26/03/2020

MPF requisita inquérito policial para investigar expedição missionária em área de índios isolados

Invasão à TI Vale do Javari, no estado do Amazonas, estaria em planejamento por evangélico de organização estadunidense para contatar povos isolados

Indígenas temem que missionários fundamentalistas levem doenças ao Vale do Javari. Crédito da foto: J. Rosha/Cimi

Por Assessoria de Comunicação – Procuradoria-Geral da República (PGR)

O Ministério Público Federal (MPF) requisitou nesta quarta-feira (25) à Polícia Federal (PF) a instauração de inquérito para investigar e impedir suposta expedição missionária com o objetivo de realizar contato com índios isolados da Terra Indígena Vale do Javari, no estado do Amazonas. Na avaliação do órgão, caso seja confirmada, a expedição representa grave risco à saúde dos indígenas, uma vez que são extremamente vulneráveis a doenças, podendo seu contato desencadear grande mortandade ou mesmo dizimar populações inteiras. Também foram solicitadas informações à Fundação Nacional do Índio (Funai) e ao missionário apontado como responsável pela excursão.

Matéria jornalística divulgada nessa terça-feira (24) pelo jornal O Globo revelou as supostas intenções do missionário Andrew Tonkin de realizar expedição no território Igarapé Lambança, habitado por índios em situação de isolamento voluntário. De acordo com o coordenador da Câmara de Populações Indígenas e Comunidades Tradicionais do MPF (6CCR), subprocurador-geral da República Antônio Bigonha, além de riscos à saúde dos índios, a entrada sem autorização em seu território pode configurar crime contra a saúde pública, dentre outros ilícitos penais.

Além de requisitar a investigação à Polícia Federal, o MPF encaminhou ofícios à Funai, solicitando informações acerca das providências adotadas para impedir a entrada do missionário ou outros na terra indígena, e ao próprio Andrew Tonkin. O missionário tem prazo de 24 horas para se manifestar sobre o conteúdo da reportagem e informar se tem autorização oficial para ingresso em terra indígena, quem financia a referida expedição e, ainda, o nome de possíveis outras pessoas envolvidas na jornada.

A Constituição de 1988 estabeleceu a política de não contato com povos indígenas isolados, cabendo ao Poder Público zelar pela proteção e inviolabilidade de seus territórios. Qualquer contato com esses povos tradicionais deve partir de iniciativa própria e exclusiva deles, não sendo permitido o ingresso de missionários religiosos, madeireiros, garimpeiros e outras pessoas desautorizadas nas terras indígenas.

Covid-19

Na última segunda-feira (23), em resposta à recomendação do Ministério Público Federal, a Funai alterou a Portaria 419/2020 – que estabelecia medidas temporárias de prevenção à infecção e propagação da covid-19 em terras indígenas – para prever que apenas a Coordenação-Geral de Índios Isolados e de Recente Contato pode autorizar, de forma excepcional, atividades que impliquem contato com indígenas isolados ou de recente contato. Na redação original, a autorização havia sido delegada às Coordenações Regionais (Crs).

Segundo defendeu o MPF na recomendação, no entanto, as CRs “não têm entre suas atribuições a competência para executar ações de contato e pós contato, nem dispõem, no seu quadro de pessoal, de servidores com capacitação específica para lidar com as especificidades das políticas voltadas aos povos isolados e de recente contato, especialmente em situação de crise epidemiológica”. O órgão alertou, ainda, que uma ação de contato por instância sem capacidade legal e técnica para tomar decisões referentes aos povos isolados pode agravar a exposição à covid-19 de povos que já têm pouca ou nenhuma capacidade de resposta imunológica ao vírus.

Requisição de IPL
Ofício a Funai
Ofício a Andrew Tonkin

Fonte: Por Assessoria de Comunicação - Procuradoria-Geral da República (PGR)
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