15/10/2019

Juventude indígena de Alagoas realiza encontro para organizar resistência em defesa dos direitos constitucionais

A aldeia Fazenda Canto recebeu o I Encontro de Jovens Indígenas do Estado de Alagoas e o IV Encontro da Juventude Xukuru-Kariri

Encontro reuniu ao menos uma centena de jovens para discutir assuntos da conjuntura. Crédito da foto: Hélio Pereira/Cimi Regional Nordeste

Por Cimi Regional Nordeste

A aldeia Fazenda Canto, Terra Indígena Xukuru-Kariri, em Palmeira dos Índios (AL), recebeu entre dos dias 8 e 11 de outubro o I Encontro de Jovens Indígenas do Estado de Alagoas e o IV Encontro da Juventude Xukuru-Kariri. Jovens dos povos Xukuru-Kariri, Wassu-Cocal, Jiripankó, Kaotkinn, Karuazú e Xokó, do Sergipe, participaram do encontro ao lado da Articulação dos Povos e Organizações Indígenas do Nordeste, Minas Gerais e Espírito Santo (Apoinme) e entidades aliadas, caso do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) Regional Nordeste.

“Há um evidente alinhamento entre os três poderes e o capital financeiro, nacional e internacional, cujo principal objetivo é o extermínio dos povos indígenas e a tomada de seus territórios”, declaram os jovens na carta final divulgada ao término do encontro. Para os jovens indígenas, “o governo federal vem abertamente promovendo ações que buscam desmobilizar os povos indígenas e suas organizações sociais”. Se manifestaram ainda contra o marco temporal e a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 187.

Partindo da análise da conjuntura, os jovens traçaram estratégias de luta: “precisamos ampliar o leque de alianças e ocupar os espaços de representação para o efetivo enfrentamento da investida não indígena, que visa aniquilar sociocultural e fisicamente nossos povos”. Espaços como o Sínodo da Amazônia foram lembrados como momentos importantes dos povos falarem ao mundo sobre o que se passa no Brasil.

Leia a carta na íntegra:

 

Jovens indígenas de Alagoas decidiram assumir papel importante na resistência de seus povos por direitos. Crédito da foto: Hélio Pereira/Cimi Regional Nordeste

Carta do IV Encontro da Juventude Xukuru-Kariri e I Encontro de Jovens Indígenas do Estado de Alagoas: Resistência frente ataques aos nossos direitos

Reunidos de 8 a 11 de outubro de 2019 na Aldeia Fazenda Canto, Terra Indígena Xukuru-Kariri, Palmeira dos Índios – AL, nós dos povos Xukuru-Kariri, Wassu-Cocal, Jiripankó, Katokinn, Karuazú, Xokó (SE) e os seguintes aliados: IFAL, UFAL, UNEAL, NAFRI/CESMAC, IRPAA, SINDIPREV, PJMP, CIMI, AAGRA, APOINME, MPDC e MNU, após refletirmos sobre temas referentes à atual conjuntura, marcada pela retirada massiva de direitos, viemos manifestar nosso repúdio à forma como o Estado brasileiro se mostra omisso na aplicação de políticas públicas e na efetivação dos direitos dos povos indígenas. Em comunhão com o Sínodo da Amazônia, celebramos juntamente com o Bispo Dom Manoel Filho, da Diocese de Palmeira dos Índios. O Sínodo simboliza e trás para os povos o Bem- Viver, o respeito e cuidado com a casa comum – a biodiversidade – e a função da Igreja missionária na construção de uma ecologia integral.

Nos últimos tempos o governo federal vem abertamente promovendo ações que buscam desmobilizar os povos indígenas e suas organizações sociais. Citamos como exemplo as tentativas de deslegitimar e criminalizar lideranças tradicionais, como o recente caso envolvendo o cacique Raoni Kayapó, ao mesmo tempo em que fomenta e legitima supostas lideranças alinhadas aos interesses de grupos anti-indígenas, mas que não são reconhecidas pelos povos , essas ações estão provocando agudos e dramáticos conflitos internos nas comunidades, na completa contramão do que prevê a Constituição Federal de 1988.

Há um evidente alinhamento entre os três poderes e o capital financeiro, nacional e internacional, cujo principal objetivo é o extermínio dos povos indígenas e a tomada de seus territórios, cujos recursos naturais tem sido, historicamente, objeto de cobiça das elites políticas e econômicas do País. É o que expressa com muita clareza a tese jurídica do Marco Temporal e a PEC 187, que autoriza a exploração e arrendamento das Terras Indígenas, o aparelhamento e desmonte da FUNAI e da SESAI, os quais repudiamos veementemente.

Diante desse cenário, reiteramos a necessidade de articular os conhecimentos e a atuação das lideranças tradicionais com a formação, organização e luta política da juventude indígena. Nesse sentido, o encontro permitiu compreender com mais clareza o que está posto e como podemos lidar com tais ataques. Além disso, saímos comprometidos com a tarefa de difundir o que construímos e aprendemos ao longo desses dias em nossas respectivas bases e dar continuidade a um projeto de articulação da juventude indígena de Alagoas e Sergipe.

Reiteramos que é preciso defender a educação escolar e a saúde indígena, específicas e diferenciadas, bem como a demarcação e a regularização dos nossos territórios, aos quais temos direito originário. O Estado deve garantir o Bem Viver, que passa pela execução de concursos públicos para o magistério e saúde indígenas, assim como pela conquista territorial e fomento aos modos tradicionais de produção. Entendemos que a luta extrapola a análise política. Precisamos ampliar o leque de alianças e ocupar os espaços de representação para o efetivo enfrentamento da investida não indígena, que visa aniquilar sociocultural e fisicamente nossos povos. Nesse processo, a juventude deve desempenhar um papel fundamental. Organizada, ela conseguirá levar adiante o legado, as experiências e as histórias de luta herdadas das gerações passadas, que não cessam de nos ensinar. Saímos daqui com esse espírito.

Palmeira dos Índios – AL, 11 de outubro de 2019

 

Fonte: Por Cimi Regional Nordeste
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