Em meio à pandemia, os Avá Guarani sofrem mais um ataque a tiros no oeste do Paraná
A crescente violência contra os Avá Guarani está realacionada a não demarcação do território tradicional do povo, aponta o Cimi Regional Sul
O Conselho Indigenista Missionário (Cimi) Regional Sul, vem a público repudiar e exigir que os novos ataques à comunidade Yhovy, Tekoha Guasu Guavirá, do povo Avá Guarani, localizado no município de Guaíra, Paraná, sejam investigados e os responsáveis punidos.
Nos dias 28 e 31 de maio, pessoas armadas em um veículo que transitava pela Avenida Martin Luther King, que faz divisa com a aldeia, efetuaram disparos de arma de fogo na tentativa de assassinar membros da comunidade indígena.
Os Avá Guarani foram alvos dos ataques enquanto cumprem isolamento na aldeia, onde buscam se proteger e proteger toda a população contra da covid-19. Momento em que criminosos se aproveitam da vulnerabilidade para atacar os indígenas, num gesto claro de ódio racial. Segundo as lideranças que presenciaram os ataques, os tiros foram em direção aos indígenas, demonstrando claramente que desejam eliminar as pessoas.
Além dos tiros, os Avá Guarani foram vítimas de “acidentes” de trânsito, atropelamento. Segundo relatou o cacique da comunidade, pessoas da aldeia sofreram tentativas de atropelamento quando se deslocavam de bicicleta. Nas últimas duas semanas cinco pessoas foram vítimas dessa forma de agressão, sendo que duas delas foram hospitalizadas. Não se trata de acidente, mas de ações deliberadas. Esses casos levantam suspeitas sobre o atropelamento com morte de um adolescente ocorrido em 29 de fevereiro e de outras duas tentativas de atropelamento ocorridas no mês de março.
Para o Cimi Regional Sul essa crescente violência está diretamente ligada a questão fundiária. Desde que o presidente da Funai anulou os estudos de identificação e delimitação e não recorreu da decisão proferida pelo juiz no processo movido pela Prefeitura Municipal de Guaíra e Terra Roxa (nº. 5001048-25.2018.4.04.7017), contra a regularização da terra indígena Tekoha Guasu Guavirá, tonando-se assim nulos todos os estudos de identificação e delimitação, a violência vem crescendo.
A decisão ocorre justamente num momento em que o país vive em uma pandemia do novo coronavírus, em que pessoas se sentem empoderadas a ameaçar os Avá Guarani, que durante a quarentena tem procurado ficar dentro do seu tekoha, saindo somente em caso de extrema necessidade.
É necessário e urgente que as ameaças contra os Avá Guarani sejam investigadas pelas autoridades competentes e que seja garantida a proteção do povo.
Chapecó (SC), 02 de junho de 2020.
Conselho Indigenista Missionário – Regional Sul