13/05/2020

Barreira sanitária Krahô intercepta carro com munição de arma de fogo na Terra Indígena Kraolândia

Indígenas apreenderam veículo com munições de armas de fogo na TI Kraolândia e denunciam a presença de caçadores e madeireiros no seu território, no Tocantins

Barreira sanitária do povo Krahô na aldeia Kapej, TI Kraolândia, no Tocantins. Foto: povo Krahô

Barreira sanitária do povo Krahô na aldeia Kapej, TI Kraolândia, no Tocantins. Foto: povo Krahô

Por Assessoria de Comunicação do Cimi

Lideranças do povo Krahô detiveram invasores numa das barreiras sanitárias realizada por eles na Terra Indígena (TI) Kraolandia, no Tocantins, em função da pandemia de covid-19. Na noite de sexta-feira (8), os indígenas barraram uma caminhonete que trafegava numa das estradas de acesso ao território e encontraram no veículo muitas munições de armas de fogo de diferentes calibres.

Os indígenas decidiram apreender a caminhonete até que a Polícia Civil e a Fundação Nacional do Índio (Funai) fossem até a barreira sanitária da aldeia Kapej, que fica próxima ao limite do território. A chegada dos policiais e servidores da Funai ocorreu nesta terça (12), e os indígenas entregaram a caminhonete apreendida às autoridades, que levaram o veículo até o município de Itacajá.

As lideranças Krahô também avisaram à polícia que o proprietário da caminhonete já ameaçou os indígenas em diversas ocasiões e relataram a situação ao Ministério Público Federal (MPF). No ano passado, os indígenas chegaram a denunciar essas ameaças à polícia.

Munições encontradas pelos indígenas em caminhonete parada na barreira sanitária Krahô. Foto: povo Krahô

Munições encontradas pelos indígenas em caminhonete parada na barreira sanitária Krahô. Foto: povo Krahô

Segundo informações do Cimi Regional Goiás/Tocantins, os Krahô, assim como outros povos indígenas do Tocantins, fizeram barreiras sanitárias para diminuir o risco de contaminação por coronavírus nas suas aldeias logo depois que o governo do estado decretou o isolamento social, ainda em março.

Como as invasões à TI Kraolândia continuaram, entretanto, as lideranças das mais de 40 aldeias do território decidiram ampliar o número de barreiras, estabelecendo locais de fiscalização em outros quatro pontos do território. As barreiras devem seguir por tempo indeterminado.

A maioria das invasões, ainda segundo informações do Regional do Cimi, é feita por madeireiros e por caçadores ilegais que adentram o território em busca especialmente de ovos de arara, especialmente, para revender as aves no mercado clandestino de animais silvestres. Além disso, os indígenas também já denunciaram que há traficantes circulando na terra demarcada.

“As lideranças das aldeias relatam que estão quase totalmente desassistidas pelo governo federal”

Indígenas reclamam que não têm recebido cestas básicas e nem materiais de higiene, como máscaras. Foto: povo Krahô

Indígenas reclamam que não têm recebido cestas básicas e nem materiais de higiene, como máscaras. Foto: povo Krahô

“O território Krahô é cercado pelo agronegócio, com extensas plantações de eucalipto e soja que também pressionam os indígenas. Às vezes, as lavouras são pulverizadas com agrotóxicos que chegam até a terra indígena”, explica Jucilene Correia, do Cimi Regional Goiás/Tocantins.

A proximidade de fazendas e dos municípios vizinhos e a presença de invasores na TI Kraolândia em meio à pandemia preocupa especialmente os indígenas, que cobram providências dos órgãos públicos. Os Krahô afirmam que ainda não receberam da Funai e da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) materiais de higiene, como álcool gel e máscaras.

Os indígenas também cobram da Funai a distribuição de cestas básicas, que ainda não chegaram às aldeias. Segundo o Cimi Regional Goiás/Tocantins, as únicas cestas básicas que estão sendo fornecidas aos indígenas são as do governo estadual.

“Essas cestas do governo estadual são reduzidas e voltadas apenas às crianças e aos jovens matriculados nas escolas, que estão com as aulas suspensas”, relata Jucilene. “Mas, fora isso, as lideranças das aldeias relatam que estão quase totalmente desassistidas pelo governo federal”.

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