Dom Aldo Mongiano: uma voz decisiva em apoio aos indígenas de Roraima
Mesmo sob ameaças e hostilização, dom Aldo foi um ardoroso defensor da demarcação da TI Raposa Serra do Sol e dos povos indígenas de Roraima
Por Cimi Regional Norte I (AM/RR)
No último dia 15 de abril, aos 100 anos de idade, morreu dom Aldo Mongiano, bispo emérito de Roraima, em Pontestura, na Itália, onde atualmente residia. Foi bispo da Diocese de Roraima entre 1975 e 1996. Mesmo sob ameaças e hostilização, dom Aldo foi um ardoroso defensor da demarcação da Terra Indígena Raposa Serra do Sol e dos povos indígenas de Roraima.
No final da tarde de 12 de outubro de 1992, na praça do Centro Cívico, em Boa Vista (RR), dom Luciano Mendes de Almeida, então presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), iniciava um ato em desagravo a dom Aldo Mongiano, bispo da Diocese de Roraima. Ao lado dele estavam dom Pedro Casaldáliga, dom Moacir Grecchi, dom Tomás Balduíno, dom Luís Soares Vieira e outros bispos de 12 dioceses e prelazias de vários estados.
As autoridades eclesiásticas, juntamente com parlamentares, dirigentes de movimentos sociais e lideranças indígenas de Roraima estavam ali reunidas em um ato para reparar ofensas e ameaças sofridas por dom Aldo Mongiano. Dias antes, durante um programa de rádio, um ouvinte ligou para a emissora fez uma ameaça direta ao bispo durante a transmissão de um programa.
A ameaça contra a maior autoridade da Igreja Católica em Roraima era apenas mais uma diante de tantos episódios vividos diariamente por missionárias e missionárias com atuação junto aos indígenas. O muro da residência dos padres, no bairro Calungá, com frequência era pichado com frases ofensivas aos seus moradores. Atentados foram cometidos contra sacerdotes a caminho da missão nas aldeias.
Todos que apoiavam a luta dos indígenas pelo direito à terra sofriam perseguição de quase todos os setores da sociedade roraimense e isso ficava evidente em reportagens e pronunciamentos pelos meios de comunicação. Com muita frequência, políticos, militares e comunicadores acusavam a Igreja de estar à serviço da internacionalização da Amazônia com objetivo de transformar as terras indígenas em nações independentes. Tudo isso provocava um clima de tensão permanente no Estado.
O acirramento dos ataques ao bispo e aos padres remontava 1977. Os indígenas, naquele ano, realizaram uma assembleia e tomaram uma decisão: com o lema “Não à Cachaça e Sim à Comunidade”, assumiram o compromisso de fortalecer sua organização e enfrentar fazendeiros, garimpeiros e outros invasores em prol da demarcação da Terra Indígena Raposa Serra do Sol.
Daquele momento em diante a Igreja de Roraima, com dom Aldo Mongiano à frente, abraçava a causa indígena com disposição ainda maior. Esse apoio se deu por meio de manifestações públicas denunciando a exploração a que os indígenas estavam submetidos nas fazendas e com apelos à sociedade por apoio à demarcação da terra.
Outro apoio importante da Igreja aos indígenas foi o desenvolvimento de projetos econômicos, como o projeto “Uma Vaca para o Índio” e as cantinas comunitárias.
Em 21 anos à frente da Igreja de Roraima, dom Aldo Mongiano foi uma voz decisiva no apoio aos indígenas pela demarcação de suas terras, especialmente da Terra Indígena Raposa Serra do Sol.
Fica a homenagem e a lembrança do Conselho Indigenista Missionário (Cimi).