Em marcha histórica, mulheres indígenas afirmam que irão ocupar todos os espaços
I Marcha das Mulheres Indígenas reúne cerca de 3 mil mulheres na Esplanada dos Ministérios em defesa de seus corpos e territórios
Com o tema “Território: nosso corpo, nosso espírito”, cerca de três mil mulheres indígenas saíram em marcha nesta manhã, 13, em Brasília. Suas cores, seus cantos e rituais deram o tom da marcha e das denúncias. A marcha, que percorreu a Esplanada dos Ministérios, foi composta por mulheres indígenas de aproximadamente 115 povos, vindos de todas as regiões do país, que com suas próprias mãos constroem a I Marcha das Mulheres Indígenas, sua história de luta e empodeiramento.
As mulheres indígenas voltam a Brasília para colorir a luta popular, também com o urucum e o jenipapo, e para dizer que as mulheres não vão aceitar a política genocida do governo de Jair Bolsonaro, que tem um vasto histórico de declarações e medidas adotadas contra os povos indígenas. O presidente foi criticado também pelo desmonte da educação e saúde indígena, o descaso para com o meio ambiente e demarcação dos territórios tradicionais e as insistentes tentativas de liberar a mineração em Terras Indígenas, inclusive em áreas já demarcadas.
“Bolsonaro declarou guerra não só com os povos indígenas, mas com as mulheres indígenas”
“Desde que Bolsonaro disse que não haveria mais nenhum centímetro de terra demarcada para os povos indígenas nós saímos em marcha porque, com essa afirmação, ele declarou guerra não só com os povos indígenas, mas com as mulheres indígenas”, afirma Sonia Guajajara, da coordenação da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib).
Com o propósito de construir um território só, em luta e resistência as mulheres se juntam. Auricélia Arapiun, do Baixo Tapajós destaca a importância das mulheres se reunirem em corpo e espírito em defesa dos territórios. “Viemos nos juntar com as parentas de todo Brasil, porque somos um território só e não será este governo que irá abafar nossas lutas, apagar nossa história, nossa resistência. Nos juntamos a milhares de parentas em um só espírito, uma só alma, com a força dos nosso ancestrais para dizer não aos retrocessos, e que nós mulheres seremos resistência”, explica Auricélia que também é vice coordenadora do Conselho Indígena Tapajós Arapiuns (CITA).
“Viemos reivindicar o que está na Constituição e é nosso direito”
Para as indígenas, o território é o corpo e o espírito do mundo inteiro. Além de um significado político, a marcha é um espaço de troca que busca mostrar que mulheres e homens podem e lutam lado a lado por seus direitos, diz Patrícia Kamayara, do Xingu. “Viemos reivindicar o que está na Constituição e é nosso direito”.
Além da Marcha, as mulheres participaram da Sessão Solene em homenagem à Marcha das Margaridas e Indígenas na Câmara dos Deputados, onde afirmaram sua resistência enquanto mulheres. “Nós, mulheres indígenas, somos jardim, somos tronco dessa luta”, argumenta Cristiane Pankararu. Em seguida estiveram em audiência pública na Câmara dos Deputados com o objetivo de debater sobre os direitos dos povos tradicionais.
Durante os cinco dias da mobilização, as mulheres indígenas buscam dar visibilidade às suas ações, discutir questões inerentes às suas diversas realidades, reconhecendo e fortalecendo os seus protagonismos e capacidades na defesa e na garantia dos direitos humanos. No dia 14, a Marcha das Mulheres Indígenas se junta à Marcha das Margaridas, que está em sua 6ª edição, com o lema “Margaridas na Luta por um Brasil, com Soberania Popular, Democracia, Justiça, Igualdade e Livre de Violência” e busca reunir, camponesas, trabalhadoras rurais, quilombolas, ribeirinhas, sem-terra.