30/09/2019

Hoje e sempre terá festa no Céu de Inuli

Alonso Irawali Iranche partiu na madrugada do dia 26 de setembro de 2019. Será recebido no Céu por Inuli e todos seus ancestrais

Alonso Irawali Iranche. Foto: arquivo Cimi regional Mato Grosso

Por Geraldo Abdias, do Cimi Regional Mato Grosso

Tomo a liberdade e a coragem de escrever um hiato sobre Alonso Irawali Iranche por ocasião de sua partida, na madrugada do dia 26 de setembro de 2019, início da primavera, para o Céu de Inuli. Quando o reencontrava, sempre recordava de uma cena que ocorreu em 2015. Ao chegar na aldeia Japuíra do povo Mỹky para o jogo de Bola de Cabeça, ao encontrar com Janãi, começaram a cantar e a dançar numa alegria contagiante.

Os Mỹky e Iranche-Manoki chamam este encontro de Xatjako, momento de muita alegria e festa. Hoje Irawli é recebido no Céu por Inuli e todos seus ancestrais, juntamente com Thomáz Jauka, Wajakuxi (Capitãozinho), vovô Xinui Mỹky, Jemuu, Celso e muitos outros…num Xatjako eterno.

Irawali representava a resistência cultural em seu próprio corpo. Andava sempre com um artefato indígena, que muito bem o colocava como sujeito histórico. Seus colares, xiretes com penas ou contas coloridas, não tinham a conotação de ser apenas adereços, mas o identificava com sua cultura.

Essa resistência corporal de Irawali representa também as lutas históricas dos povos indígenas no Brasil. Essa corporeidade da cultura está intrinsicamente relacionado com território e natureza. Aliás, territórios estes espoliados e esbulhados constantemente pelas elites brasileiras no decorrer da história. São mais de 519 anos de roubos dos territórios indígenas e dos bens da natureza.

Enfim, neste tempo obscuro da política brasileira, com todos os ataques do governo Bolsonaro contra os direitos indígenas, a Amazônia e Constituição Cidadã de 1988, a festa no Céu de Inuli será a resposta contra toda a tirania e nessa esperança de encontros e festas eternas alimentará nossa força na luta.

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