25/11/2019

Jovens Myky recebem prêmio Ana Primavesi com o documentário Jananã durante o CBA

Jovens indígena Mỹky apresentam ainda outras experiências de ensino, produção e educação durante o XI Congresso Brasileiro de Agroecologia

Os jovens Mỹky tiveram participação ativa nos eventos de Agroecologia. Foto: Geraldo Lopes / Cimi MT

Os jovens Mỹky tiveram participação ativa nos eventos de Agroecologia. Foto: Geraldo Lopes / Cimi MT

Por Assessoria de Comunicação do Cimi

Jovens indígenas do Povo Mỹky receberam o Prêmio Ana Primavesi, tida como a mãe da Agroecologia no Brasil, com o documentário “JANANÔ pelo Festival Internacional de Cinema Agroecológico, realizado de forma simultânea ao XI Congresso Brasileiro de Agroecologia (CBA), edição de 2019, realizado entre os dias 4 a 7 deste mês em Aracaju, Pernambuco. O Congresso reuniu cerca de 3.500 pessoas que ao longo dos quatro dias partilharam saberes agroecológicos e exercitaram a ecologia de saberes.

O grupo de quatro jovens Myky premiados são estudantes do Curso Técnico de Agroecologia, da Escola Indígena Xinui Mỹky, localizada na Terra Indígena Mỹky, município de Brasnorte, no Mato Grosso. A escola tem oportunizado aos seus estudantes o protagonismo em várias atividades inclusive na produção cinematográfica nas aldeias.

“O Povo Mỹky não tinham o algodão. Foi a Nambuzinha que deu o algodão para as mulheres Mỹky”

Typju Myky, Minã Myky e Vicente Carelli durante a XI edição do CBA. Foto: Geraldo Lopes / Cimi MT 

Typju Myky, Minã Myky e Vicente Carelli durante a XI edição do CBA. Foto: Geraldo Lopes / Cimi MT

Os jovens saíram de seu território com a expectativa de apresentar seus relatos de experiências no CBA e participar do Festival Internacional de Cinema Agroecológico com o documentário Janãna (Algodão), que mostra os saberes e fazeres das mulheres Mỹky e suas práticas no manejo do algodão. Atividade exclusivamente feminina que mobiliza o coletivo de mulheres na confecção de redes, Zamata, e outros artefatos de algodão.

Outro material audiovisual apresentando foi o curta metragem “Kamunu e Paatau”, que relata a história do algodão e das mulheres que dominam o conhecimento sobre sua prática, contam o surgimento desta importante atividade para as mulheres Mỹky e para toda a comunidade. Na narrativa dizem elas: “O Povo Mỹky não tinham o algodão. Foi a Nambuzinha que deu o algodão para as mulheres Mỹky”.

Na cultura Mỹky as mulheres são as “donas” do algodão. Donas no sentido do cuidado e do manejo desde o plantio até a colheita. São as mulheres que plantam, cuidam, colhem, descaroçam, fiam e tecem.

Na ocasião do XI CBA, as jovens Njawayruku Mỹky e Atuu Mỹky também apresentaram o trabalho intitulado “O Algodão na Vivência e Empoderamento das Mulheres Mỹky”. Já os jovens Typju e Minã apresentaram os saberes Mỹky na escola com o trabalho, “Conservação de Tuberculos”. Além destas produções, o missionário do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), no Mato Grosso, Geraldo Abdias Lopes também deixou sua contribuição com o trabalho “O ensino técnico em Agroecologia como espaço de valorização dos saberes tradicionais do povo Mỹky”.

 

Troca de Sementes e Saberes

Dentre todas as atividades no Congresso Brasileiro de Agroecologia uma das mais importantes e que deixa o jovem Minã Myky animado é a feira de Troca de Sementes. Essas trocas de sementes e de saberes têm importância fundamental para o fortalecimento e manutenção dos sistemas agrícolas das comunidades. Essas trocas possibilitam que as comunidades continuem mantendo uma diversidade ecológica nas suas agriculturas tradicionais, garantindo a particularidade que lhe são tão próprias e a diversidade na produção de alimentos.

