Mulheres indígenas ocupam prédio da Sesai, em Brasília
Durante Marcha das Mulheres Indígenas, a sede da Secretaria Especial de Saúde Indígena, em Brasília, foi ocupada em defesa do fortalecimento do órgão e da exoneração da coordenadora Sílvia Nobre Waiãpi
Cerca de 1.500 mulheres indígenas ocuparam na manhã desta segunda-feira (12) a sede da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), em Brasília. “O atendimento à saúde hoje está péssimo, muito ruim. Atende uma coisinha ou outra, mas não contempla toda a luta que estamos travando durante esses anos todos”, apontou a liderança Wanuan Xakriabá. A ocupação ocorreu após caminhada pelo Eixo Monumental, iniciada às 8h30, como parte das atividades da 1ª Marcha das Mulheres Indígenas em Brasília.
Uma das principais reivindicações apresentadas pelas mulheres indígenas é a exoneração da coordenadora da Sesai, Silvia Nobre Waiãpi. “[A Sesai] precisa de uma pessoa que atenda nossa demanda e tem uma pessoa que não atende nossa demanda. Nossos ancestrais nos deixaram essa luta e vamos seguir adiante”, explica Wanuan. Para a Xakriabá, a municipalização da saúde, proposta ainda viva, seria uma tragédia para os povos indígenas.
Levar essa e outras pautas à Sesai não foi tão simples. A Polícia Militar impedia a entrada das indígenas no prédio, que forçaram a abertura do caminho com sucesso. A integrante da coordenação da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), Sônia Guajajara, anunciou, após a ocupação, que o movimento das mulheres seguiria por tempo indeterminado. Com rituais, cânticos e maracá, as mulheres permanecem na ocupação.
Para Alessandra Munduruku, liderança indígena do Médio Tapajós, as mulheres são as que mais sofrem com o mau atendimento de saúde nos territórios. “Elas são árvores, a raiz está lá no fundo, e o governo está querendo cortar essa raiz. Mas as mulheres são muito resistentes. Elas que estão cuidando das roças, elas que sabem quando os filhos estão doentes, quando os filhos estão com fome. Então, elas estão saindo para defender seus direitos, seus territórios e seu povo. A saúde está muito precária em diversas regiões”.
Apesar da presença de lideranças femininas de mais de cem povos de todo o Brasil, a Secretária Sílvia Nobre não recebeu as indígenas na Sesai. “Infelizmente, a secretária da saúde teve que fugir. Ela só sabe conversar com meia dúzia, pelo capitalismo, e não pela saúde”, avalia Alessandra Munduruku.
As indígenas também buscam agenda com o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, oriundo da bancada ruralista do Congresso Nacional.
A Marcha
A Marcha das Mulheres Indígenas é fruto de uma extensa luta por reconhecimento e espaço dentro dos movimentos indígenas, e também perante a sociedade brasileira. Telma Taurepang, atual coordenadora da União das Mulheres Indígenas da Amazônia Brasileira (Umiab), passa em revista os anos recentes de organização das mulheres indígenas que culminaram na 1ª Marcha das Mulheres Indígenas em Brasília, iniciada no último dia 9 e que segue até quarta-feira (14).
“No ATL (Acampamento Terra Livre) de 2016 aconteceu a primeira plenária de mulheres indígenas. Esse reconhecimento da luta das mulheres, do nosso protagonismo dentro da Mobilização Nacional Indígena, dentro do país. Em 2017, surge a segunda plenária, em que foi homenageada nossa liderança Rosane Kaingang. Na sequência, em 2018, ocorreram três plenárias das mulheres indígenas. Então, isso impulsionou o coletivo, a voz das mulheres indígenas para que realmente acontecesse a 1ª Marcha das Mulheres Indígenas. Mas antes disso, lá em 2014, em Campo Grande, surgiu a discussão para que houvesse essa marcha. Esse grupo deu referência à voz das mulheres indígenas em um projeto dentro da ONU. Começaram lá as discussões e o planejamento para essa marcha que vai acontecer”, explica Telma.
A indígena explica que a questão da saúde é central porque as mulheres acabam sofrendo mais, ao lado das crianças e idosos, com o quadro de desassistência piorado, com relação aos outros governos, no atual governo. “O foco, objetivo da marcha é dar visibilidade às ações das mulheres indígenas do Brasil, discutindo questões inerentes às suas realidades, reconhecendo esse protagonismo. E que a gente possa também dar às novas lideranças a capacidade, a defesa e a garantia dos seus direitos humanos. A nossa resistência ela sobrevive porque estamos vivas, nós somos a resistência”, conclui Telma.