas preconceituosas de algumas pessoas, porque o que elas falam não é a verdade. Vocês são muito importantes para a nossa história e sociedade. Quero que vocês vivam em paz!
Maria Clara Matos Machado – 7º ano