Lideranças Mura denunciam ameaças de morte
Com as ameaças de morte, a destruição das roças e o direito de ir e vir cerceado, os indígenas temem pela vida na aldeia
A tuxaua da Terra Indígena Patauá, Gloria Batista Pinheiro, de 53 anos, denunciou à Advocacia Geral da União (AGU), em Manaus (AM) no último dia 12/08, que um fazendeiro da região está ameaçando de morte moradores da localidade. Ela também reclamou da lentidão da Fundação Nacional do Índio (Funai), na apuração das denúncias por ela encaminhadas ao órgão.
Na aldeia Terra Preta, na Terra Indígena Murutinga, um fazendeiro da região e seu filho, que é vereador do município de Autazes, agrediram dois homens, um dos quais foi ferido na mão pelo fazendeiro com um punhal.
Patauá é uma das 18 terras indígenas de Autazes, município que fica localizado a 113 quilômetros de Manaus – a capital do Amazonas. Foi homologada em 05 de junho de 2003 com 765.285,10 hectares e está cercada por fazendas.
“O fazendeiro passou a trancar o portão da aldeia e estaria proibindo os indígenas de abrir”
Ao Procurador Federal, Mateus Antunes de Oliveira, a tuxaua Gloria Batista, acompanhada de outros moradores, relatou que o fazendeiro teria colocado um cadeado no portão na estrada de acesso a aldeia. Ele passou a trancar o portão e estaria proibindo os indígenas de abrir. Segundo relatou a tuxaua ao Procurador Federal, o fazendeiro ameaçou atirar em quem abrisse o cadeado.
No último dia 5, o fazendeiro teria entrado na casa da senhora Mariuza Machado da Silva e ameaçado de morte seu filho Euvileno Machado da Silva, de 21 anos. A causa teria sido o rompimento do cadeado do portão. O Jovem havia saído no dia anterior para fazer um curativo na mão e, no retorno, à noite, rompeu o cadeado que um funcionário da fazenda teria fechado a mando de seu patrão no fim da tarde.
Outro episódio de ameaça aconteceu em junho passado. Ali também o fazendeiro adentrou a casa da senhora Mariuza Machado e ameaçou diretamente Anderson da Encarnação Moreno, de 31 anos, porque o jovem estaria pescando de caniço num lago entre a terra indígena e a fazenda que é reivindicada como parte da propriedade pelo fazendeiro. “Ele disse que tinha um revolver com 20 balas. Se ele estivesse portando o revolver naquela hora teria disparado todas as 20 balas em Anderson”, conta a tuxaua Gloria Batista.
“Ele disse que tinha um revolver com 20 balas. Se ele estivesse portando o revolver naquela hora teria disparado todas as 20 balas em Anderson”
Segundo ela, as ameaças começaram em março passado, quando assumiu a liderança da aldeia. Uma das causas dos conflitos é a destruição que búfalos do fazendeiro em questão fazem nas plantações da aldeia. Esse problema ocorre há vários anos, mas era tolerado pela liderança anterior. Agora, com as ameaças de morte e a destruição das roças, alguns moradores pensam em deixar a aldeia.
O caso foi denunciado à Fundação Nacional do Índio (Funai) há cerca de dois meses, mas não teve atenção por parte da Coordenação Técnica Local (CTL), com sede em Autazes, nem da Coordenação Regional, sediada em Manaus.
Após a denúncia feita a AGU, funcionários da Funai propuseram aos indígenas uma audiência na fazenda, na aldeia ou na sede da CTL de Autazes. A tuxaua Glória Batista diz que os indígenas não aceitam a proposta da Funai e reclama que “não temos a atenção da FUNAI que deveríamos ter”.
Na Aldeia Terra Preta as invasões e ameaças são constantes
Dois homens foram atacados a murros e um deles ficou ferido na mão com um corte de punhal. O fato aconteceu no último dia 9 na aldeia Terra Preta, localizada na terra indígena Murutinga, no município de Autazes.
Conforme denúncia registrada no Ministério Público Federal sob número PR/AM-00040839/2019, um fazendeiro e seu filho chegaram na aldeia onde moradores limpavam uma área próxima ao porto da localidade. Após uma discussão sobre limites entre a aldeia e a fazenda, o vereador desferiu murros em Adailton Batista e partiram para luta corporal. Nesse momento, o fazendeiro, portando um punhal, tentou desferir um golpe no indígena, mas foi contido por Arailton Pinheiro, que teve a mão cortada pela arma.
Não satisfeito, o fazendeiro ainda se armou com um facão e, depois, com uma enxada, tendo sido contido pelos indígenas.
Os indígenas da aldeia Terra Preta temem que os irmãos atacados pelo fazendeiro e seu filho sofram alguma violência. Um deles, temendo as ameaças de morte, já se retirou do local.