As trocas de sementes e saberes tem por objetivo contribuir para a manutenção das agriculturas indígenas tradicionais e visibilizar sua relevância para a diversidade dos sistemas alimentares dos povos indígenas. Essa atividade de troca de sementes e saberes não se tornou ainda uma rede, pois não é o objetivo central, mas tem contribuído para o aumento da variedade de alimentos cultivados nas aldeias, a recuperação de espécies desaparecidas no processo do contato e o fortalecimento das roças tradicionais, aponta o jovem Mỹky.

 

Agroecologia na Escola Xinui Mỹky

O Curso Técnico em Agroecologia na modalidade de Ensino Técnico Integrado a Educação Profissional teve início em 2016. Esta iniciativa, desde o seu início, teve a colaboração técnica da educadora Elizabeth Aracy Rondon Amarante, pertencente ao Cimi que vive junto ao Povo Mỹky desde 1979 e contribui, desde a sua chegada na aldeia, no processo de escolarização Mỹky, sempre defendendo o direito deste povo a uma Educação Escolar Indígena que respeitasse o modo de vida, a língua e a cultura, bem como contribuiu na elaboração de diversos materiais didáticos, livros na língua Mỹky e dicionários culturais, para uso na educação. Elizabeth é alfabetizadora na língua Mỹky e na língua portuguesa da primeira geração de professores indígenas deste povo.

“O curso busca a valorização dos saberes tradicionais e principalmente, a prática das roças de queima “coivara””

Turma do Tecnico em Agroecologia. Foto: Geraldo Lopes / Cimi MT

Em 2015 com a conclusão da turma de Educação de Jovens e Adultos (EJA), surgiu a proposta de oferecer aos jovens a possibilidade de cursar uma modalidade de educação que respeitasse e valorizasse os saberes tradicionais e, sobretudo, os saberes sobre a roça tradicional que envolve toda a cosmologia do Povo Mỹky. Nesta perspectiva o nome do curso foi discutido com os próprios jovens e comunidade, deliberando pela expressão na língua Mỹky “Mekynpjaha Kaakika”, que quer dizer horizonte aberto.

Este curso também se insere no paradigma de uma Educação Escolar Indígena, em que a escola não é mais um instrumento do Estado para o processo de integração dos povos indígenas na sociedade nacional, mas um instrumento que busca a autonomia, e desenvolvimento dos processos próprios de educação de cada povo.

Neste sentido as Diretrizes Curriculares Nacionais Indígenas da Educação Básica, Resolução CEB Nº 5 de 22 de junho de 2012, em seu artigo 13 e incisos I e II asseguram uma educação tecnológica para os povos indígenas que valoriza e respeita seus modos de vida.

A metodologia adotada no curso é a Pedagogia da Alternância em que a aprendizagem parte da experiência prática e não ao contrário, dos intercâmbios e das visitas técnicas, acompanhada com reflexões teóricas (Projeto Pedagógico, 2015). Por isso, o Tempo Comunidade tem importância e é valorizado tanto quanto o Tempo Escola. Essa metodologia vem ao encontro com a pedagogia do Povo Mỹky, em que a aprendizagem acontece a partir do fazer e da experiência, ou seja, aprender-fazendo. Sendo assim, o educando se torna sujeito de sua própria história e também da sua própria aprendizagem.

Nesta perspectiva, o curso busca a valorização dos saberes tradicionais e principalmente, a prática das roças de queima “coivara” como uma técnica tradicional, milenar e ecológica do Povo Mỹky.

 

Participação em eventos de Agroecologia

Os jovens Mỹky tiveram participação ativa nos eventos de Agroecologia, a exemplo da XI edição do CBA, do V Encontro Nacional de Agroecologia (ENA), do Grupo de Intercâmbio em Agroecologia (GIAS), e a troca de experiência em Universidades. Estas experiências têm proporcionado momentos de aprendizados e valorizamos. “Estes espaços são importantes para nossa formação em agroecologia”, afirmam os jovens Mỹky que tem se tornada cada vez mais protagonistas de sua própria história.

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