04/05/2020

Indígenas de Tefé pedem socorro e denunciam falta de equipamentos de segurança para servidores da saúde

Conforme denúncia, DSEI Médio Solimões enviou agentes de saúde doentes para aldeias em meio à pandemia do novo coronavírus. As orientações defendidas pelos indígenas não teriam sido respeitadas

1º Mutirão de Defesa de Direitos, aldeia Porto Praia de Baixo, Tefé. Foto: Esther Gillinghan

Por J. Rosha, da Assessoria de Comunicação – Cimi Regional Norte I (AM/RR)

Em meio à pandemia do coronavírus, com o aumento do número de casos pelo interior do Amazonas, indígenas do município de Tefé, na região do Médio Solimões, denunciam o Distrito Especial de Saúde Indígena (DSEI) Médio Solimões por descumprimento das normas para proteção às aldeias e cobrando um plano de ação para o enfrentamento à covid-19.

Por meio do Ofício Nº. 003 /2020, a conselheira distrital Nazide Arantes Fernandes, também coordenadora da Associação de Mulheres Indígenas do Médio Solimões e Afluentes (AMIMSA), encaminhou denúncia ao procurador da República, Fernando Merlotto Soave.

O documento, segundo ela, tem por base um “pedido de socorro dos indígenas da Terra Indígena Barreira da Missão”, localizada próxima à cidade de Tefé. Com uma área de dois mil hectares, a Terra Indígena abriga quatro aldeias com famílias dos povos Kokama, Kambeba e Tikuna formando uma população de aproximadamente 800 pessoas.

A exemplo de outros povos que tomaram iniciativas, evitando a circulação de pessoas em seus territórios, os indígenas da Barreira da Missão produziram um documento destacando as recomendações de prevenção e proibindo a entrada de não indígenas nas aldeias, entre os quais os profissionais das equipes multidisciplinares de saúde indígena residentes na cidade. “Pedimos que eles apresentassem testes negativos para poder ingressar no serviço”, disseram as lideranças da aldeia.

As orientações defendidas pelos indígenas não teriam sido respeitadas pela coordenação do DSEI, conforme denunciam. “Foi enviado um profissional de saúde para o Polo Base, que já estava gripado e se sentindo mal. Durante uma semana esse profissional fez atendimentos de enfermagem aos indígenas, teve convívio com os outros integrantes da equipe, dormindo no mesmo quarto, vivendo normalmente sem saber que já estava infectado até apresentar os sintomas”, relatam os indígenas no documento enviado ao procurador da República.

Eles dizem ainda que, após tomar conhecimento do ocorrido, os gestores do DSEI enviaram uma equipe para realizar os testes nos profissionais confirmando dois casos positivos. Tanto os indígenas quanto outros profissionais da saúde estariam preocupados, pois tiveram contato com as pessoas infectadas.

Os gestores do DSEI não teriam comunicado às lideranças indígenas quanto ao resultado dos testes. “Achamos uma afronta, desrespeito e falta de ética não nos comunicar o que estava acontecendo, parecendo um ato de ocultar informações”, protestaram os indígenas.

Na última quarta-feira, 29, aconteceu uma reunião entre lideranças indígenas e gestores do DSEI/Médio Solimões (que abrange 14 municípios). Os indígenas solicitaram a apresentação de um plano de urgência para tratar do combate à covid-19, mas não tiveram sucesso. Em vez de um plano de urgência, os indígenas teriam presenciado ameaças de demissão dos profissionais de saúde que reclamassem da falta de equipamentos de proteção.

Fonte: Por Assessoria de Comunicação - Cimi
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